Exodus: crítica de Blood In Blood Out (2014)

O crescimento do mercado classic rock/metal e o aumento da demanda por bandas que se encaixam nessa denominação mudou o curso da carreira de diversos grupos. O Exodus é um deles. Os últimos anos da banda liderada pelo guitarrista Gary Holt foram excelentes artisticamente. De Tempo of the Damned (2004) até Exhibit B: The Human Condition (2010), o quinteto da Bay Area emplacou uma sequência de quatro excelentes álbuns de estúdio, isso sem contar Let There Be Blood (2008), regravação do clássico Bonded by Blood (1985) com os vocais de Rod Dukes, dono do posto até então.

Mas como o que importa é o passado e não o futuro, o que vale é o que os fãs querem e não as possíveis pretensões artísticas dos músicos, lá veio a mudança: mandaram o ótimo Dukes embora e chamaram de volta o intempestivo e encrenqueiro Steve Zetro Souza, fora da banda desde 2004, após participar do petardo Tempo of the Damned. Algo semelhante, para termos de comparação, ao que o Anthrax fez ao dispensar John Bush e chamar de volta Joey Belladonna. 

Com tudo isso explicado, vamos aos fatos: o novo disco do Exodus, Blood in Blood Out, explica com perfeição o que é uma parcela do metal e do mercado fonográfico atual. Ele é voltado para fãs saudosistas, para pessoas que tiveram a banda como parte importante de suas vidas e buscam resgatar este sentimento. Nada contra, mas fica claro que a banda, com esse movimento, trabalha buscando apenas o contentamento desses fãs, não fazendo o mínimo esforço para cativar novos ouvintes. E dá-lhe fórmulas feitas: “blood" pra lá, “blood” pra cá (o culto a Bonded by Blood parece que forçou o Exodus a colocar a palavra em praticamente todos os seus discos …), participações especiais (o ex-Kirk Hammett, que deixou a banda em 1983 pra fazer história e fortuna, e Chuck Billy, vocal do Testament) e regravação de um "clássico" obscuro do metal oitentista (no caso, “Angel of Death”, do Angel Witch). 

As canções vão na mesma pegada, seguem o mesmo posicionamento. São faixas que não são ruins, mas que também não dizem muito aos ouvidos da maioria. Thrash com pegada clássica, deixando totalmente de lado as doses certeiras de groove que haviam turbinado a música do Exodus nos últimos anos, deixando-a muito mais agressiva e pesada. Soma-se isso ao fato de Zetro Souza fazer parte daquela parcela de fãs de Pato Donald que cantam em bandas de metal (e que, particularmente, não me agradam), e temos um resultado final apenas mediano. Fiquei imaginando, enquanto o play rolava, em como o timbre de Dukes casaria muito melhor com as composições, mas essa não foi a escolha de Holt e companhia.

Entre as onze faixas, alguns destaques óbvios: a música título, “Collateral Damage” (a melhor, com coros no refrão que resgatam as influências punk e hardcore da música do Exodus), “Salt the Wound”, com Kirk e Gary desafiando-se nas seis cordas, e “Food for the Worms". “BTK”, canção que conta com a participação de Chuck Billy, acaba decepcionando pelo pouco uso do cantor do Testament, que fica restrito ao refrão.

Olha, tem gente que vai adorar Blood In Blood Out e afirmar aos quatro ventos que trata-se de um dos melhores álbuns do Exodus. Não é o meu caso. Achei o disco apenas mediano, com um foco demais no passado e com o objetivo claro e evidente de agradar apenas os fãs mais saudosistas. No final das contas, não dá para criticar duramente a banda por seguir este caminho, afinal, no mercado atual, pouquíssimos ouvintes ainda gastam seu dinheiro em LPs e CDs, e a grande maioria deste povo é formado por bangers das antigas e que ainda não foram seduzidos por outras formas de consumir música, como o streaming, por exemplo. Assim, o Exodus reenquadra a sua carreira e foca exclusivamente em um público, deixando de lado todo o restante. Uma estratégia discutível e até certo ponto suicida, mas que terá seus defensores, principalmente aqui no Brasil, onde o mercado gira sempre ao redor dos mesmos nomes.

Ouça, mas não espere nada de outro mundo.


Nota 6

Comentários

  1. Tive a mesma impressão sobre o novo álbum do Exodus, estava esperando um trabalho na altura dos anteriores.

    Com a saída do Rob Dukes já vi que alguma coisa tinha mudado na banda, e dá pra entender o por que de trazerem de volta o Steve Zetro, os fãs saudosistas devem estar adorando não foi só o som do álbum novo que esta revisitando o passado até o setlist dos shows.

    Me neguei a ir ao Circo Voador assistir ao show deles, você vê que o repertório é todo focado nas músicas antigas e deixaram de lado os excelentes álbuns com o Rob no vocal, pra mim é uma pena pois a banda estava em ótima fase e lançando um álbum melhor que o outro.

    O álbum novo passou batido não digo que ele é ruim, porém é tão mediano e sem graça que eu prefiro pular ele na discografia da banda.

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  2. Lendo seu texto, me deu a impressão que você já tinha formado a sua opinião antes mesmo de escutá-lo, encaixando dentro da sua tese anti-nostálgica.

    Sou mais a crítica da Metal Hammer deste mês, que dá pra ser resumida na ótima frase "Zetro, but not retro".

    Olha, eu também sou fã pra caramba do Rob Dukes e fiquei chateado com a saída dele, mas pelo que o Gary Holt vem afirmando, era o cara que não estava muito animado com o material. Só o próprio Dukes pode afirmar ao contrário, resta esperar.

    Dê mais uma chance ao disco, que é espetacular, sem preconceitos.

    O velho e o novo podem conviver muito bem, não são excludentes!

    Só outro detalhe: o Anthrax não dispensou o John Bush. Depois da encrenca com o Dan Nelson, eles chamaram o Bush de volta pra banda e chegaram até a tocar em um festival na Inglaterra. Foi o Bush que recusou a volta, aí tiveram que chamar o Belladonna para a tour Big 4. E vamos dar o crédito devido: o cara detonou no Worship Music!

    Abração



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  3. Fabian

    Como acontece as vezes de não gostar do álbum no momento e um tempo depois acabo apreciando, engavetei ele e futuramente ouvirei novamente para ver se mudo de opinião, apesar de achar difícil.

    O caso do Bush achei que o cara ficou magoado, por que na verdade eu acho que nos bastidores essas trocas estão mais envolvidas em dinheiro do que qualquer outra coisa.

    Não sei se você lembra o Anthrax tinha resolvido fazer uma turnê com a formação do Among the Living com o Belladonna e o Spitz depois da turnê eles saíram fora e o chamaram o Bush de volta que fez só uns shows e não quis mais.

    Eu gostava muito do Bush, mas até que o Belladonna ta mandando bem.

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  4. Também posso estar empolgado com o disco por ter visto o Exodus há algumas semanas atrás e o show foi realmente muito bom, um verdadeiro atropelamento.

    Quanto ao Anthrax, com certeza o Bush ficou puto com a reunião de 2005, os caras vinham em ótima fase com o We've Come For You All. Mas no meio tempo o cara teve filho e virou locutor dos comerciais do Burger King nos EUA, você sabia? Com ceretza ganha mais dinheiro com isso do que com a música.

    Abração!

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  5. Não sei como alguém pode achar o genérico vocal do dukes "ótimo". Cantores que nem ele tem aos milhares por aí. Finalmente poderei agora ouvir Exodus novamente. Dukes já foi tarde

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