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“The Motherload”, do Mastodon, apitava nos ouvidos. O fone transbordava os riffs, a batida, o vocal, pra todo mundo ouvir. E quem escutava aquilo instantaneamente parava, hipnotizado pela banda norte-americana.
No limite entre o metal e o stoner, a faixa que veio a seguir manteve não apenas a qualidade lá em cima, mas, principalmente, a cabeça nas nuvens. É interessante, e não deixa de ser um pouco mágico, a maneira como os suecos do Witchcraft conduzem a sua música, principalmente as faixas que estão em Legend, de 2012. O vocal sem pressa de Magnus Pelander vai levando o ouvinte sempre na boa, sempre com classe, sempre por caminhos coloridos e que se abrem lentamente. “An Alternative to Freedom” é talvez o melhor exemplo desse poder mutante do grupo: sabbathiana mas ao mesmo tempo witchrafitiana até os ossos.
E então surge a avalanche. Ainda que Dave Holland tenha se perdido em seus próprios desejos e hoje cumpra pena por assediar menores de idade, sua bateria era uma das marcas registradas do Judas Priest. Não era a overdose percussiva de Scott Travis, e isso é um elogio. Era mais simples, menos pretenciosa, mais na linha do que a música da lendária banda britânica pedia. Ouça “Desert Plains”: tudo está ali.
Outro ponto é que, por mais que você viaje o mundo, rode o planeta e vá para tudo que é lugar, o Black Sabbath vai estar sempre junto de você. Pode não ser diretamente, mas ele estará ali, pode crer. Metamorfoseado, transformado, reinterpretado, atualizado por uma leva de músicos mais jovens. Como os norte-americanos do The Sword, que fizeram essa releitura com perfeição em Apocryphon, disco que lançaram em 2012. E, como cereja do bolo, colocaram algumas gotas de Thin Lizzy na mistura, resultando em maravilhas como “Arcane Montane”, onde o peso e a melodia soam como irmãos siameses. Daquelas músicas que você ouve e sempre irá voltar: pra recordar, pra sangrar, pra limpar a mente.
Como acontece comigo, com você e com o cara que está aí ao seu lado: nós três sempre pegamos o Vol. 4 e colocamos “Snowblind" pra pulsar. Eu sei disso, você sabe, ele também. Porque aquilo é como magia: não envelhece, não cheira a mofo - apesar de ser uma homenagem à habitante mais fiel das vias nasais do quarteto formado por Ozzy, Tony, Geezer e Bill.
E, como eu disse no parágrafo acima deste que está acima, você pode ir para os pontos mais distantes que imaginar e o Black Sabbath seguirá com você. E ele pode vir fantasiado em um quarteto de quatro gordinhos barbudos orgulhosamente gays que atendem pelo nome de Torche e fazem um som não menos que excelente e pesadíssimo.
Ou então, mergulhando Europa adentro e penetrando nas trincheiras alemãs, após uma generosa caneca de cerveja você dá de cara com o Restless & Wild do Accept e sua espetacular faixa-título, onde o peso e a melodia - eles novamente, como sempre tem que ser - funcionam de maneira tão inesquecível que você nem se dá conta que o vocal é de um primo nem tão distante do Pato Donald.
Para então ser subitamente puxado por uma máquina do tempo sombria e apaixonante e ser largado no meio do Egito antigo, acompanhado apenas do seu celular e de um potente fone de ouvido. E, ao dar play, perceber que “Demigod" do Behemoth é a trilha perfeita para tomar várias ao pé das pirâmides enquanto imagina tropas de soldados se matando e se trucidando bem na sua frente.
E ela volta novamente e te leva mais para o passado ainda, vestindo seu corpo com uma armadura e te largando no meio da Inglaterra medieval enquanto “Triumph and Power” do Grand Magus esmaga seus tímpanos e os templários e toda a turma correm em sua direção, curiosos e hipnotizados por aqueles riffs marciais.
Mas eis que surge a mão de Max e o braço de Troy e te trazem de volta para a realidade, conduzindo as suas emoções através de “Wings of Feather and Wax”, faixa de abertura do disco do Killer Be Killed - onde, de novo e outra vez, a melodia e o peso são os protagonistas de outra canção não menos do que ótima.
E, assim, o texto chega ao fim - mas a música segue rolando, sempre.
Por Ricardo Seelig
Texto Sensacional. Só citou grandes bandas, que eu curto demais. Sem ser puxa saco, mas textos deste gabarito a gente só encontra aqui.
ResponderExcluirShow Ricardo,muito legal o texto.Grandes bandas cujo trabalho eu conheço graças a Collectors,um salve pra vc,parabéns pela alta qualidade do trabalho e obrigado!
ResponderExcluirBelo texto, mas em relação ao Torche, creio que apenas o vocalista e guitarrista Steve Brooks seja gay. Não que isso tenha alguma importância, apenas uma correção. Abraço.
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