O Joy Division influenciou de maneira definitiva o rock da década de 1980. A força de sua música consistia em resgatar o espírito soturno de preciosas antiguidades como Doors, Velvet Underground e Stooges, e aliá-lo ao som inovador feito por David Bowie (na fase alemã) e Kraftwerk nos anos 1970. Tudo isto dentro de um estilo próprio que, a princípio, lidava com elementos do punk e depois evoluiu para uma espécie de antítese de heavy metal mesclada a sons sintetizados. Através de componentes sonoros normais e despojados, eles transformavam a soma de pequenas partes em um grande todo.
Ian Curtis (voz), Bernard Sumners (guitarra e teclados), Peter Hook (baixo) e Stephen Morris (bateria) jogavam a última pá de terra sobre o romantismo do rock. Não há resquícios de paz, amor e esperança nas letras de Ian Curtis. Elas são apenas observações sobre a condição humana em um mundo dominado pela miséria e o desespero.
Tudo em Closer é enigmático. A capa, as letras e, sobretudo, o som. Se no primeiro álbum, Unknown Pleasures (1979), a música soa densa e pesada, em Closer eles optaram por uma linha diferente. O disco foi gravado sob uma abóbada de estuque especialmente construída com a finalidade de conseguir a ressonância de uma capela. O som é vazio e distante, com ênfase em sintetizadores estranhamente colocados. A voz de Curtis, ainda mais cavernosa, vomita os versos de forma lúgubre e levemente desafinada.
Não há indicação dos lados do disco no encarte ou no selo. Escolho um deles, o que começa com "Heart and Soul". Ian canta: "Instantes que podem trair-nos / Uma jornada que conduz ao sol / Sem alma e voltado à destruição / A luta entre o certo e o errado". O clima se torna terminal em "Twenty Four Hours": "Apenas por um momento / Ouvi alguém chamar / Olhei além do dia presente / E não havia nada lá afinal". Em "The Eternal", por entre baixo, bateria e teclados esparsos Ian conduz um desfile de imagens bucólicas e fúnebres. A faixa que encerra este lado, "Decades", serve de tema e empresta seu primeiro verso como título do único vídeo da banda ("Here Are the Young Men"), impressionante tanto pela falta de apuro técnico como pelas imagens do grupo ao vivo envolto em sombras.
O outro lado é aberto por "Atrocity Exhibition", baseada num livro homônimo do escritor inglês J.G. Ballard, a quem Curtis admirava. Continua com "Isolation", um mergulho nos abismos da solidão com versos como "Rendido à autodefesa / Daqueles que só se preocupam consigo mesmos / Mas quando a vida alcança a perfeição / Ela se parece com todo o resto". Em "Passover", Ian tristemente finaliza: "Esta é a crise que eu sabia que vinha / Destruindo o equilíbrio que eu tinha / Encaro o próximo monte de mentiras / E imagino o que virá depois".
Depois vem "Colony", um elogio à loucura embalado em uma armação pseudo heavy. Este lado termina com "A Means to an End", onde Curtis despede-se de maneira melancólica: "Uma casa em algum lugar em solo estrangeiro / Aonde amantes magoados chamam / É esta a sua meta, seus objetivos finais / Aonde comem os cães e os abutres? / Ainda posso e vou partir / Eu confiei em você".
Logo após ter completado este disco, Ian Curtis se enforcou em 18 de maio de 1980, aos 23 anos. Seria o fim do Joy e o começo de uma nova ordem.
(Texto escrito por Celso Pucci, Bizz#024, julho de 1987)
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