Humor involuntário e paixão exacerbada: mais exemplos de como eram os textos nos primeiros anos da Rock Brigade
Há algumas semanas, publicamos um post mostrando como eram as resenhas de discos da revista Rock Brigade durante a década de 1980. Hoje, trazemos mais alguns exemplos, onde o discurso equilibra-se entre o humor involuntário e a paixão exacerbada.
Anthrax - Fistful of Metal
Forjado na mais avançada usina siderúrgica do mundo, a cabeça dos cinco cães selvagens as quais chamam Anthrax. Um verdadeiro torpedo da música pesada. Fruto da população filha da puta de Nova York, eles se manifestaram na tribo heavy metaleira já babando pelos cantos da boca, cuspindo fogo e adrenalina como a boca do dragão. A idade dos Anthrax gira em torno dos 18 anos, o que não deixa de ser um orgulho para a banda. A quarta música se chama “Panic”, e olha, sem que ninguém nos ouça, será que este baterista não toca dopado, não? Porra, um sujeito de “careta limpa” não faz isso que ele está fazendo nem por cinco minutos. A velocidade dos dois bumbos é tamanha que só de ouvir dói as pernas. Dá câimbras. Talvez esteja pensando mal do garoto, más pra PQP, vá estourar assim lá na pedreira do capeta. Das bandas de metal da última geração, o Anthrax certamente será uma das gigantes da nossa era. Ainda vai provocar o desaparecimento de muito valentão por aí. A continuar desta forma a ordem do metal, não reluto em dizer que em poucos anos nem nós vamos suportar a tirania do metal. Mas isso é profecia. Está fora do nosso controle.
Manowar - Hail to England
Salve, Inglaterra! Os que vivem para o metal te saúdam. O clamor da batalha ruge alto em todo o seu furor. Espadas e lanças afiadas pelo demônio despedaçam e dilaceram corpos de colossais guerreiros. ‘Hail to England, hail, hail, hail’, bradam os invasores, oferecendo suas vítimas em sacrifício a seus deuses, pedindo-lhes para fortalecer ainda mais suas legiões metálicas. Homens de guerra protegidos por sua couraça de metal. Invencíveis, magníficos, determinados a destronar os falsos reis do metal. O vento negro desfralda seu estandarte de encontro aos céus. Sua música cortante é capaz de gerar pânico entre os mercenários coletores de dólares, pois é a própria personificação do poder. Assinaram com sangue seu destino e selaram no metal sua sorte. Manowar, uma história épica para o metal como a narração da Odisséia por Homero o é para a mitologia. Eric Adams comanda os vocais com inspiração divina, transformando, assim, suas interpretações em cantos guerreiros descarregando o ar de seus poderosos pulmões com um poder inumano, urrando para a eternidade. O vento negro do Manowar siliba pavoroso por entre o som dos tambores massacrados pelo pulso devastador de Scott Columbus. Guerra pela supremacia do que existe de mais puro no cosmo: o heavy metal! Mate com poder, arraste e empurre para a sepultura tudo o que não presta.
Ozzy Osbourne - Bark at the Moon
Após devorar a cabeça de um morcego, o público delirou. Após explodir porcos com TNT nos fundilhos, a plateia abismou-se e ele tomou processo por isso. Após se fantasia com penas e rasgá-las logo que entrava em cena, daí começou a decair e ganhou um apelido aqui no pedaço: Ozzy Osbournay. Ele canta com tão pouco força de expressão que se parece mais com um bocejo do que com uma afirmação marcante. Além de preferir agora dar mais importância ao visual do que ao seu trabalho musical. Só vale a pena comprar este LP se você é fã de Ozzy a extremos de acreditar que ele voltará a ser como antes.
Metallica - Ride the Lightning
James Hetfield encaixa riffs com tamanha velocidade e precisão tal qual uma máquina encaixa suas centenas de cigarros em seus pacotes, sem uma única falha na produção. Kirk Hammett sola com tamanha tirania que Van Halen soa como animador de festas. O baixo de Cliff Burton e os bumbos de Lars Ulrich, juntos, compõe a mais perfeita banda de metal surgida nesta década de 80, e talvez uma das mais técnicas de toda a história do metal pesado. Desde a sua atômica aparição em 18 de setembro de 1982 até hoje, o Metallica tem tocado o suficiente para destronar qualquer ocupante do trono do verdadeiro e puro heavy metal underground. Não gostam de visual colorido. São cabeludos como a natureza os criou, e selvagens como a cultura os ensinou.
Iron Maiden - Powerslave
Fugi, falsos metaleiros! Escondei, usurpadores do Metal! Aproximai-vos, metaleiros de fé, pois a Donzela de Ferro retornou, e voltou para nos vingar. Insuperável, imbatível, inigualável, inabalável. Perfeito. A prova definitiva de que o metal pode vender bastante, sem ser apelativo e comercial. O som, o peso, a música, as letras, falam por si. Nicko, agora sem a sombra do grande Clive “usina de força” Burr, tem o nariz cada vez mais amassado e os punhos mais fortes. O duo Murray/Smith arregaça de vez as mangas e estão melhores do que nunca. Mr. Harris ultrapassa qualquer contendor. Agora, o nosso amigo fanático por esgrima, o “boquinha de siri”, para esse é difícil arranjar os elogios. Que coisa, é do tipo raro de sujeito que nasce predestinado a mudar alguma coisa na face da Terra. Seu brilho parece não ter fim. Infindável parece a sua ascensão.
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