As pessoas podem não gostar dos caminhos que o Metallica tomou, em termos de sonoridade, com o passar dos anos. Porém, não dá para acusar a banda de ter se acomodado em uma fórmula, mesmo que alguns assim desejassem. Desde o thrash puro de Kill ‘Em All, passando pela revolução de Ride the Lightning, a afirmação em Master of Puppets e a polêmica guinada de … And Justice For All, o grupo sempre buscou novos caminhos. Portanto, apesar de ter desagradado os mais conservadores, não foi lá uma grande surpresa a lógica de James Hetfield e Lars Ulrich ao buscar o emergente Bob Rock para produzir o trabalho seguinte.
O principal interessado foi justamente o baterista, impressionado com a sonoridade do instrumento de Tommy Lee no álbum Dr. Feelgood, do Mötley Crüe. Até então, Robert Jens (nome verdadeiro do figura) não havia colaborado com um grupo tão heavy – situação que não mudaria posteriormente.
Justamente por esse encontro de mundos diferentes, as sessões de gravação tiveram momentos tensos. Nem sempre foi fácil para o quarteto acatar as ideias propostas pelo comandante do processo, que por sua vez, encontrava dificuldades para lidar com uma equipe tão fechada em suas convicções. Não à toa, o disco foi remixado três vezes, o que custou um milhão de dólares à gravadora. Rock pressionou para que os músicos compusessem mais em conjunto, além de incentivar Hetfield a escrever mais letras sobre suas experiências pessoais. Literalmente apagado de sua estreia, o baixista Jason Newsted foi muito mais valorizado na nova empreitada, já que Bob valorizou a sessão rítmica, encorpando a sustentação para que as guitarras tivessem mais liberdade nos riffs e solos. Três também foram os divórcios no período. Apenas o frontman não passou pelo litígio conjugal. Muitas vezes, o atrito gera resultados, como parece ter sido o caso.
Inicialmente, a ideia era chamar o disco de Five – pelo motivo óbvio de ser o quinto full-length. Depois, se pensou em escolher alguma das músicas como faixa-título. No fim das contas, a opção foi pelo caminho mais simples e direto, não apenas no título. Metallica ganhou uma capa preta, com o logo da banda em relevo e uma cobra quase escondida na ilustração. Ela é derivada da bandeira de Gadsden, um das mais históricas dos Estados Unidos, com o lendário lema “Don’t Tread On Me”, que dá nome a uma das canções do play. Embora muitos entendam a estrutura gráfica como referência a Back in Black, do AC/DC, os próprios membros da banda citam Smell the Glove, da banda fictícia Spinal Tap, como inspiração em forma de zoeira. Com todos esses predicados, nasceu o apelido pelo qual é conhecido até hoje: Black Album. Afinal de contas, White é o dos Beatles.
A sonoridade foi simplificada, contendo várias influências de hard rock. O que, para alguns, pareceu uma proposital guinada para algo mais radiofônico, foi explicado por Lars e James como o entendimento de que haviam alcançado o máximo que podiam àquela altura com músicas longas e elaboradas em … And Justice For All. O novo caminho pode ter descontentado alguns. Porém, arrematou toda uma nova base de fãs, que não para de crescer até hoje. Não são poucos os fãs de rock pesado, em geral, que tiveram sua primeira experiência no estilo com este disco. Afinal de contas, se trata de um trabalho que conserva características de peso, aliadas a melodias acessíveis e execução primorosa. E a produção, embora seja um pormenor para o fã com ouvidos menos apurados, inegavelmente é superior, tendo se tornado referência a tudo que foi feito a partir de então.
Cinco músicas foram lançadas como single. Pela ordem: “Enter Sandman”, “The Unforgiven”, “Nothing Else Matters”, “Wherever I May Roam” e “Sad But True”. Todas se tornaram clássicas, fazendo parte do setlist dos shows até hoje. As outras sete também são altamente recomendáveis.
Metallica, o álbum, chegou ao número um das paradas dos Estados Unidos, Inglaterra, Canadá, Suíça, Noruega, Nova Zelândia, Alemanha e Austrália. É o disco mais vendido da era Soundscan, que fiscaliza os números da indústria musical desde 1991. Mundialmente, estima-se que já tenha chegado a 30 milhões de cópias comercializadas.
Para alguns, foi o começo do fim. Para outros, a afirmação definitiva de uma das maiores bandas da história. De um modo ou de outro, não dá para negar o valor histórico. Especialmente a angariar uma multidão de novos fãs ao estilo que os protagonistas carregam no nome que usam em conjunto.
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