O melhor álbum do Fleetwood Mac que ninguém ouviu


O Fleetwood Mac tem uma trajetória interessante. Começaram como uma banda de blues que rapidamente angariou respeito e que Jimmy Page já definiu como "a melhor representação do blues britânico”, para depois alcançarem nos 70's - com formação diferente, sobrando dos originais, apenas Mick Fleetwood (bateria) e John McVie (baixo)- uma célebre posição entre os gigantes da música pop da época.

Se a primeira fase da banda é hoje objeto de culto e o ápice pop da segunda metade dos anos 1970 é alvo de amor e ódio - não falta quem esbraveje que o Mac só prestou quando era uma banda de blues, o que é uma grande besteira, é claro -, o período intermediário, de transição entre essas duas fases, segue ignorado, o que é uma pena, pois rendeu dois dos melhores registros do grupo (e arrisco, da década): Future Games (1971) e Bare Trees (1972). É sobre este último que escrevo hoje.

Após a debandada de Peter Green e depois, de Jeremy Spencer (que saiu para "comprar uma revista" e nunca mais voltou), um Mick Fleetwood profundamente desapontado e desesperançoso pensava em por fim à banda, que na época ainda contava com John McVie, Christine McVie e Danny Kirwan. Aqui temos o aparecimento de uma figura crucial para a história do Fleetwood Mac no período: Bob Welch. Bob, segundo o próprio Mick, "salvou a banda", reanimando-o, impelindo-o a seguir.

Acrescidos então de Welch, o grande mérito dessa nova formação foi colocar o Fleetwood Mac musicalmente nos trilhos que os conduziriam mais tarde à amálgama sonora com que se alojariam na constelação das super estrelas.


O álbum abre com "Child of Mine" (Danny Kirwan), rockão energético e empoeirado safra 1969-70, que traz excelente performance de todos os músicos, em especial um ótimo trabalho de guitarras. O disco segue com "The Ghost" (Bob Welch), uma das grandes pérolas perdidas dos anos 1970. O grande trunfo da música, na verdade de todo o álbum, é a ênfase no clima, o primor na construção de uma ambientação orgânica. 

O trabalho ainda comporta um modesto sucesso, "Spare a Little Bit of Your Love”, de autoria de Christine McVie. Também é dela "Homeward Bound". Suas duas únicas músicas no registro, mas que já apontam para o estilo de songwriting que ela iria desenvolver mais plenamente à frente e mostram o refinamento gradual de sua habilidade de compor boas canções pop. "Sunny Side of Heaven" é um número instrumental quase sublime, com as guitarras se harmonizando delicadamente num crescendo suave que, por fim, conduz a alma ao gozo.

Mas o gozo maior vem com "Dust" (Kirwan). Melhor música do disco e top 5 do Fleetwood Mac em qualquer formação, “Dust" tem letra tirada de um lindo poema homônimo de Rupert Brooke e possui aquele tipo de atmosfera capaz de causar arrepios e espasmos, acabando por cravar Danny Kirwan como a grande estrela do disco. 

A faixa-título e "Danny's Chant" fecham o cota de músicas de Kirwan no álbum. Ainda temos a versão original de "Sentimental Lady" de Welch, que mais tarde viraria hit do soft rock quando lançada como single de French Kiss, seu primeiro álbum solo. A versão aqui presente, arrisco, é mais inspirada.  O LP, por fim, fecha com "Thoughs on a Grey Day", um poema cuja leitura é creditada à "Mrs. Scarrott". 

A belíssima capa do disco traduz bem a alma do álbum. Uma bluma pairando sobre belas alamedas. Uma metáfora de alma sutil. A beleza na capacidade humana de continuar resistindo e resistindo em tempos difíceis e, quem sabe, encontrar algo melhor no fim do nevoeiro. Um retrato fiel da banda naquele momento.

A esse disco se seguiu uma turnê de suporte, durante a qual Danny Kirwan sairia da banda. Dave Walker se juntaria a eles no álbum Penguin, deixando-os logo em seguida, e após este, o grupo remanescente ainda persistiria com Mystery to Me e Heroes Are Hard to Find. Em 1975, sem Bob Welch, tendo seu lugar ocupado pelo guitarrista/cantor/compositor Lindsey Buckingham e pela cantora e compositora Stevie Nicks, o Fleetwood Mac encontraria o fim de seu nevoeiro. Ou não.

Por Artur Barros

Comentários

  1. Mano, finalmente alguém que concorda comigo. Esse periodo de transição do Fleetwood Mac, quando estavam meio perdidos e largados no mundo, pra mim é ótimo. Também nunca li nada de positivo sobre o album Penguin, entretanto, pra mim soa como um ótimo álbum, parece que prepara o terreno para um recomeço. Parabéns pela matéria. Se tiver mais, me avisa!

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  2. na fase com o Peter Green,o primeiro disco é fantástico;Já o segundo (mr.Wonderful) é todo abafado,alem de ser uma sobras esquisitas do primeiro album. Do "then play on" até "o mystery to me" todos os álbuns são excepcionais!

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