Algumas palavras sobre o fim do Black Sabbath


13 de fevereiro de 1970. Uma sexta-feira. O dia em que o primeiro disco do Black Sabbath chegou às lojas do Reino Unido. O dia em que o heavy metal nasceu.

É claro que já havia rock pesado antes de Ozzy Osbourne (cujo nome saiu grafado com Ossie no LP original), Tony Iommi, Geezer Butler e Bill Ward lançaram o seu primeiro álbum. Nomes como Jimi Hendrix Experience, Vanilla Fudge, Blue Cheer, Cream, Deep Purple, The Who e Led Zeppelin já haviam amplificado o volume e o poder do gênero a um nível até então inédito. Mas nada que veio antes preparou os ouvidos da moçada para aquilo que o Black Sabbath trazia em suas canções.

Os acordes eram mais sombrios, tensos, soturnos. A música que batiza a banda e abre o seu disco de estreia dá medo e causa arrepios até hoje. O primeiro álbum do Black Sabbath apagou as luzes multicoloridas do Flower Power e apresentou uma nova maneira de fazer rock. Tão nova que até ganhou outro nome: heavy metal.

Os seis primeiros álbuns do quarteto são como seis grandes ensinamentos, pilares que trazem os arquétipos de praticamente tudo que o estilo exploraria nos anos posteriores, com cada vez mais intensidade e agressividade. Master of Reality (1971) é a essência do doom. Os riffs cavalgados de “Children of the Grave” são uma espécie de proto-thrash. Paranoid (1970), seu segundo disco, é uma quintessência de riffs. Vol. 4 (1972), o ápice dos exageros - químicos e todos os outros. Em Sabbath Bloddy Sabbath (1973), a incursão de novas influências e o flerte com diferentes gêneros mostrou a fórmula para ampliar e tornar a sonoridade ainda mais rica. E Sabotage (1975) é o canto do cisne da criatividade de uma formação que ainda gravaria dois discos - Technical Ecstasy (1976) e Never Say Die! (1978) - com bons momentos, mas longe do brilhantismo sem igual de outrora.

Sempre que penso no Black Sabbath, lembro da minha adolescência. Da época em que conheci a banda, quando tinha uns 15 ou 16 anos. E em como aquelas músicas e aquela energia mexeram demais comigo. Passava horas, dias, semanas, ouvindo apenas os LPs do grupo. E o que pensei ser uma experiência só minha, com o passar dos anos e o contato com diferentes pessoas dos mais diferentes lugares, se revelou uma sensação conjunta: todo mundo ficava fissurado nos riffs do Iommi e não conseguia ouvir outra coisa.

Ainda que a entrada de Ronnie James Dio tenha possibilitado ao Sabbath a exploração de caminhos mais complexos do que o esquema de cantar sempre junto com o riff, uma das marcas registradas da fase Ozzy, permitia, a sonoridade clássica e que mudou o mundo está nos primeiros álbuns e segue imortal. Heaven and Hell (1980) e Mob Rules (1981) são incríveis - principalmente o primeiro - e mostraram a reinvenção total de uma banda dada como acabada, mas a fina flor da pancadaria, da podridão e das luzes piscantes ligadas com fios desencapados está entre 1970 e 1975.

Tudo que veio depois, nasceu com o Black Sabbath. O rock mudou. O heavy metal nasceu. O mundo se transformou. O que ouvimos hoje quando colocamos um disco para tocar, seja ele de rock, metal ou até mesmo outros gêneros como pop e hip-hop, tem influência da banda. E mais importante do que isso: eles foram os pais do estilo que tanto amamos. Até existiria metal sem o surgimento do Black Sabbath, as coisas estavam caminhando para isso. Mas tudo soaria diferente sem o quarteto inglês, isso é inegável.

4 de fevereiro de 2017. Um sábado. O dia em que o Black Sabbath fez o último show de sua carreira, justamente na cidade onde nasceu: Birmingham. O dia em que o heavy metal ficou órfão.

Comentários

  1. Belo texto. Mas será que não é mais uma jogada de marketing? Há tantas bandas acabando e voltando que fica difícil de acreditar.

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