Review: Deep Purple - Infinite (2017)


Infinite é o vigésimo álbum de estúdio do Deep Purple, e uma adição surpreendentemente bem-vinda a uma discografia que já namora a marca dos três dígitos. Surpreendente porque, do alto de seus 49 anos de carreira (a banda foi formada em 1968), o lendário grupo segue lançando discos interessantes e que mostram que os músicos ainda possuem combustível para queimar. Quem escutou o trabalho anterior, Now What?!, de 2013, já havia percebido a boa fase do quinteto, que se mantém em Infinite.

Produzido por outro veterano da indústria, o canadense Bob Ezrin (um dos mais renomados produtores da história, responsável por clássicos de nomes como Kiss, Pink Floyd, Kansas e inúmeros outros), Infinite vem com dez faixas, incluindo entre elas uma inusitada versão para “Roadhouse Blues”, clássico do The Doors. Pra quem não acompanha o Deep Purple há alguns anos e não sabe como as coisas estão, ao lado Ian Gillan (vocal), Roger Glover (baixo) e Ian Paice (bateria) temos Steve Morse (guitarra, no grupo desde 1994 no posto anteriormente ocupado pelo temperamental Ritchie Blackmore) e Don Airey (teclado, substituto do falecido Jon Lord). Um time de respeito e muito azeitado.

Mesmo que as apresentações mais recentes do Purple tenham mostrado alguns problemas naturalmente vindos com a idade (a voz de Gillan não é mais a mesma e Paice ainda se recupera de uma isquemia), em estúdio esses percalços não tem vez e a banda soa criativa e na boa. É claro que estamos falando de um grupo com dois integrantes com mais de 70 anos, e cujo caçula (Morse) já está com 62 anos de idade, então não dá pra esperar a explosão sonora do passado. Porém, isso está longe de ser um problema. Usando a experiência a seu favor, o Purple repete a fórmula de Now What?! e entrega um disco gostoso de ouvir.


Em relação ao último disco, Infinite soa mais direto ao ponto, enquanto o anterior tinha passagens mais experimentais e que não agradaram a todos. Aqui, o papo é o hard sempre refinado do quinteto, rico em performances instrumentais acima de qualquer suspeita e que pega direto na memória afetiva. Você não vai ouvir um novo Machine Head, nem um novo Burn e muito menos um novo Perfect Strangers, até porque a banda já gravou esses discos e disse o que queria dizer naquelas canções. Mas você ouvirá um novo álbum forte e pulsante, um fato raro para uma banda com quase cinco décadas de carreira e que ainda sente a necessidade não só de se expressar artisticamente, mas até mesmo de se desafiar musicalmente.

Lançado em 7 de abril passado, Infinite tem recebido reviews positivos, e esse texto engrossa o coro. Ainda que uma parcela de ouvintes de música, sempre mais interessados na última novidade em evidência e deixando muitas vezes de lado a qualidade, prefiram se perguntar o porque de o Purple ainda gravar um álbum de inéditas a essa altura da carreira ao invés de curtir o merecido descanso, esse questionamento se responde sozinho em uma simples audição do disco. E vale lembrar outro ponto: bandas como o Deep Purple não possuem apenas músicos que estão na estrada há décadas, mas também fãs que acompanham o grupo há tanto tempo quanto. Afinal, se músicos de gêneros como jazz e blues registraram alguns de seus melhores momentos já na aurora de suas trajetórias, por que artistas de rock também não podem fazer o mesmo?

Infinite é, em suma, um disco honesto de uma banda que não precisa provar ou mostrar ou justificar nada. O negócio aqui é apenas música, verdadeira como ela sempre deve ser. Sem forçar e sem querer soar o que não é, o Purple inseriu mais uma bela adição ao seu catálogo.

Vale a pena ouvir!

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