Minha Coleção: heavy metal e muita paixão no acervo de Diego Colombo


Após três anos, estamos retomando as entrevistas com colecionadores de discos, o motivo pelo qual esse site nasceu e cresceu ao longo dos anos. Se você tem um belo acervo em casa e quer mostrar a sua coleção aos nossos leitores, clique aqui e saiba como.

De colecionador para colecionador, apresente-se aos nossos leitores.

Primeiramente, é um privilégio ser entrevistado pela Collectors Room, pois sou leitor assíduo desse site há bastante tempo. Meu nome é Diego Colombo e tenho 38 anos. Sou Coordenador Técnico em uma Indústria Eletrônica na cidade de Taquara (RS), na qual trabalho há 16 anos. Sou graduado em Processos Gerenciais e tenho MBA em Administração e Qualidade. 

Comecei a ouvir rock aos 10 anos de idade. Nessa fase, possuía muita coisa gravada em fita K7 e ouvia muito Ramones e Iron Maiden. Mais tarde, peguei a fase de introdução do CD na indústria musical e desde lá me tornei um aficionado por esse formato de mídia. 

Quantos discos você tem em sua coleção?

Minha coleção não é muito grande: tenho pouco mais de 500 títulos, todos em CD.

Quando você começou a colecionar discos?

Comprei o meu primeiro CD em 1995 e desde então sempre tive o intuito de colecionar. 


Você lembra qual foi o seu primeiro disco? Ainda o tem em sua coleção?

Parece mentira, mas o primeiro CD que comprei foi o primeiro do Black Sabbath, considerado por muitos o primeiro disco de heavy metal do mundo. Ainda o guardo com carinho em minha coleção.

Já a primeira banda de rock que ouvi foram os Ramones. Lembro que eu tinha uns 10 anos de idade quando um vizinho meu ganhou o Rocket to Russia. Ouvíamos direto, sem ter a mínima ideia de quem eram aqueles quatro magrelos da capa, qual instrumento cada um deles tocava e qual estilo musical era aquele. Fiz questão de comprar esse álbum depois de um tempo, e o legal é que, agora que conheço e tenho toda a discografia da banda, o considero o melhor álbum deles. Isso prova que tive sorte de me deparar com um clássico logo de cara. 

Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um ouvinte de música, mas sim um colecionador de discos?

Como mencionei anteriormente, desde o início tinha a intenção de colecionar. Com o surgimento do MP3 e do streaming - que acabaram tornando a música descartável –, a minha ânsia por adquirir cada vez mais material aumentou bastante.

Até utilizo o Spotify para conhecer coisas novas e, caso aprove, depois compro o CD. Isso é o que faz com que eu não ignore por completo essas mídias, mas a coisa tátil – capa, encarte e toda a sua amplitude: letras, ficha técnica e agradecimentos – nós sabemos que é o grande barato dos colecionadores.

Tenho até um ritual para ouvir um disco recém adquirido: fecho a porta da sala, me sento em frente ao aparelho de som com o encarte na mão e não me distraio com nada desse mundo até acabar o CD. Também não consigo ouvir as músicas de um disco aleatoriamente. Sempre que pego um CD, ouço-o por completo e na sequência que o álbum foi concebido. Se a audição for interrompida por algum motivo, quando retorno, continuo ouvindo de onde parei (risos).

Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de gêneros ou usa algum outro critério?

Organizo por nome de banda, em ordem alfabética. Os álbuns eu classifico de maneira cronológica por ordem de lançamento, sou muito chato nesse sentido. Também não deixo ninguém limpá-los e raramente os empresto, pois já tive muitas decepções (CD que voltou arranhado e com o encarte deflagrado e outros que não voltaram e tive que adquirir novamente). Também não posso ver uma caixinha trincada ou com algum daqueles dentes de acrílico quebrados que logo tenho que substituí-la.

Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?

No início, quando a coleção ainda era bem escassa, guardava em estantes. Atualmente estou guardando em um móvel que eu mesmo construí e que recentemente foi expandido para possibilitar uma armazenagem maior. 

Sugestão para outros colecionadores: sempre procure ter um bom espaço livre para expandir a sua coleção, pois isso te estimula a comprar mais coisas e preencher esse local o mais rápido possível (risos).


Que dica de conservação você dá para quem também coleciona discos?

Aconselho deixar longe da poeira, umidade e da incidência do sol (que acaba desbotando a capa). Guardo a maioria deles no próprio saquinho no qual o CD vem revestido de fábrica. Abro com bastante cuidado em uma das extremidades para não rasgar e de maneira que eu possa colocá-lo de volta. O CD precisa ser bem cuidado, pois sua vida útil é bem reduzida em relação ao vinil, por exemplo.

Você já ouviu tudo que tem? Consegue ouvir os títulos que tem em sua coleção frequentemente? 

Já ouvi cerca de 99% do que possuo, pois alguns títulos ainda estão lacrados. Algumas coisas eu compro em função do preço acessível e, por não estar na ‘vibe’ daquela banda no momento, acabo guardando sem abrir para ouvir depois.

Ouço minhas coisas quase que diariamente. Meu trabalho é próximo da minha casa (cerca de cinco minutos de carro), então geralmente utilizo parte do intervalo de almoço para ouvir algo. 

Qual o seu gênero musical favorito e a sua banda preferida?

Gosto de todas as vertentes do rock, mas o gênero preferido é o heavy metal. Escolher banda preferida é complicado, pois, no meu caso, foram várias de acordo com a fase da vida. O Black Sabbath já foi a minha preferida em diversas fases, então escolho essa (risos). Também curto bastante Megadeth, AC/DC, Metallica, Iron Maiden, Beatles, Van Halen, Thin Lizzy, Motorhead, Led Zeppelin, entre outras.


De qual banda você tem mais itens em sua coleção?

Iron Maiden, muito por ser uma banda com bastante tempo de carreira e vasta discografia (álbuns ao vivo, singles, coletâneas). Nos últimos tempos, os caras lançam praticamente um item por ano e essa é minha singela contribuição para os 85 milhões de discos vendidos da banda no mundo inteiro.

Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?

Não tenho nada de muito raro, mas alguns meio estranhos (risos). Por exemplo, um CD do Beck apenas de entrevistas. Comprei para conhecer melhor o artista e só depois percebi que não havia música.  

Tenho também um VHS importado do Van Halen chamado Live Without a Net, que encomendei em uma loja aqui da cidade na década de 1990 e aguardei mais de três meses até chegar. É um dos meus shows preferidos de todos os tempos, que fisga uma banda com muita energia, pois foi a primeira turnê com o Sammy Hagar nos vocais.

Não tenho um disco da minha coleção que eu mais goste, então vou escolher o que mais escutei até hoje: Black Sabbath – Sabotage. Pra mim, esse disco capta a banda na sua melhor fase criativa, apesar de ter uma capa horrenda (o Bill Ward está ridículo com aquela calça de crochê vermelha e a cueca preta aparecendo por baixo)!


Você é daqueles que precisa ter várias versões do mesmo disco em seu acervo, ou se contenta em completar as discografias das bandas que mais curte?

Não tenho essa neura, me contento em completar as discografias. O que chegou mais próximo disso foi aquele relançamento da discografia do Maiden que formava a cabeça do Eddie juntando todos os CDs. 

Já aconteceu de comprar coisas que eu já tinha por não lembrar que já constava na minha coleção (a idade vai pegando e a coleção vai crescendo, o que faz essa possibilidade só aumentar). Agora, como prevenção, levo sempre uma foto em alta definição da minha coleção em meu celular pra poder consultar em caso de dúvida (risos).

Além de discos (CDs, LPs), você possui alguma outra coleção?

Possuo alguns exemplares de revistas de rock (Rock Brigade, Metalhead, Roadie Crew) e de revistas especializadas em guitarra( Guitar Player e Cover Guitarra). Também tenho uma quantidade não muito grande de biografias relacionadas ao rock/heavy metal e vários canhotos de ingressos de shows que frequentei.


Em uma época como essa, onde as lojas de discos estão em extinção, como você faz para comprar discos? Ainda frequenta alguma loja física ou é tudo pela internet?

A maioria adquiro pelo Mercado Livre e eBay, mas sempre que possível frequento algumas lojas físicas aqui do estado.

Antigamente isso era mais legal, né? Lembro de, uma vez por mês, eu e um amigo pegarmos um ônibus para Porto Alegre e fazer uma tour a pé pelas principais lojas: Megaforce, Zeppelin, Madhouse (cujo dono era o Flávio Coutinho, baixista e vocalista de uma banda lendária do RS chamada Leviaethan), entre outras. Acho que caminhávamos uns quinze quilômetros em uma tarde e voltávamos pra casa no final do dia extenuados, mas felizes e com bastante coisa embaixo do braço. Na extinta Megaforce – que era uma loja especializada em heavy metal - rolavam até umas sessões de cinema durante as tardes de sábado. Eles cobravam ingresso e reproduziam shows em um projetor. 

Tenho como meta um dia conhecer a Galeria do Rock. Já estive algumas vezes em SP, mas ainda não tive a oportunidade de ir até lá.

Que loja de discos você indica para os nossos leitores? 

Indico a Jam Sons Raros, que fica na cidade de Novo Hamburgo. Como o nome diz, os caras possuem muitas raridades e, sem dúvidas, é a melhor loja de discos que já frequentei.

Segue o link da página do Facebook da loja (espero que eles leiam isso e me concedam um desconto na minha próxima visita).

Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou discos?

Em um brechó aqui na minha cidade. Comprei três CDs importados -  dois do Type O Negative e um do Fleetwood Mac por R$ 3,00 cada. Certamente quem vendeu não fazia a mínima ideia do que estava fazendo (risos).


O que as pessoas pensam da sua coleção de discos, já que vivemos um tempo em que o formato físico tem caído em desuso e a música migrou para o formato digital?

Já ouvi de tudo: qual o motivo de ter tanto CD? Não é mais fácil procurar a música no Youtube? Por que não ouve em mp3 ao invés de gastar comprando CD?

Você se espelha em alguma outra coleção de discos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?

Curto bastante as coleções do Ed Motta, do Gastão Moreira e do Vitão Bonesso, pois são inspiradoras. Também tem a do Nino Lee, que já foi entrevistado por aqui. Ele mora na minha cidade e tem muita coisa legal. 

Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de discos?

Eu tenho plena convicção de que minha coleção e o fato de ouvir rock me ajudaram culturalmente e na formação do meu caráter. Como trabalho gerindo pessoas, já lidei com muita gente e posso garantir que o desempenho de quem curte rock é, na sua grande maioria, diferenciado. Os hábitos culturais – os livros que lê, a música que ouve, os eventos que frequenta – dizem bastante sobre as pessoas. O cara que ouve rock é um profissional mais antenado, que costuma ler mais do que a média porque se interessa pelos artistas do estilo (biografias, revistas). Geralmente são mais bem informados sobre o que acontece no mundo e respondem bem no trabalho quando são contratados. 

Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais discos", ou isso é uma utopia para um colecionador?

Essa hora nunca vai chegar, porque um dos motes da minha vida é adquirir coisas pra incrementar minha coleção. Para mim, a música é uma válvula de escape, pois me faz esquecer problemas (coloque o Reign in Blood do Slayer no talo e tire a prova). 

Existe uma enormidade de lançamentos no universo do rock e você pode passar uma vida inteira comprando coisas, que mesmo assim sempre terá o que adquirir. Além disso, várias coisas motivam um colecionador: no início tem a busca pra completar a discografia básica das suas bandas preferidas, depois tem os bootlegs e os singles, e por aí vai...

O que significa ser um colecionador de discos?

Significa utilizar o dinheiro da mesada na época da escola pra comprar CD em vez de comprar lanche. Significa comprar escondido da esposa, que só descobre quando chega pelo correio. Significa distorcer (também da esposa e sempre para baixo) o valor que gastou adquirindo um disco (risos). 

Pra fechar: o que você está ouvindo e o que recomenda para os nossos leitores?
Como seria trivial demais indicar os medalhões, vou deixar uma lista de discos de bandas relativamente novas que curto bastante:

Ghost – Todos (minha ‘banda nova’ preferida).
Buffalo Summer – Second Sun
Winery Dogs – Winery Dogs
Rival Sons – Todos (uma das melhores bandas de hard rock da atualidade e que tive o privilégio de assistir ao vivo recentemente).
Mastodon – Once More ‘Round the Sun e The Hunter
Gojira – Magma
Lamb of God – Ashes of the Wake
Black Country Communion - Black Country Communion        

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