Review: Os Descordantes - Quietude (2017)


A música romântica sempre fez sucesso no Brasil. Do rock ao sertanejo universitário, perpassando pela MPB e o samba, os temas de amores impossíveis, perdidos, encontrados, reencontrados, iludidos e desiludidos sempre tiveram boa sintonia com o público. Independente do estilo, há uma facilidade do público de se reconhecer nessas histórias cantadas. Para cada situação amorosa que se passar na vida há uma música em algum lugar que serve como expressão perfeita para os seus sentimentos.

Os Descordantes entenderam bem essa demanda, cantando desilusões amorosas em diversos gêneros: rock, MPB, samba, brega, pop, evitando delimitar-se em um estilo único e denominando-se apenas como música romântica. Resultou em se tornarem uma das bandas mais queridas da noite rio branquense com seu primeiro disco, Espera a Chuva Passar, um compilado de todas as canções já executadas ao vivo ao longo dos anos, com algumas inéditas. Se o disco não deixou os músicos ricos, com certeza foi um sucesso entre seu público. Tanto que animou a banda a lançar mais um e assim chegamos ao segundo álbum, Quietude.

O novo CD é um trabalho mais homogêneo que o anterior, calcado na MPB, trazendo referências a outros estilos e com toques retrô que, a mim pelo menos, remete à música romântica das décadas de 1950/1960. As músicas casam bem com o título Quietude, mais calmas, leves e introspectivas. A canção de abertura, "Trem Fora dos Trilhos”, já mostra a que veio o disco: ao invés dos pesados acorde de guitarra que abrem Espera a Chuva Passar, aqui é um piano suave que abre os trabalhos numa canção que me remete, em momentos, ao Radiohead da época do The Bends.


Meus destaques vão, em primeiro lugar, para "Desamor", segunda canção do play, de cara a minha favorita e a mais rock and roll de todas. Ela é seguida pela divertida “Iguais", de clima muito agradável e com direito a corinho de "ulálá's", perfeita pra bailinhos retrôs anos 60. Na sequência, a desiludida "Simplesmente" evoca o clima de “sofrência” do primeiro disco e não me chamou muito a atenção de primeira, mas ela vai crescendo na nossa mente - hoje já me pego cantando-a do início ao fim. 

Pra encerrar os destaques, o brega descarado volta lá pro fim do disco com "Vai Ver”. Essa utilização inteligente da música brega (daquele tipo que fazia sucesso nas rádios na vozes de Odair José e Reginaldo Rossi, entre outros) sempre foi o grande diferencial dos Descordantes. Fiquei feliz em ver que eles não esqueceram de prestar sua homenagem ao estilo nesse disco.

Se senti falta de algo foi de uma maior variedade musical. Como disse lá em cima, o Espera a Chuva Passar transitava, com naturalidade, por vários estilos: rock ("Descrença" e "Porto e o Rio"), samba ("Amigo Amarelo"), brega ("Hombridade" e "Sair Daqui"). Quietude me parece mais focado na MPB, não que isso seja um defeito em si, é mais pra uma impressão pessoal mesmo. Já estou pela décima audição do disco desde que recebi minha cópia (digital) e posso afirmar que essas canções vão crescendo a cada vez que se escuta o álbum.

Com Quietude, os Descordantes fincam bases sólidas em sua identidade musical, sólidas o suficiente para sustentar um terceiro trabalho, se não vários outros.

Audição mais que recomendada.


Por Gildson Góes

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