CD completa 35 anos agonizando frente à tecnologia, mas não morre


Há 35 anos, uma pequena peça circular brilhante chegava ao mercado prometendo revolucionar a forma como se ouvia música. O Compact Disc, ou simplesmente CD, como acabou popularizado, se tornou o objeto de desejo de todo mundo, com seu som mais limpo e as facilidades que a mídia trazia, como saltar entre uma faixa e outra rapidamente. Para muitos, ali estava decretado o fim das fitas K7 e dos vinis. 

Corta para 2017. Completando três décadas e meia, os CDs sofrem para se manterem relevantes em um mundo de inovação tecnológica constante, enquanto os vinis, com 69 anos de vida, renasceram como uma fênix, tornando-se objeto de desejo entre os amantes de música e colecionadores. Diversos artistas agora lançam versões especiais em LP para aproveitar esse nicho dentro do setor. 

A força dos serviços digitais em comparação com os produtos físicos fica clara quando analisamos o mercado de música brasileiro em 2016. Segundo o último levantamento mundial feito pela Federação Internacional da Indústria Fonográfica (IFPI), enquanto o digital cresceu 23% no Brasil no período analisado, o físico (CDs, principalmente) registrou uma queda de 43,2%. As duas variações são em relação ao ano de 2015. Mas a principal questão é a seguinte: as pessoas estão comprando menos música, independentemente da forma como ela é comercializada. 


Quando falamos de serviços digitais, por exemplo, há uma grande diferença no mercado entre os que compram músicas e os que assinam plataformas de streaming. Em 2016, os downloads pagos de música registraram uma queda de 44,9% no Brasil. Já a receita gerada por serviços como Spotify, Deezer, Tidal e Apple Music, entre outros, saltou 52,4% na comparação com 2015. Segundo Paulo Rosa, presidente da Pro-Música Brasil, entidade que reúne as maiores empresas de produção musical fonográfica em operação no país, o streaming interativo, seja bancado por subscrições/assinaturas ou receitas de publicidade, está rapidamente convertendo-se no principal modelo de distribuição de música do setor fonográfico. “Acontece no Brasil exatamente o que vem acontecendo em quase todos os mercados do mundo: crescimento significativo de assinantes de plataformas de streaming de áudio, combinado com elevação, embora num ritmo mais lento, das receitas com publicidade originadas em plataformas de streaming de áudio e vídeo.” 

Mas não dá para culpar apenas os serviços de streaming pela situação que os CDs se encontram atualmente. Depois de sua ascensão meteórica na década de 1990, os anos 2000 já mostraram que a jovem mídia teria muito mais pedras em seu caminho que aqueles que vieram antes dela. A evolução tecnológica logo permitiu que qualquer um, em casa, fizesse cópias de CDs e, com isso, a pirataria se espalhou. Bastava que um amigo ou conhecido tivesse o álbum original para que todos pudessem copiá-lo. Depois vieram os downloads ilegais de música. Neste ponto, já não era necessário que ninguém comprasse CDs, era só baixá-los e gravar. Ainda assim, a Pro-Música Brasil não acredita no fim do CD e outras mídias físicas. Segundo eles, o forte declínio nas vendas de CDs e DVDs no Brasil durante 2016 foi totalmente atípico e fruto, principalmente, de um quadro econômico desfavorável.


E uma parte do público também acredita nisso. O produtor cultural Júlio Monstro, 44, é um apaixonado pela mídia física e não abre mão de tê-las. Ele é um dos raros casos de pessoas que se recusam a utilizar serviços de streaming e continuam comprando CDs até hoje. “Não, não uso”, diz referindo-se ao streaming. “Prefiro meus CDs, DVDs e vinis originais. Compro por paixão, gosto de tê-los nas mãos. É um ritual colocar um CD e trocá-lo ao final da audição. Faz parte da minha adolescência ter vinis e CDs e mantenho a tradição depois de tanto tempo”, conta. Ele compra entre cinco e dez CDs por mês, levando em conta os lançamentos daquele período e seu gosto pessoal.  “Eu gosto também das edições com material inédito (deluxe ou super deluxe) e alguns boxes de CDs bem bacanas.” 

O ritual de ter um álbum na mão, com sua capa, encarte e letras, também é um dos fatores que fazem com que o bancário Lucas Blanco de Carvalho, de 38 anos, continue adquirindo CDs e deixando o streaming de lado. “Tive contas em alguns, inclusive no Spotify. Apesar deste ter me agradado muito, está inativo desde o início do ano”, diz. O primeiro CD que Lucas comprou foi Slave to the Grind, da banda Skid Row, em 1993, e, desde então, acumula uma coleção de aproximadamente 2 mil itens, que vai aumentando mensalmente. Ele compra pelo menos um CD por mês.

Tanto Júlio quanto Lucas encaram o futuro para o CD com otimismo. Ambos apostam que o CD jamais acabará, mas que, no futuro, manterá sua existência graças a nichos. “Colecionadores e gente que gosta de peça física, como ocorreu com o vinil. Mas o fato é que a tecnologia de streaming é extremamente prática. Quando programas como o Napster e Emule surgiram, as pessoas ainda precisavam organizar diretórios e pastas com as músicas que queriam ouvir, fora a questão do espaço para armazenamento. O streaming resolveu isso. A única coisa necessária é uma conexão de internet. Além disso, é uma forma de se consumir música remunerando os artistas que a produzem”, diz Lucas.


Curiosidades:

O CD foi criado em uma parceria entre a Philips e a Sony
O diâmetro de um CD tradicional é de 120 milímetros
O disco The Visitors, do ABBA, foi o primeiro lançamento no formato CD na história da música internacional, em agosto de 1982
Os CDs chegaram ao mercado em novembro de 1982, com 150 títulos disponíveis
O primeiro trabalho lançado apenas no formato digital foi o álbum Brothers in Arms, da banda Dire Straits, em 1985
Brothers in Arms também foi o primeiro CD a ultrapassar a marca de 1 milhão de cópias vendidas no mundo
O primeiro CD lançado no Brasil foi o disco Garota de Ipanema, de Nara Leão, em 9 de abril de 1986
Nos anos 1990, os CDs dominaram as vendas, ultrapassando a marca de 1 bilhão de cópias vendidas em 1992 e de 2 bilhões em 1996




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