Minha Coleção: apaixonado por trilhas sonoras, o carioca Andre Allevato mostra os seus discos


De colecionador pra colecionador, faça uma breve apresentação para os nossos leitores.

Meu nome é Andre Allevato, tenho 48 anos, sou carioca e moro na região oceânica de Niterói, no Rio de Janeiro. Sou casado, pai de dois filhos. Sou formado em jornalismo, mas trabalho há trinta anos no mercado financeiro. Tenho na minha esposa Eloisa Porto, professora de Literatura e Artes, a maior incentivadora na minha coleção de música. Sou motociclista, e pegar a estrada com minha Harley é a única coisa que me separa da minha coleção. Há cerca de um ano, criei uma conta no Instagram, onde posto diariamente LPs e CDs da minha coleção.

Quantos discos você tem em sua coleção?

Tenho cerca de 3.000 títulos entre LPs e compactos, e uns 600 CDs. Estou catalogando minha coleção pela Discogs, mas no momento não tenho o número exato dela.

Quando você começou a colecionar discos?

Em 1987. Passei por diversas fases, comecei com Beatles e rock progressivo, passando pelo pop e rock BR, mas minha maior relação com a música sempre foi o cinema e o teatro. Creio que quase 50% da minha coleção seja de trilhas sonoras e teatro musical americano, gênero não muito difundido no Brasil, conhecido como Showtunes. Trabalhei no centro do Rio de Janeiro durante a década de 1990, onde a cada esquina existia uma loja de discos. Foi durante esse período que adquiri a maior parte da coleção que tenho hoje.


Você lembra qual foi o seu primeiro disco? Ainda o tem em sua coleção?

O primeiro disco que eu me lembro ter ouvido foi Alice no País das Maravilhas, quando eu era criança, na década de 1970. Disco infantil, daquela coleção de LPS coloridos de Walt Disney. Esse era vermelho. Lado A - Alice e Lado B - O Gato de Botas. Ainda tenho até hoje, mas infelizmente não tenho a capa. Anos depois ganhei dois LPs que considero os primeiros da minha coleção: Gita do Raul Seixas e o primeiro do Secos e Molhados (aquele das cabeças na mesa).

Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um ouvinte de música, mas sim um colecionador de discos?

Acredito que a ficha caiu quando, nas viagens com minha esposa, ao invés de querer ir pra museus ou pontos turísticos eu ia visitar lojas de discos. Conheci lojas em Praga, Paris, Lisboa, USA e em diversas cidades aqui no Brasil. Ao invés de trazer eletrônicos, roupas ou perfumes, eu trazia LPs e CDs.

Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de gêneros ou usa algum outro critério?

Estão organizados em ordem alfabética, mas divididos em  Trilhas Sonoras, Musicais (Showtunes), Cantores Internacionais, Cantoras Internacionais, Conjuntos Internacionais, Rock Brasil, MPB e Diversos (Coletâneas).





Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?

Tenho um escritório em casa só para livros, discos e filmes. Tenho estantes separadas para LPs e CDs que foram feitas sob medida por um marceneiro.

Que dica de conservação você dá para quem também coleciona discos?

Tenho comprado no Mercado livre capas de plástico vendidas a cento de espessura 0,20 mm, que protegem bem a capa dos LPs. Como tenho mais de 3.000 títulos, estou substituindo aos poucos os plásticos mais finos por esses.

Você já ouviu tudo que tem? Consegue ouvir os títulos que tem em sua coleção frequentemente?

Fiz algumas viagens nos últimos meses e trouxe vários discos que ainda não ouvi. Não tenho nenhum preconceito com outras mídias, mas sigo uma regra: em casa só ouço LPs, no carro CDs e mídia digital para correr e andar de moto. Isso me ajuda a conseguir ouvir toda a minha coleção.


Qual o seu gênero musical favorito e a sua banda preferida?

Apesar de grande parte da minha coleção se concentrar em rock e pop, minha preferência são as trilhas sonoras dos anos 70/80 e os musicais. As bandas que mais gosto são Genesis, Marillion, The Beatles, Deep Purple e The Smiths.

De qual banda você tem mais itens em sua coleção? 

Tenho as discografias completes do Genesis, The Beatles, Marillion, The Smiths, Deep Purple, New Order, Pet Shop Boys, Spandau Ballet  e Led Zeppelin. Mas maiores  quantidades de itens estão com a discografia de David Bowie, uns 30 títulos, e os musicais de Stephen Sondheim, uns 40 títulos entre LPs e CDs.

Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?

Nunca tive intenção de comprar discos raros ou muito valiosos para minha coleção, meu objetivo sempre foi a música. Os itens que mais gosto com certeza são as trilhas de filmes que marcaram a minha infância. Tenho uma edição japonesa da trilha de Ferris Bueller Day Off (Curtindo a VidaAdoidado), trilha que nunca foi lançada nos EUA na época do filme. Trilhas de filmes de terror  e ficção cientifica das décadas de 1970 e 1980 estão entre os itens que mais gosto e que continuo a procurar em viagens.


Você é daqueles que precisa ter várias versões do mesmo disco em seu acervo, ou se contenta em completar as discografias das bandas que mais curte?

Em relação a bandas não compro varias versões, apenas a discografia básica, nem mesmo os discos ao vivo costumo comprar. Já em relação a musicais, ter diferentes versões é bem interessante pois são elencos diferentes. Tenho edições dos musicais de diversos países. Do musical Evita, de Andrew Lloyd Weber por exemplo, tenho as versões do teatro das montagens americana, inglesa, espanhola e brasileira, além da trilha do filme com a Madonna. Edições com elenco brasileiro de musicais como Rocky Horror Show, Jesus Cristo Superstar e My Fair Lady também são bem legais.

Além de discos (CDs, LPs), você possui alguma outra coleção? 

Gosto muita de literatura de horror. Além de livros do gênero, coleciono HQs brasileiras de terror da década de 70/80: Kripta, Pesadelo, Sobrenatural e Spektro, e as americanas Tales from the Crypt e Vault of Horror.

Em uma época como essa, onde as lojas de discos estão em extinção, como você faz para comprar discos? Ainda frequente alguma loja física ou é tudo pela internet?

Compro a maioria dos meus discos em viagens. Quando planejo a viagem aqui no Brasil, já procuro as lojas de discos nos países de destino pelo Google. Tenho comprado também muitas trilhas sonoras pelo Discogs e nunca tive problemas com a plataforma. Encontro títulos com preços razoáveis e os discos sempre chegam muito bem embalados.



Que loja de discos você indica para os nossos leitores? 

Aqui no Rio de Janeiro, a Tropicália Discos e a Only Music. Excelente acervos e os proprietários realmente entendem do negócio.

Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou discos?

Costumo brincar e dizer que o lugar mais estranho que comprei um disco foi a loja Wax Trax Records, em Las Vegas. Lá encontrei o maior e o melhor acervo de trilhas sonoras que já vi vendendo até hoje, mas os preços proibitivos e o mau humor do dono da loja transformaram a compra de um LP (Band of the Hand - Soundtrack) numa experiência única.

O que as pessoas pensam da sua coleção de discos, já que vivemos um tempo em que o formato físico tem caído em desuso e a música migrou para o formato digital?

Por incrível que pareça a maior aceitação vem dos mais jovens. Os amigos dos meus filhos ficam empolgados  com o acervo. Já o pessoal da minha geração se espanta quando vem aqui em casa por causa do tamanho da coleção e, principalmente, por saber que eu ainda compro LPs.




Você se espelha em alguma outra coleção de discos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?

Depois que criei minha conta no Instagram, onde posto meu acervo, tive contato com outras coleções. Admiro muito os colecionadores de LPs e CDs que encontro por lá, principalmente os iniciantes que mesmo com apenas dez, vinte títulos na coleção demonstram a mesma paixão pela música. Vejo uma nova geração de colecionadores chegando com os novos lançamentos em 180g e eles são muito bem-vindos.

Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de discos?

Antes do valor cultural e financeiro, vejo o valor “terapêutico” de colecionar discos. Não há nada melhor do que após um dia estressante de trabalho, chegar em casa, abrir um vinho/cerveja e ouvir um disco.

Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais discos", ou isso é uma utopia para um colecionador?

Utopia!! Quem coleciona discos acaba sempre tendo contato com novidades. No meu caso, que coleciono trilhas sonoras, não acaba nunca, uma vez que vem surgindo novos compositores e trilhas cada vez mais bem elaboradas.


O que significa ser um colecionador de discos?

Considero o colecionador de discos um colecionador de arte, assim como quem coleciona quadros e obras de arte. Guardadas as devidas proporções financeiras, é claro. Colecionar discos é amar a música e querer através de sua coleção ajudar a perpetuar a história da música.

Qual o papel da música na sua vida?

Depois de viajar com a família, a música e o motociclismo são minhas maiores paixões. A música consegue se integrar a tudo em minha vida, e como venho de uma família em que o toca-discos ganhava da televisão como principal eletrodoméstico na sala, sempre tive desde a infância a música como referência no meu crescimento.

Pra fechar: o que você está ouvindo e o que recomenda para os nossos leitores?

Atualmente, três compositores que tem feito trilhas para cinema e TV tem me chamado a atenção: Max Richter (The Leftovers), Ramin Djawadi (Westworld e Game of Thrones) e Johann Johannson (A Chegada). Tenho ouvido também os novos discos do Depeche Mode e do The Night Flight Orchestra (som que remete a Journey e Boston). E rock tenho ouvido Pavlov’s Dog , Curved Air, Phideaux, Strawbs e o conjunto tcheco Kabat.




Comentários

  1. Uma vida dedicada à música! 😍😍

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  2. Além de ser um amigo fenomenal, é uma verdadeira enciclopédia musical.

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  3. Muito bacana! Sensibilidade pura! Reflete o ser humano demais que você é. Orgulhaço de conhecer você e sua família.

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