Minhas HQs: conheça a enorme coleção de quadrinhos de Christian Farias, do BlogBuster TV


De colecionador pra colecionador, faça uma breve apresentação para os nossos leitores.

Meu nome é Christian Farias, sou gaúcho, gremista, jornalista, pós-graduado em cinema e um dos fundadores e editores do canal BlogBuster TV no YouTube, onde debatemos assuntos nerds em geral, mas principalmente nossas maiores paixões: quadrinhos, séries, cinema e games. 

Quantas HQs você tem em sua coleção?

Na última contagem minha coleção havia passado de 4.500 edições. Não saberia dizer o número exato, pois a cada dia mais HQs invadem minha casa e estou sempre atrasado na contagem.

Quando você começou a colecionar HQs?

Minha mãe comprava quadrinhos para mim desde meus 4 anos, pois comecei a ler muito cedo. Mais tarde eu ganhei centenas de edições que faziam parte do acervo de meu primo mais velho, e então a coleção foi tomando forma.


Você lembra qual foi a sua primeira HQ? Ainda a tem em sua coleção?

Os quadrinhos que ganhei em 1992 foram gibis da Turma da Mônica e Zé Carioca. Ainda tenho todos eles.

Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um leitor de quadrinhos, mas sim um colecionador de quadrinhos?

Identifiquei-me como colecionador quando fui morar em Porto Alegre. Minha coleção sempre foi algo muito particular, pois no interior as crianças não tinham o hábito de colecionar quadrinhos. Quando cheguei a Porto Alegre para fazer faculdade, com 16 anos, acabei me dando conta que muitas pessoas dividiam o gosto pela nona arte, portanto ficou ainda mais fácil de manter essa prática.  

Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de editora, autores, personagens, ou usa algum outro critério?

Confesso que sou meio desorganizado com minha coleção. Como estou sempre consultando algo, tirando de ordem e etc, então acabo separando mais por editoras e formatos. 


Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?

Como minha coleção está em duas casas que são situadas em cidades diferentes, então eu reparti as edições. Boa parte da coleção de formatinhos e edições antigas fica em Camaquã, em um armário que foi feito para este fim. Comigo estão hoje as edições mais relevantes, as autografadas e também os materiais mais recentes. 

Que dica de conservação você dá para quem também coleciona HQs?

Não quero ser pretensioso a ponto de dar dicas aos colecionadores, mas gostaria de dar uma dica primorosa aos novos colecionadores ou para aqueles que estão pensando em começar: não compre tudo que você vê pela frente. Nem tudo é importante para uma coleção, pois uma coleção precisa – mais do que números – de conteúdo. 

Boa! Você já leu tudo que tem?

Claro que não! O colecionador que falar que sim estará mentindo. Sempre tenho uma pilha de “próximas leituras”, e essa pilha nunca acaba – pelo contrário -, cada vez aumenta mais. Alguns dias quase consigo acabar com ela, mas vou na banca e realimento a torre.  

Você tem o hábito de retornar a alguma quadrinho tempos depois de lê-lo pela primeira vez, entrando em contato novamente com a história? Essas releituras já fizeram você mudar a sua opinião que tinha sobre tal HQ quando a leu pela primeira vez?

Com certeza! Existem diversos quadrinhos que a leitura foi ficando cada vez mais produtiva, conforme minha bagagem cultural foi sendo formada. Quando li O Reino do Amanhã nos anos 1990, não consegui absorver o que pude nas outras vezes que o fiz. O mesmo vale para muitas obras de Alan Moore, que cada vez que releio posso captar mais signos e riquezas de roteiro. 

Qual o seu escritor preferido e o seu personagem favorito?

Existe um escritor que nunca me decepcionou, mas ele seria como comparar algum jogador com Pelé, então Alan Moore não poderia entrar nessa resposta. Tenho um carinho enorme pelo Garth Ennis, pela desconstrução que ele faz com os heróis e pelo tom agressivo e questionador de dogmas e regras. Meu personagem favorito é o Arseface, traduzido no Brasil para Cara de Cu, que faz parte de Preacher.

De qual personagem, autor e editora você tem mais itens em sua coleção?

Acho que podemos colocar um empate técnico. Tenho muitas coisas de Batman e Homem-Aranha. Em relação a autor, acredito que tenho muito material de Garth Ennis e Alan Moore, pois são dois que compro exatamente TUDO que vejo, materiais importados e nacionais. Não vou poder negar que tenho mais quadrinhos da DC, pois fiz a loucura de comprar todas as grandes sagas e seus vínculos em edições mensais. 

Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?

Não saberia dizer qual o mais raro, mas eu possuo muitas coisas que guardo com carinho: Crise nas Infinitas Terras autografada pelo George Pérez, Hitman e Lobo autografado pelo Bisley, V de Vingança autografada pelo Lloyd, Monstro do Pântano autografado pelo John Tottleben, edições gringas da Mulher-Maravilha do Deodato autografadas pelo mesmo, Reino do Amanhã autografada pelo Mark Waid, Grandes Astros Superman autografado pelo Frank Quitely e mais uma centena de edições autografadas por diversos artistas e roteiristas. 

Uma das edições que mais guardo com carinho é a primeira edição da Liga Cômica original gringa, autografada pelo Kevin Maguire.



Você só coleciona edições brasileiras ou tem o hábito de também adquirir edições gringas para o seu acervo de quadrinhos?

Tenho muitas coisas gringas. Existem diversas séries que nunca saíram no Brasil e que provavelmente não sairão, pois não possuem divulgação e público por aqui, o que é uma pena.

Além de HQs, você possui alguma outra coleção?

Eu tenho muitos DVDs e Blu-Rays, pois sou apaixonado por cinema. Mas não é algo que me faça ter a mídia física, pois muita vezes o sistema de streaming me satisfaz. Busco edições físicas quando tenho curiosidades sobre algum processo de produção, que geralmente são documentadas nos extras.


Você ainda frequenta bancas de revistas e livrarias, ou hoje compra tudo pela internet mesmo?

Não resisto a bancas e livrarias. Sempre foi meu ponto fraco. Como trabalhei muitos anos em produção de TV, acabei viajando por diversas regiões do Brasil e meu vício era sempre visitar as livrarias pra saber o que havia de diferente. Ainda compro muito em lojas físicas.

Que loja de HQs você indica para os nossos leitores? 

Para fugir das dicas que todos conhecem (Amazon, Saraiva, Fnac), vou indicar o Punch Comics, uma loja de quadrinhos online com descontos muito legais, e que é de um amigo aqui da cidade.

Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou quadrinhos?

Quando eu era criança costumava comprar quadrinhos em uma loja de cigarros. Era estranho, pois meu tio ia comprar cigarro e a loja tinha um pequeno espaço para quadrinhos (o mais estranho é que eram quadrinhos antigos do Mandrake e Fantasma). Eu acabava sempre ganhando um gibi antigo nessa ida ao “tio do cigarro”.


Que HQs você indicaria para quem nunca leu quadrinhos e quer começar a se aventurar pela nona arte?

Eu indicaria O Escultor, de Scott McCloud. Uma história linda, que não foge muito de uma narrativa com ritmo cinematográfico, mas que deve ser apreciada com atenção, pois muitos detalhes podem passar em branco. 

Quais foram as cinco melhores HQs que você já leu na vida? E as piores?

Vou tentar sair do óbvio e elencar algumas coisas que realmente me marcaram:

Preacher
Planetary
Monstro do Pântano (Fase do Moore)
Miracleman (Moore)
O Escultor

Não gosto de elencar coisas ruins, pois acaba ofendendo quem curte, mas vou deixar alguns nomes:

Superman dos Novos 52
Heróis Renascem Capitão América
Homem-Aranha Pecados Pretéritos
Constantine Novos 52
Homem-Aranha Saga do Clone

O que as pessoas pensam da sua coleção de quadrinhos? Estranham este hábito ou admiram a sua biblioteca?

Nunca tive uma preocupação com o que as outras pessoas pensavam sobre a minha coleção, até por que eu nunca fui de ficar mostrando ela e falando sobre. Costumo separar muito bem minhas nerdices no dia-a-dia, e tento não ficar falando sobre coisas específicas deste ramo com amigos que não são ligados nisso. Mas todos que sabem e conhecem minha coleção acabam achando bacana, até pelo tempo e carinho que dedico a isso na minha vida. 


Você se espelha em alguma outra coleção de quadrinhos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?

Nunca tive ninguém como uma fonte de inspiração como colecionador, até por que na minha cidade eu não conhecia ninguém com esta prática. Mas acredito que algo que me motivou a continuar comprando e buscando conhecimento sempre, mesmo em tempos em que a grana ficou curta e que não existia a internet, foi a revista Herói. Eu ainda possuo mais de 100 edições dessa que foi uma grande fonte de informação de coisas que aconteciam na gringa e que não tínhamos como saber.   

Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de HQs como a sua?

Eu só vejo valor cultural. Não costumo calcular quanto já gastei em quadrinhos, pois isso é irrelevante para mim. Acho que essas práticas de consumo cultural nos transmitem muito do que somos, e minha coleção de HQ é uma boa parte de mim, pois moldou meu caráter e me acompanhou desde a infância até hoje. Acredito que somente quem absorve o conhecimento de sua coleção sabe o valor que ela tem, pois ele está dentro de você. 

Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais quadrinhos", ou isso é uma utopia para um colecionador?

Acredito que este momento não chega nunca. Ficamos sempre procurando mais uma sensação de descoberta. Gostaria tanto de sentir outra vez a sensação que tive ao terminar de ler Preacher, Watchmen, Cavaleiro das Trevas, e acredito que essa sensação é que nos motiva a continuar desbravando obras culturais.



O que significa ser um colecionador de HQs?

Acho que mais do que ostentar um número de objetos em uma estante, um colecionador é alguém que guarda memórias e sentimentos em forma de objetos. Algo que parece fútil para quem não está próximo, mas que carrega um valor sentimental muito além de números e de tamanho.

Qual o papel dos quadrinhos na sua vida?

Os quadrinhos fizeram parte de momentos incríveis da minha vida, me acompanharam em grandes desafios, me ensinaram a ler, me incentivaram a batalhar quando uma crise de ansiedade enorme apareceu na minha adolescência. Minha memória de infância já começa com os quadrinhos em volta, e acredito que eu seria uma pessoa completamente diferente sem eles.

Pra fechar: o que você está lendo atualmente e o que recomenda para os nossos leitores?

Eu tenho o péssimo costume de ler e reler diversas coisas ao mesmo tempo. Neste momento estou lendo Saga e O Legado de Júpiter, também estou relendo A Era de Ouro de James Robinson, uma bela leitura.

Vou recomendar dois tipos de leituras, talvez para dois públicos diferentes. Começarei com Crossed, uma HQ de horror que teve sua primeira fase escrita por Garth Ennis e que depois teve Alan Moore nos roteiros. Não preciso falar mais nada sobre ela né?

Recomendo também – para quem ainda não conhece – uma HQ brasileira: A Vida de Jonas, de Magno Costa e Marcelo Costa. Simplesmente um quadrinho que me impactou anos atrás e que ainda mexe muito comigo toda vez que releio.

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Comentários

  1. Bom dia! Como entrar em contato com colecionadores, ou Cristian Farias?

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    1. Ele tem um canal no YouTube, tenta através do canal https://www.youtube.com/channel/UCxKnxqDu3IlAb9Y6YFhgEpA

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