Tom King é um dos escritores de quadrinhos mais badalados do mercado. O Batman do Renascimento é obra do cara, cuja própria história parece saída de uma HQ: antes de começar a escrever quadrinhos em 2012, ele era um agente da CIA. Isso mesmo: o cara trabalhava na CIA e agora escreve o Batman. Tem coisa mais massavéio que isso?
Porém, o assunto aqui não é o Homem-Morcego, mas sim uma das últimas histórias escritas por King antes de assumir o Cavaleiro de Gotham. O Xerife da Babilônia é uma parceria de Tom King (Visão, Grayson) com o artista Mitch Gerards (Batman, Justiceiro, Viúva Negra) que acaba de sair no Brasil pela Panini. O encadernado Bang. Bang. Bang. (164 páginas, capa cartão, lombada quadrada, papel LWC) reúne as edições 1 a 6 da série, publicadas nos Estados Unidos no primeiro semestre de 2016. O segundo volume, intitulado Pow. Pow. Pow., trazendo os números 7 ao 12, já saiu no mercado norte-americano e deve chegar às bancas brasileiras nos próximos meses.
A trama se passe no início de 2004, logo após a tomada de Bagdá e a queda de Saddam Hussein. O país está mergulhado em um caos, com embates entre os nativos e os soldados norte-americanos, parecendo muito mais uma bomba prestes a explodir do que uma nação em reconstrução (qualquer semelhança com a realidade é, sim, intencional). Acompanhamos três linhas narrativas que se entrelaçam: Christopher, oficial dos EUA, está no país para treinar a nova força policial iraquiana; Sophia foi exilada nos Estados Unidos após a sua família ser assassinada e é uma das cotadas para assumir o governo do novo Iraque; e Nassir, um policial iraquiano que se transformou em um investigador com trânsito pelos labirintos do que restou do poder da época de Saddam.
Em suma, trata-se de um gibi policial repleto de intrigas e mistérios. Tudo é extremamente cru e jogado na cara do leitor, sem filtros para suavizar os acontecimentos. A experiência de Tom King em seu período na CIA certamente contribuiu para essa pegada realista que encontramos nas páginas de O Xerife da Babilônia, onde nada é feito para minimizar os efeitos de uma guerra onde todos, no final das contas, são vítimas.
O texto de King é conciso e muito bem desenvolvido, com diálogos curtos e uma narrativa digna dos melhores filmes do gênero. A arte de Mitch Gerards intensifica a crueza proposta por King, com um traço sujo e que combina muito bem com o clima de terra arrasada proposto pela história. Gerards usa bastante o recurso de nove quadros por página (herança direta de Watchmen) como ferramenta para uma narrativa crescente e que prende o leitor a cada nova virada de página. O trabalho de cores, assinado também por Gerards, é igualmente incrível, variando entre páginas com a predominância de uma cor (do marrom desértico ao ácido verde e o tranquilizador azul) e outras onde o contraste entre tons evidencia o clima de urgência da trama.
O Xerife da Babilônia é uma excelente HQ adulta, e que honra o legado do selo Vertigo. Depois de terminar a leitura do primeiro volume, a expectativa é de que a Panini lance logo a continuação por aqui.
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