Minha Coleção: conheça os discos do headbanger mineiro Wallison Holphman


De colecionador pra colecionador, faça uma breve apresentação para os nossos leitores.

Meu nome é Wallison, tenho 42 anos, sou formado em História e atualmente estou desempregado. Moro em Belo Horizonte, a terra de vários nomes consagrados e sagrados da música não só nacional, mas também mundial. Meu envolvimento com música aconteceu bem cedo. Tinha 8 anos de idade quando vi pela primeira vez o Kiss, que estava vindo para uma turnê no Brasil. Era uma criança normal, que só ia pra escola e brincava com os amigos. Mas logo nas primeiras batidas da música eu despiroquei com aquilo. O som, a imagem e o impacto da vinda do grupo foi muito forte em mim. Mas foi mesmo com o anúncio do primeiro Rock in Rio em meados de 1984 e os shows que posteriormente passaram na TV que fizeram um estrago na minha vida. Dalí em diante minha vida se resumiu a heavy metal 24 horas por dia.
  
Quantos discos você tem em sua coleção?

Eu não saberia dizer um número exato, pois realmente sou muito desligado com isso. Eu sou meio que um rolo compressor, vou comprando e trocando sem parar, e acaba que eu mesmo fico perdido quanto a números. Mas tenho a certeza de que já passei de 2.000 CDs em casa, mas confesso que tenho algumas cópias na coleção. São de discos difíceis de se encontrar e alguns bootlegs. Além de CDs, outro vício meu são DVDs de shows, possuo mais de 4.000 em casa. Gosto muito de vídeo bootlegs, pois como sabemos, os anos 1960, 1970 e 1980 não eram como hoje, em que as bandas lançam um disco e em seguida também lançam um DVD/blu-ray da turnê.

Quando você começou a colecionar discos?

Mais ou menos em 1985 eu comecei a comprar discos de vinil. Era uma coisa louca, pois eu não trabalhava e não tinha logicamente renda alguma. Era tudo na base de amolação aos parentes, seja pedindo dinheiro ou senão fazendo todo tipo de loucuras, como trocar roupas, sapatos e qualquer outra coisa por discos. Já andei quilômetros a pé atrás de LPs, seja indo a lojas especializadas ou mesmo na casa de pessoas que nem conhecia, só com a informação que essa outra pessoa tinha o disco tal e poderia trocar. Era na base do boca a boca as informações sobre quem tinha discos pra trocar. Se essa pessoa não aceitasse a troca eu sempre quando possível estava com uma fita-cassete na mão e pedia pra gravar. Fazia-se muitas amizades com esse esquema.
  



Você lembra qual foi o seu primeiro disco? Ainda o tem em sua coleção?

Na verdade foram 3 discos que eu ganhei de minha mãe de uma só vez, e isso foi na base de muito choro e amolação pra conseguir. Foram discos de Ozzy Osbourne, Accept e Kiss.
  
Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um ouvinte de música, mas sim um colecionador de discos?

Nossa, isso aconteceu desde o primeiro momento em que eu ganhei meus primeiros discos. Queria sempre mais e mais. Poucos itens não eram suficientes de forma alguma, eu queria ter muito mais sempre. Todo e qualquer dinheiro que eu ganhasse era exclusivamente para a compra de discos. Não queria roupas, sapatos ou qualquer outra coisa, só pensava em discos, e ao que parece até hoje sou desse jeito.
  
Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de gêneros ou usa algum outro critério?

Já tentei colocar tudo em ordem alfabética, mas isso não durou muito tempo. Uso mais o critério de deixar os discos de um mesmo artista/banda juntos, pois como meu espaço é limitado, eu acabo tendo que fazer encaixes pra poder caber um número exato num determinado espaço.
  


Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?

Tenho um problema sério quanto a isso. Moro em um pequeno apartamento junto de minha esposa e filha. Realmente posso dizer que é um local pequeno, e pra piorar tudo, eu consegui a façanha de ocupar cada espaço disponível com minhas coisas. Como tenho muita coisa e pouco espaço, optei por usar gaveteiros e até um móvel para guardar os meus CDs. Não tenho como mandar fazer um móvel bacana pra colocá-los infelizmente, então vou de improviso mesmo, mas sempre com um cuidado especial com minhas coisas. Gostaria de poder contar com móvel bacana, daqueles que dá gosto de se ver, mas minha realidade é diferente justamente por causa de espaço. Minha coleção é a mais feia que você verá aqui no Collectors Room, com certeza.

Que é isso, rapaz (risos). O que importa é o conteúdo. Que dica de conservação você dá para quem também coleciona discos?

A maior dica é ter muito cuidado com seus discos, e isso vale pra qualquer coisa na vida. Tudo hoje é muito caro e você tem que saber valorizar aquilo que você tem. Mantenha tudo limpo, e o principal, manuseie sempre com muito cuidado. Não há sensação melhor que você saber que possui algo e aquilo está conservado.

Você já ouviu tudo que tem? Consegue ouvir os títulos que tem em sua coleção frequentemente?

Sim, já ouvi tudo. Estou sempre dando uma revisitada em todos eles. Escuto uns 10 ou mais discos por dia, sem pausas. Começo pela manhã e vou até a noite, isso todos os dias. A vida de desempregado tem pelo menos essa vantagem.


Qual o seu gênero musical favorito e a sua banda preferida?

Sempre fui ligado ao universo do heavy metal. Gosto de quase tudo ligado ao rock, mas o metal é a minha vida. Gosto de muita coisa, é difícil dizer tudo que eu gosto, pois são milhares de bandas, mas o Kiss é minha banda nº 1 desde sempre. Vou morrer escutando Kiss.

De qual banda você tem mais itens em sua coleção?

Não saberia dizer ao certo qual eu teria mais itens, pois tenho tanta coisa de bandas diferentes que nunca parei pra analisar ao certo qual eu teria mais itens, pra falar a verdade. Mas as bandas que eu mais gosto eu sempre procuro ter todos os seus lançamentos, além de camisetas, etc.

Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?

Pergunta difícil essa. Nunca fui muito ligado a isso de querer ter raridades e tal, mas tenho alguns itens bacanas em casa, mas nada de esplêndido. Tenho algumas edições limitadas e especiais, só isso.


Você é daqueles que precisa ter várias versões do mesmo disco em seu acervo, ou se contenta em completar as discografias das bandas que mais curte?

Tenho algumas versões de um mesmo disco repetidas, mas é por causa daqueles velhos truques da indústria de primeiro lançar o álbum em CD, depois vem as versões remaster e ainda depois as versões deluxe. Aí já viu, acaba que tenho duas ou mais versões de um mesmo título. Não sou de vender meus discos, pois sei que ao levá-los em alguma loja vou receber algum tipo de oferta absurda, e aí prefiro ficar com eles guardados em casa. Algumas bandas eu faço questão de ter a discografia completa, mas são poucas, pois todo artista tem seus altos e baixos, e aí prefiro ter os que julgo serem os melhores sempre.

Além de discos (CDs, LPs), você possui alguma outra coleção?

Isso se estende pra mais algumas coisas. Sou um cara acumulador. Tudo meu é em número exagerado, e isso se estende a instrumentos musicais, revistas, livros, fitas K-7, camisetas de bandas, séries antigas de TV, etc.

Em uma época como essa, onde as lojas de discos estão em extinção, como você faz para comprar discos? Ainda frequente alguma loja física ou é tudo pela internet?

Ainda compro e frequento lojas daqui de BH que geralmente são de amigos de muitos anos, que assim como eu gostam do produto físico. Também compro pela internet e faço trocas com amigos que fiz no exterior. Muitos pedem coisas de artistas nacionais não só de metal, mas também de MPB. Acaba que eu envio um monte de coisas pra fora do país e recebo em troca coisas que não se encontra mais facilmente por aqui.



Que loja de discos você indica para os nossos leitores? 

Existem ainda muitas lojas bacanas no Brasil. Virtuais existem várias com ótimo atendimento, como a DieHard, Hellion e até mesmo vendedores que atendem diretamente no Mercado Livre. Físicas só poderia indicar as de minha cidade, como a All Wave, Point Rock, Cogumelo e Powerslave. São lojas muito bacanas. Além disso, todas também tem seus canais de vendas pela internet, e vale a pena dar uma conferida no catálogo delas. Muita gente se concentra em lojas de SP para compras virtuais, mas é justamente nessas lojas de outras cidades que você acaba encontrando algumas preciosidades escondidas.

Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou discos?

Já comprei coisas em supermercados e bares, além de comprar discos de pessoas desconhecidas no meio da rua que chegam com algum disco em mãos e te oferecem.

O que as pessoas pensam da sua coleção de discos, já que vivemos um tempo em que o formato físico tem caído em desuso e a música migrou para o formato digital?

Acho que é mais a curiosidade mesmo de ver uma pessoa ter tantos discos, o que já não é mais tão comum hoje em dia. Mas a maioria de meus amigos são iguais a mim mesmo, eles tem praticamente as mesmas manias e gostos que eu, e aí acaba sendo algo natural. Nossas esposas é que teimam em não compreender isso, mas a vida é desse jeito.



Você se espelha em alguma outra coleção de discos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?

Não, nunca me espelhei na coleção de alguém em particular. Alias, acredito que todo colecionador é desse jeito. Acho que é mais vontade mesmo de ter muitas coisas do que querer ter algo igual a outra pessoa.

Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de discos?

A boa música sempre carrega consigo alto valor cultural. A música me ensinou sobre história, filosofia, política, artes e religião mais do que aprendi na escola quando criança. Foi através do heavy metal, que é o estilo musical que mais usa temas históricos em suas letras, que eu me fascinei por História e hoje sou professor graças a isso. Existem músicos que não só são grandes instrumentistas, mas também grandes letristas, e eles são minha fonte eterna de inspiração. Músicos como Steve Harris, Geezer Butler, Jon Anderson, Neil Peart e Roger Waters, são ótimos escritores de letras e conceitos. Querendo ou não, isso acaba dando bagagem cultural ao ouvinte atento.

O que significa ser um colecionador de discos?

Pra mim significa ser um amante da música antes de qualquer coisa.


Qual o papel da música na sua vida?

Pra mim música é tudo. Foi através da música que eu fiz e faço muitos amigos. Acho que se não fosse por esse envolvimento com a música eu hoje seria um cara com uma vida totalmente diferente e chata.

Pra fechar: o que você está ouvindo e o que recomenda para os nossos leitores?

Embora muita gente não concorde ou acredite, há muitas novas bandas legais. Também as bandas chamadas clássicas vem lançando discos muito bons e eu como fã sempre acompanho o que elas estão lançando. Eu tenho escutado muito rock progressivo e classic rock. Estou na fase de redescoberta de algumas bandas que eu não era muito fã, ou mesmo das que eu gosto, mas que estava sem ouvir há muito tempo. Ultimamente estou na base de Eric Clapton, Led Zeppelin, Rolling Stones, Emerson, Lake & Palmer, Eloy e Beatles.


Comentários

  1. Sensacional entrevista e coleção, esse cara tem uma coleção muito boa e que continue crescendo.

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