Quadrinhos: Cannon, de Wallace Wood


Dando seguimento ao seu braço editorial, o Pipoca & Nanquim lançou no início de junho o seu segundo quadrinho. E o escolhido pelo trio Alexandre Callari, Bruno Zago e Daniel Lopes foi Cannon, antologia que traz as histórias do espião criado pelo norte-americano Wallace Wood.

Antes de falar da HQ, é preciso contextualizar um pouco as coisas. A criação de John Cannon, personagem principal das histórias, foi uma solicitação do exército dos Estados Unidos para Wood, com o objetivo de entreter e animar as tropas americanas que lutavam a Guerra do Vietnã. Trata-se de um quadrinho escrito nos anos 1970, originalmente para tiras de jornal, e que é exagerado em todos os aspectos.

John Cannon coloca no chinelo qualquer personagem durão que você possa imaginar. James Bond, o Cobra de Stallone, Dirty Harry, qualquer um: Cannon é mais foda, mais forte, mais inteligente, mais tudo que todos os outros juntos. Ele é a representação no papel do que os soldados deveriam ser: destemidos, fortes e dispostos a tudo para defender o seu país. Esse é a parte “para entreter” listada na solicitação enviada a Wood.




A parte “para animar” vem com inúmeras mulheres, todas sempre gostosas e voluptuosas, e que, invariavelmente, estão com pouca ou nenhuma roupa em praticamente todas as páginas da HQ. E elas não precisam ter motivos muito críveis para isso: o motivo maior é apenas dar aos soldados das trincheiras algo para fantasiar e tirá-los da realidade sufocante encontrada no país asiático. O traço de Wood, limpo e clássico, torna esse aspecto ainda mais evidente.

Tendo isso em mente, entendendo todo o contexto em que Cannon surgiu, você tem as ferramentas para curtir a criação de Wally Wood. E ela é viciante. O ritmo das tramas - cujos enredos são bastante simples - é frenético, com lutas, intrigas, explosões e conflitos constantes. E mulheres com seios de fora e corpos lindos pipocando em todos os cantos. 

Ainda que a pegada de Wood possa levantar questionamentos no público contemporâneo, acostumado com um mundo onde o politicamente correto e a busca pela igualdade de gêneros é uma regra (muito bem-vinda, por sinal), é evidente que a proposta das aventuras de John Cannon caiu como uma luva entre os soldados norte-americanos, servindo-lhes de apoio para o duro dia a dia da guerra. Neste aspecto, a leitura da exemplar introdução escrita por Callari é extremamente recomendável, pois coloca na mesa toda a realidade na qual o quadrinho surgiu.

A edição brasileira de Cannon reúne todas as tiras criadas por Wallace Wood entre 1970 e 1973, publicadas em um período de 30 meses. O material vem em capa dura e no formato horizontal, com 276 páginas em preto e branco impressas em papel pisa brite de alta gramatura. O acabamento gráfico mantém o ótimo padrão apresentado no lançamento anterior da editora, Espadas e Bruxas, e mostra o cuidado com que o Pipoca & Nanquim tem feito a sua entrada no mercado de quadrinhos brasileiro, publicando títulos que suprem lacunas históricas e vem em edições que enchem os olhos.

O resultado é mais uma ótima HQ, e que reforça a pegada “de fã para fã” que os títulos do Pipoca & Nanquim tem apresentado.

Diversão garantida e entretenimento sem compromisso. Vale a leitura!

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