Review: The War on Drugs - A Deeper Understanding (2017)


Não, eu passo longe de um resenhista musical, pouco domino os termos mais técnicos e, não raras vezes, sou incapaz de traçar paralelos com momentos distintos de outras bandas, num exercício que Gastão Moreira faria de ouvidos tapados, observando o encarte apenas. Daí, então, perguntarão: o que faz aqui? Como todo bom ouvinte, que sabe ao menos que música se faz polarizada – a boa e a ruim -, eu gosto de discutir alguns álbuns. E não costumo gastar muitas palavras para aquilo que julgo irrelevante, afinal, demanda certo exercício cerebral e dispenso a fadiga.

Breve introdução feita. Vamos ao álbum.

2017 tem sido um ano estranho. Vi bons lançamentos, claro, mas pouquíssimos que tragam aquela sensação de não-tem-algo-parecido-vou-escutar-de-novo, tão comum em álbuns já consagrados. Eu digo um com absoluta certeza, e que integrará muitas listas: DAMN, do Kendrick Lamar. Digo outro também, e que é o tema disso: A Deeper Understanding, do The War On Drugs.

Antes, faz-se necessário dizer o seguinte: o álbum é lindo. Não encontrei algo melhor para defini-lo numa única palavra. Se quiser parar por aqui, já deveria ser o bastante para convencê-lo a escutar. 

Esqueçamos a bibliografia & afins, o tipo de informação que possa ser contemplada numa wikipedia. 

A banda vem numa crescente desde a mudança gradual no direcionamento sonoro, acentuado no Slave Ambient (2011), seguido pelo belíssimo Lost in the Dream (2014) e que culminou neste que aqui é um pouco comentado. Vale dizer: Ouçam todos.

Voltando ao A Deeper Understanding: a duração é atípica para uma era de informações superficiais, de fácil digestão. A faixa mais curta tem quatro minutos, enquanto as demais superam a casa dos cinco, sendo a mais longa com onze minutos e pouquinho - a duração total do álbum bate em uma hora e seis minutos, segundo o streaming. Contudo, em momento algum é enfadonho ou cansativo, tem fluidez, algo que tem sido um grande defeito em muitos álbuns de rock, seja indie, alternativo ou mais tradicional mesmo. 

Há, também, uma delicadeza, certa sensação de fragilidade talvez, no canto do vocalista que acalenta os ouvidos. As músicas parecem sempre estar prontas a se desmancharem e se perderem pelo ar, com a mesma agilidade que esquecemos um sonho bom no simples abrir dos olhos. É isso: cada faixa surge como uma camada que resulta num estágio do sono, tal o esmero que Adam Granduciel teve ao criar os sons, pinçando cada acorde, cada palavra, a melodia e os colocando um a um na composição. Não sei, aliás, qual será a sensação de quem se atrever a escutar o disco, entretanto, quando o ouvi, senti um inevitável universo de sensações, podendo ser uma euforia ou melancolia, até urgência, sabe-se lá a razão. Creio eu ser esta uma característica dos grandes álbuns, como este se revelou ao longo da audição. No mais, um trabalho dedicado, certamente, de horas a fio em busca do REM musical.

Por Pietro Mirandez

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