Quadrinhos: Marvels, de Kurt Busiek e Alex Ross


Publicada em quatro edições entre janeiro e abril de 1994, Marvels é um dos melhores quadrinhos da década de 1990 e um dos maiores clássicos da Marvel. Escrita por Kurt Busiek e ilustrada por Alex Ross, a série mergulha no universo da editora imaginando como seria um mundo com super-heróis, mas sob o ponto de vista de uma pessoa comum. O sucesso tanto de público quanto de crítica foi tamanho que levou a DC a realizar um trabalho semelhante com Ross em O Reino do Amanhã, publicada dois anos depois e roteirizada por Mark Waid.

No Brasil, Marvels saiu pela primeira vez em 1995 pela Editora Abril, seguindo o formato de quatro edições e trazendo sobrecapas em acetato. A Panini encadernou a série em 2005 em uma edição comemorativa de 10 anos, disponível tanto em capa dura quanto em capa cartão. Essa mesma edição foi relançada em 2010, porém com uma outra arte de capa. E a série também saiu dentro da coleção de graphic novels Marvel da editora Salvat, desta vez em 2013. Marvels acaba de ser relançada no Brasil mais uma vez, desta vez em uma edição de 240 páginas, capa dura e papel couché, no formato 17x26 cm, com bastante material extra como bônus.


Existem alguns quadrinhos obrigatórios, e esse é um deles. O texto escrito por Kurt Busiek e a arte única de Alex Ross levam o leitor em uma jornada fascinante por momentos marcantes da história do universo Marvel. A principal sacada da dupla, além de mostrar tudo pelos olhos de um cidadão comum e sem poderes, é inserir fatos emblemáticos dos quadrinhos no roteiro, fazendo com que cada página seja uma gratificante surpresa para quem está familiarizado com o universo da editora. 

Além disso, Busiek estava especialmente inspirado quando escreveu Marvels. Seu texto é quase um poema de devoção aos personagens, carregado de uma pegada lúdica e de um conhecimento enciclopédico sobre o tema, levando o leitor invariavelmente à emoção. Não são raros os momentos em que você sente os pelos arrepiando e quase chega às lágrimas. Isso sem falar, é claro, no absoluto domínio narrativo que faz com que a leitura seja um prazer do início ao fim.


Já Alex Ross também brilha de maneira absoluta. Sua arte característica, que usa modelos reais para compor expressões realistas, é um desbunde como sempre. Esse foi o primeiro trabalho a mostrar para o mundo a abordagem artística única de Ross, e, como era de se esperar, deixou tanto o público quanto a imprensa de queixo caído. Alex expressa a sua paixão pelo universo Marvel em telas que, além de belíssimas, estão repletas de easter eggs e referências não apenas ao passado da editora, mas também fazem alusão à DC Comics (Clark Kent e Louis Lane estão em Marvels), à cultura pop (os Beatles também mandam um alô nas páginas) e a sua própria vida pessoal. Um guia presente nos extras, e escrito pelo próprio Ross, lista todas as referências e brincadeiras que ele fez nas páginas, e é divertidíssimo de acompanhar.

O material extra incluído nesta nova edição da Panini, salvo engano, é o mesmo presente nos encadernado anteriores. Há uma quantidade razoável de material adicional, mas que não chega nem perto do enorme adicional presente na edição definitiva de O Reino do Amanhã, por exemplo.


Marvels é, literalmente, uma história nota 10. Uma das maiores expressões de amor aos quadrinhos e à Casa das Ideias, e que ainda por cima conseguir trazer uma abordagem original a um gênero que, na época, vivia o auge das artes exageradas de nomes como Todd McFarlane e Rob Liefeld, que estavam muito mais preocupados em dar destaque às ilustrações do que aos roteiros. Assim como O Reino do Amanhã, Marvels foi uma reação ao caos dos quadrinhos dos anos 1990, e junto ao seu equivalente na DC Comics acabou se tornando uma das grandes obras da nona arte em todos os tempos.

Caso você ainda não tenha lido, aproveite essa nova edição!





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