A plebe é rude e a minha juventude era doce


O canal Brasil, em parceira com a Pietá Filmes, disponibilizou no serviço Now da Net para aluguel (custa '11 temeres e alguns Lulas') o documentário A Plebe é Rude (2016, com direção de Diego da Costa e Hiro Ishikawa e co-produção da Doctela), sobre a impactante banda brasiliense de rock dos anos 1980, Plebe Rude. Em determinada cena do doc, o ex-vocalista e guitarrista Jander "Ameba" - que não gravou participação por motivos que você entende assistindo ao doc ou conhecendo a história da banda -, em declaração descrita na tela, afirma que a Plebe é como a namorada da juventude que você tem boas lembranças, uma fase, que já ficou pra trás e tal.

Discordo, meu caro Jander, e compreendo seus motivos tão bem discutidos no filme, que não tem vergonha e pudores de expor os conflitos internos da banda, especialmente entre os frontmen, com especial atenção à natureza introvertida de Jander e sua demissão da forma sorrateira que foi (acabou “convidado a sair” depois das experimentações do terceiro disco) e da pouca prática da banda com as regras de mercado. Discordo, porque a marca que a Plebe Rude deixou no cenário do rock nacional em sua meteórica ascensão e queda é indelével e inesquecível para quem viveu a época e para as demais bandas dos anos 1980-1990 que lhes prestaram tributo e atenção, como bem lembra o padrinho musical do grupo Herbert Viana, dos Paralamas. E para minha história musical, a Plebe é muito marcante, conforme vou contar mais adiante.

O documentário é produzido de forma simples e bem narrado pelos próprios membros da banda (com exceção de Jander) e por um pequeno, mas relevante, grupo de pessoas que tiveram papel importante no sucesso de André X (baixo), Phillippe Seabra (voz e guitarra), Gutje (bateria) e Jander "Ameba" Bilaphra. Mostra o começo do quarteto que reunia brilhantemente os vocais de Seabra (tenor) e Ameba (baixo-barítono) e as boas guitarras  de ambos, com letras politizadas sobre as incertezas do país desde os estertores da ditadura.


Sem fazer concessões a Plebe Rude vendeu 500 mil cópias de seus seis discos, tocou no rádio e se apresentou na televisão. O primeiro lançamento, um mini-LP de 7 músicas, O Concreto Já Rachou, é "o disco perfeito" do rock nacional para o jornalista Arthur Dapieve, estando na lista dos 100 melhores álbuns da música brasileira feita pela revista Rolling Stone, ficando em 57º lugar.

O doc conta ainda com a "participação" de Renato Russo em imagens de arquivo falando sobre a Plebe Rude, que lhe era tão cara, descrevendo brevemente a cena musical punk e roqueira de Brasília, São Paulo e Rio, com boas histórias da zoação que reinava nos anos iniciais do grupo, com destaque para o ex-batera Gutje, além do peculiar senso de humor/sarcasmo dos caras - que não se vendiam facilmente ao sistema, como se via em letras como "A Minha Renda" e a hilária auto-paródia de Herbert na canção.

Muitas cenas de arquivo de shows (algumas inéditas), vídeos de viagens, depoimentos e imagens de influências musicais como The Clash e The Who, depoimentos do produtor Jorge Davidson, contando um pouco sobre a problemática relação da EMI com a banda e os programas do Chacrinha da TV Globo, além de Dapieve contextualizando a banda no cenário do BRock.


A saída de Jander é abertamente discutida como sendo decorrente da própria falta de diálogo e compatibilidade dele com os dois membros ainda ativos do grupo, agora com Clemente (dos Inocentes, que aparece bastante também no doc) em seu lugar. E o filme deixa claro o que sempre achei: a saída de Jander revelou-se o fim da banda - ao menos do seu sucesso - pelo seu inegável talento e contraponto perfeito a Phillippe na condução da Plebe.

O doc retrata no final a volta da Plebe Rude com o  CD ao vivo e a entrada de Clemente e de Txotxa na bateria, que já havia integrado o Maskavo Roots, substituído atualmente por Marcelo Capucci.

Recomendo demais o filme para quem não conhece a Plebe Rude e para quem, como eu, que viveu a época (mas perdi o showzaço de 1987 no Canecão, que os colegas do colégio foram!) e sente muita saudade daquele rock com pegada e atitude espontâneas, especialmente em se tratando da primeira música que coverizamos na banda do colégio (Interlúdio), o hit "Proteção (versão com Do Leme ao Pontal)" em que cantei pela primeira vez em uma banda de rock, ainda de aparelho nos dentes...e saía "é para a sua 'poteção"..." , por causa do aparelho…..hehe...



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