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Mark Millar já havia explorado a ideia de super-heróis assumindo o controle do mundo em Authority - séria criada por Warren Ellis que o escocês assumiu após a saída do escritor inglês -, mas a abordagem que ele adota em O Legado de Júpiter é diferente. Enquanto no excelente Authority o ar de “massaveísmo" dava o tom, com lutas grandiosas e diálogos afiados brotando em todas as páginas, na igualmente ótima O Legado de Júpiter vemos Millar explorar a fundo as potenciais consequências de um mundo onde os super-heróis não se limitam apenas à luta com vilões e passam a interferir também na economia, na política e em todas as esferas da sociedade.
A série, que conta com os desenhos incríveis e cheios de personalidade de Frank Quitely, acaba de ter o seu segundo volume lançado no Brasil. Com um grande intervalo de tempo em relação ao primeiro, que a Panini publicou por aqui em agosto de 2016, O Legado de Júpiter - Livro Dois (capa dura, 136 páginas, papel couché) chegou às bancas no final de abril e dá sequência ao raciocínio desenvolvido por Millar no primeiro volume.
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Nesta segunda parte, os super-heróis assumiram o controle dos Estados Unidos, que passa a ser governado pelo filho do antigo maior herói do mundo, que possuía uma certa semelhança conceitual com o Superman. O problema é que esse jovem sempre foi um indivíduo mimado e arrogante, e isso acaba refletindo nas decisões que ele toma à frente do governo americano. Esse é o ponto de partida para Millar criticar de maneira veemente o autoritarismo, o fascismo e outros aspectos que varrem a liberdade individual para debaixo do tapete. A relação dos EUA com outras nações é afetada, o país sofre as consequências e a população, que deveria ter o seu bem estar como prioridade, é ignorada pelo novo governo.
Acontece que esse carinha que assumiu o poder tem uma irmã. E é justamente ela a contrapartida para as suas atitudes questionáveis. Não tendo mais super-heróis para recorrer, já que todos ficaram fascinados com a proposta do novo mundo no qual estão envolvidos, a solução é recorrer para pessoas superpoderosas consideradas “vilãs" e montar um grupo para tentar conter as ações do garoto mimado que está no poder. Nesse aspecto, o drama familiar que permeou todo o primeiro volume ganha novos contornos, com um embate contundente e cheio de discussões filosóficas sobre o que cada um dos lados prega e defende, com argumentos prós e contras sendo colocados na mesa. E a chegada de um indivíduo das antigas, amargo e desiludido com tudo e com todos, é a cereja do bolo na construção de um universo de personagens apaixonante.
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A arte de Frank Quitely é um caso à parte. A forma como ele retrata os poderes de cada personagem que surge nas páginas é de cair o queixo, um exercício de imaginação que conquista o leitor pelo preciosismo e pelas belas soluções apresentadas. Além disso, a narrativa gráfica de Quitely possui tons cinematográficos, fazendo com que a união entre a arte e o texto de Millar transmita a sensação de estarmos assistindo a um blockbuster muito bem feito.
Apesar de alguns erros de ortografia e de revisão, O Legado de Júpiter - Livro Dois é uma excepcional HQ, um título bastante fora da curva e que apresenta ideias e questionamentos alinhados com o que os Estados Unidos e o mundo vivem atualmente.
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