Minhas HQs: direto de Minas Gerais, a coleção e as histórias de Leo Braca


De colecionador pra colecionador, faça uma breve apresentação para os nossos leitores.

Oi! Eu sou o Leo Braca e basicamente eu sou leitor de histórias em quadrinhos (além de livros), designer, baterista, gamer, além de marido e pai. Coleciono HQs há quase 20 anos e produzo conteúdo voltado para o universo dos quadrinhos desde 2014, sendo um dos criadores do extinto Clube do Quadrinho (https://www.youtube.com/user/clubedoquadrinho) e hoje tenho um projeto solo, também voltado pra quadrinhos, que é o Li/Reli (https://www.youtube.com/channel/UCCi631PDKXcwDJjp-W4TJZw). 

Quantas HQs você tem em sua coleção?

Nunca parei pra contar. Acho que talvez tenha umas 300, chutando. Mas um dia eu paro pra contar e te conto (risos).

Quando você começou a colecionar HQs?

Comecei quando criança, lendo Turma da Mônica e Trapalhões. Depois voltei a ler quadrinhos de herói, na adolescência, lá pelos 15, 16 anos. E de lá pra cá nunca mais parei. 

Você lembra qual foi a sua primeira HQ? Ainda a tem em sua coleção?

Que eu ganhei quando criança? Não lembro. Mas a que eu comprei com um grana que juntava do lanche do recreio e ela abriu as portas pra eu continuar lendo e comprando quadrinhos foi Batman: Cavaleiro das Trevas, do Frank Miller.


Quando caiu a ficha e você percebeu que não era só um leitor de quadrinhos, mas sim um colecionador de quadrinhos?

Quando o espaço começou a faltar no quarto e eu tive que comprar uma estante. 

Como você organiza a sua coleção? Por ordem alfabética, de editora, autores, personagens, ou usa algum outro critério?

Costumo organizar por personagens os de super-heróis, e por editora. 

Onde você guarda a sua coleção? Foi preciso construir um móvel exclusivo pra guardar tudo, ou você conseguiu resolver com estantes mesmo?

Hoje minha coleção fica nas estantes do escritório e o espaço tá acabando.

Que dica de conservação você dá para quem também coleciona HQs?

Evite sol e ambientes muito húmidos. 

Você já leu tudo que tem? 

Até 3 anos atrás a resposta seria sim. Mas de lá pra cá sempre tem uma pilha me esperando. 



Você tem o hábito de retornar a alguma quadrinho tempos depois de lê-lo pela primeira vez, entrando em contato novamente com a história? Essas releituras já fizeram você mudar a sua opinião que tinha sobre tal HQ quando a leu pela primeira vez?

Adoro voltar a ler histórias. Reler é um processo que te ajuda no autoconhecimento. Você consegue perceber o que mudou em você, das coisas que não dava importância e hoje se importa. Como sua mente e seu olhar se comportam ao ler uma história e com um repertório maior desvendar novas camadas de leitura. 

Qual o seu escritor preferido e o seu personagem favorito?

Escritor: Neil Gaiman. Personagem: Sandman.

De qual personagem, autor e editora você tem mais itens em sua coleção?

Olha, de personagem rola um embate entre Batman e Demolidor nos quadrinhos de herói. De autor, acredito que a coisa fica ali entre o Warren Ellis, Alan Moore, Neil Gaiman e Brian K. Vaughan. Editora é a Panini, com certeza.

Quais são os itens mais raros, e também aqueles que você mais gosta, na sua coleção?

Um item raro é o primeiro volume do Cavaleiro das Trevas III americano com autógrafo do Frank Miller. Outro que é raro e eu gosto é a coleção completa de Sandman da editora Conrad, que segundo o próprio Gaiman é a melhor de todas as publicações já feitas da série criada por ele. Outros títulos que gosto: Superman: Identidade Secreta, do Kurt Busiek e Stuart Immonen, e Retalhos, do Craig Thompson.


Você só coleciona edições brasileiras ou tem o hábito de também adquirir edições gringas para o seu acervo de quadrinhos?

Basicamente minha coleção é de HQs em português. Existem algumas edições em inglês, mas não é meu foco (ainda) adquirir edições gringas.

Você ainda frequenta bancas de revistas e livrarias, ou hoje compra tudo pela internet mesmo?

Hoje, a maioria das compras faço pela internet mesmo, sendo 99% na Amazon BR. Mas adoro ir em livrarias ou parar numa banca que tenha um espaço legal pra quadrinhos, o que é bem difícil esses dias. Infelizmente, as HQs estão virando artigo de luxo voltado pra adultos (jovens ou velhos) que podem pagar mais de $60 dinheiros em um encadernado que há menos de 5 anos atrás custava metade do preço. Ou seja, uma forma de arte que poderia ser mais popular está virando algo elitista de uma forma bem maléfica, porque essa política de preços para formatos cada vez mais luxuosos só visa o colecionador que tem grana e ferra qualquer possibilidade de renovação e ampliação das pessoas que leem quadrinhos, especialmente crianças e adolescentes. Mas isso é outra história.

Que loja de HQs você indica para os nossos leitores? 

Hoje indico a Amazon pelos descontos e promoções constantes. 

Qual foi o lugar mais estranho em que você já comprou quadrinhos?

Num posto de beira de estrada. Lá tinha uma edição de um mangá que eu colecionava mas que anos depois eu vendi depois de ler o título do início ao fim.

Que HQs você indicaria para quem nunca leu quadrinhos e quer começar a se aventurar pela nona arte?

O segundo episódio do Li/Reli é dedicado às pessoas que querem mas não sabem como começar a ler quadrinhos. Além de desmistificar alguns pontos, eu indico 85 títulos diferentes para começar a ler quadrinhos ;)

Para assistir o programa é só dar play abaixo:



Mas eu tenho uma listinha básica que é: Retalhos do Craig Thompson, Os Supremos Vol. 1 de Mark Millar e Bryan Hitch, Batman Ano Um do Frank Miller e David Mazzuchelli, O Homem Que Passeia do Jiro Taniguchi, Maus do Art Spiegelman. 

Quais foram as cinco melhores HQs que você já leu na vida? E as piores?

Fazer uma lista é complicada, mas atualmente ela é composta de Sandman - Vidas Breves, Sandman - Estação das Brumas, Retalhos, Transmetropolitan Vol. 1 e Preacher - A Caminho do Texas. Listar as piores é complicado, mas eu não consigo gostar do Cavaleiro das Trevas 2, do Frank Miller. 

O que as pessoas pensam da sua coleção de quadrinhos? Estranham este hábito ou admiram a sua biblioteca?

Algumas pessoas gostam, outras acham perda de tempo e de dinheiro. Mas eu não me importo. O que eu fico feliz é que minha esposa curte e me apoia, não só na coleção mas nos projetos e na vida também.


Você se espelha em alguma outra coleção de quadrinhos, ou outro colecionador, para seguir com a sua? Alguém o inspira nessa jornada?

Não me espelho em ninguém, na verdade. Acho que colecionar é algo pessoal e você descobre o seu próprio caminho, sabe como? É massa conversar com as pessoas e descobrir coisas que estão no seu "humor de leitura". Uma coisas que eu procuro é não ter barreiras ou preconceitos de leitura, até porque uma boa história pode vir de qualquer lugar.

Qual o valor cultural, e não apenas financeiro, que você vê em uma coleção de HQs como a sua?

Pra mim não tem preço. As leituras, o aprendizado, a evolução, a diversão que tenho com HQs, é algo que está na minha vida diária há pelo menos 20 anos. O valor cultural de um quadrinho é imenso. A oportunidade de conhecer novos mundos, novos pontos de vista, ter nos quadrinhos uma arte que questiona mas também pode ser um espelho do nosso tempo, nos mostrando o que somos e como podemos melhorar. A forma poderosa de se contar histórias de uma maneira que é acessível a pessoas de todas as idades. 

Vai chegar uma hora em que você vai dizer "pronto, tenho tudo o que queria e não preciso comprar mais quadrinhos", ou isso é uma utopia para um colecionador?

A indústria cultural não deixa, né? Sempre haverão histórias, seja no papel ou nas telas, em um número muito maior do que conseguimos ler ou comprar. Mas o ponto final de uma coleção pode ser dado a qualquer momento pelo colecionador. Basta fechar o vínculo com o desejo de conhecer novas histórias ou revisitar as antigas. É se sentir satisfeito e não ter vontade ou interesse pelo que ainda vai chegar. Mas nesse exato momento da vida eu não me vejo querendo fechar essa porta.



O que significa ser um colecionador de HQs?

Pra mim significa conseguir ler histórias num formato que amo e quem sabe posso compartilhar isso com as pessoas com o passar do tempo. Mais que colecionar, eu tenho vontade de ler. É o combustível real. Se um dia a vontade de ler histórias morrer, de que adianta colecionar?

Qual o papel dos quadrinhos na sua vida?

Os quadrinhos têm um papel muito importante. A leitura constante de quadrinhos é algo que mantém meu interesse em explorar e querer descobrir e aprender não só sobre o mundo a minha volta, mas sobre mim mesmo. 

Você fez parte do canal Clube do Quadrinho e agora está com um novo projeto sobre HQs, o Li/Reli. Fale um pouco sobre a proposta dessa nova iniciativa e quais os seus objetivos com ela.

A proposta do Li/Reli é criar conteúdo sobre quadrinhos e outros assuntos relacionados que sejam relevantes e com qualidade. É um projeto solo onde eu consigo aprender novas coisas a medida que eu estudo mais, pesquiso mais para fazer um vídeo ou uma pauta para publicar, seja no Facebook (https://www.facebook.com/lireli.tv/) ou Instagram (https://www.instagram.com/lireli.tv/). É onde eu posso praticar uma leitura sem preconceitos e barreiras e aumentar meu mundo um quadrinho por vez. Com isso, o objetivo do Li/Reli é deixar um legado que possa mostrar a importância e o poder que as histórias em quadrinhos tem. 



Uma curiosidade: como é a sua relação com a música? Quais bandas e artistas você curte?

Tudo o que eu falei em relação aos quadrinhos na minha vida posso falar que pra música é a mesma coisa. Desde moleque já gravava minhas fitas k7 pra tocar no walkman. E depois vieram os CDs, MP3, até chegar no Spotify. Ao crescer, ia em shows e depois de adulto era viajar para shows maiores, festivais maiores. A paixão era tanta que em 2005 comecei a tocar bateria e em 2006 montei uma banda autoral que tocava rock sem guitarra. Batizamos de The Hell's Kitchen Project e tivemos momentos memoráveis dentro e fora dos palcos, gravamos nosso álbum com um produtor magnífico, que é o Chico Neves e com masterização do Ben Findlay, que já trabalhou com Paul McCartney, Robert Plant e Peter Gabriel. Rodamos bem por Minas tocando pelo estado em festivais e nos aventuramos também em outros estados, como São Paulo, Bahia e Pará.  A banda durou 10 anos. Cada um seguiu seu caminho, mas eu ainda quero voltar pra música. Atravessar essa cortina de ouvinte para quem faz música me ajudou bastante, especialmente a não me prender em estilos musicais mas a enxergar a verdadeira voz de um artista com identidade. 

Ouvir música é um universo pra mim que não tem barreiras e eu consigo escutar desde Hans Zimmer até Tati Quebra Barraco, tudo na mesma semana. Curto muito rock, punk, hardcore e metal, pois foram os primeiros gêneros musicais que tenho lembrança de correr atrás pra escutar. Mas gosto de ter aquele frio na barriga quando descubro algo novo ou diferente, sabe?

Atualmente tô ouvindo muito Kendrick Lamar e Childish Gambino e tô viciado na tour do Hans Zimmer, onde ele tem uma banda absurda pra tocar seus sucessos como compositor de trilhas sonoras. De quebrada, descobri o trabalho dos caras do 2Cellos e de uma banda que mistura funk e soul norte-americanos com uma pegada asiática, chamada Khruangbin. Mas semana que vem, a lista muda (ou não) (risos).

Pra fechar: o que você está lendo atualmente e o que recomenda para os nossos leitores?

Atualmente estou lendo um autor chamado Shaun Tan. Acabei de ler A Chegada e estou abismado com a qualidade do livro. É uma história sobre êxodo, solidão e desafios que um imigrante passa ao deixar a família para trás e recomeçar em outras terras. Mas com um toque de fantasia e sem diálogo algum. É maravilhoso. E paralelamente estou lendo uma HQ que é uma fábula noir chamada Blacksad, sobre um mundo onde os habitantes são animais que falam mas com uma pegada noir bem clássica, com histórias de detetives e todo aquele charme de antigamente.


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