Verões Felizes, HQ franco-belga publicada no Brasil pela Editora SESI/SP, chega ao seu terceiro volume em terra brasilis e continua mantendo o alto nível. Desta vez, o roteirista Zidrou e o ilustrador Jordi Lafebre apresentam novos personagens enquanto seguem contando a história da família Faldérault.
Organizada em ordem reversa, a trajetória de Verões Felizes vai sempre mergulhando no passado da adorável família belga, que tem no quadrinista Pierre e em sua esposa Madô os personagens centrais. Em Rumo ao Sul, primeiro volume, conhecemos a família completa em uma viagem de carro que se passou em 1973 e com os quatro filhos quase adolescentes. Já em A Calanque, andamos um pouco mais para o passado e vimos a família ainda com crianças pequenas. E em A Senhoria Estérel, vamos até o ano de 1962 e descobrimos como nossos personagens conheceram o carro que lhes proporcionou todas essas aventuras.
Sim. Verões Felizes: A Senhorita Estérel (formato 23 x 30,8 cm, 64 páginas e capa mole) é uma história sobre um carro, o simpático Renault compacto que levou a família por todas as suas mais queridas recordações e aventuras. Assim como os dois volumes anteriores, não temos nada que se aproxime dos quadrinhos convencionais de super-heróis da Marvel e da DC. E isso é muito bom, porque nos afasta de uma indústria em grande parte dominada por fórmulas narrativas e que coloca os números de vendas sempre em primeiro lugar.
O maior mérito de Verões Felizes é contar uma história humana, focada nos pequenos acontecimentos do cotidiano, nas risadas espontâneas e nas emoções verdadeiras que vivemos todos os dias e que, em um mundo cada vez mais dominado pelo “parecer ser” em detrimento ao “ser realmente”, acabam ficando em segundo plano. Em A Senhorita Estérel, acompanhamos Pierre e Madô nos primeiros anos do seu casamento, quando apenas as suas duas filhas mais velhas já tinham vindo ao mundo e não passavam de crianças pequenas. Em uma viagem de férias pela França, o casal tem a companhia dos sogros de Pierre - um simpático vovô e uma mandona vovó. E a partir desse universo, Zidrou conta uma história que despeja baldes de humanidade no leitor, mostrando como a vida está cheia de experiências dignas de sorriso e de benção e que nós, na correria do dia a dia, acabamos muitas vezes ignorando.
A arte de Lafebre é absolutamente incrível, com um traço caricato muito expressivo e belíssimo, e que fica ainda mais forte com a colorização, que traz sutis elementos de aquarela e transpira vivacidade a cada página. A escolha da SESI/SP em lançar o título em um formato grande (seguindo o padrão dos dois volumes anteriores) faz com que a arte seja ainda mais valorizada, deixando evidente a harmonia entre o texto e as ilustrações - ou melhor, entre o modo de ver o mundo compartilhado por Zidrou e Lafebre.
Verões Felizes é uma série excelente e que parece não receber a devida atenção dos veículos especializados em quadrinhos aqui no Brasil. Não deixe passar essa HQ incrível, indicada para todas as idades e que, no mínimo, colocará um sorriso em seu rosto após a leitura.
Afinal, a felicidade está nas pequenas coisas. E a leitura proporcionada por uma ótima história em quadrinhos é uma delas.
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