Discoteca Básica Bizz #127: The Police - Reggatta de Blanc (1979)


Gravado nos estúdios Surrey Sound, o segundo disco do Police registra um rápido momento de paz entre os integrantes da banda. Além dos três, só o produtor Nigel Gray e o empresário Miles Copeland - irmão de Stewart - assistiram às gravações.

A revolução sonora que se ouve ao longo do álbum é fruto da modernização dos equipamentos utilizados pela banda. O disco é marcado pelas brincadeiras de Andy Summers com os primeiros modelos de efeitos eletrônicos - chorus e delays pré-históricos - e pela incrível performance de Stewart Copeland, que chegava à configuração definitiva de sua bateria ao aliar timbres típicos do reggae à sofisticação dos primeiros efeitos digitais desenvolvidos para o instrumento.

Não há como negar: Reggatta de Blanc é um dos pilares do que mais tarde convencionou-se chamar de rock dos anos 1980. Impulsionado pelos mega hits "Message in a Bottle" e "Walking on the Moon", o álbum abriu uma nova vertente dentro do rock e transformou o Police - formado por Sting (baixo e vocal), Andy Summers (guitarra) e Stewart Copeland (bateria) - numa das maiores e mais copiadas bandas da história.

Mais conhecido como o grupo que estrelava um comercial de chiclete na TV, o trio caiu no gosto do grande público com o lançamento deste seu segundo álbum, criado a partir da soma de dois ingredientes básicos. Aliando toda a energia crua do punk rock à economia sonora do reggae, o Police deu uma verdadeira tacada de mestre. Não por acaso, o título do disco é um trocadilho tolo que poderia ser traduzido como "reggae de branco".


A partir dessa fórmula aparentemente simples, o grupo forjou onze canções inesquecíveis, que vão do quase minimalismo de "Walking on the Moon" à elegância de "The Bed's Too Big Without You" e "Bring on the Night", duas das mais belas canções compostas por Sting. Stewart Copeland desova algumas das suas melhores músicas - coisa rara -, como a deliciosa crônica da vida suburbana exposta em "On Any Other Day".

Armado de uma liberdade criativa impressionante, o grupo brinca com a ópera em "Does Everyone Stare", redescobre o rock and roll em "No Time This Time” - com direito a solos perfeitos de Stewart Copeland e Andy Summers - e flerta com climax mais sombrios em "Deathwish". Mas, no final das contas, Reggatta de Blanc será lembrado por "Message in a Bottle".

Hoje, os integrantes da banda falam da música com todo o respeito que um clássico exige, concordando que essa é a maior canção do trio. Num daqueles surtos de inspiração que só acontecem uma vez na vida, Sting conseguiu criar um riff histórico - tão inesquecível quanto o de "(I Can't Get No) Satisfaction", por exemplo - e resgatar o que a poesia da música pop tem de melhor. Ao usar a metáfora do náufrago cercado por milhões de garrafas com mensagens de outros náufragos para contar sua história, o baixista entrou para o time dos grandes mestres do pop. Pena que hoje tanto talento seja coisa do passado.

Texto escrito por Hélio Gomes e publicado na Bizz #127, de janeiro de 1996

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