Discoteca Básica Bizz #146: Guns N' Roses - Appetite for Destruction (1987)


Coube a eles resgatar o romantismo de ser bad boy. Afinal, na segunda metade dos anos 1980 faltava cara de mau no meio dos chorosos alternativos. E para combater isso não havia nada melhor do que a trilogia sexo, drogas e rock and roll, revisada de tempos em tempos. O Guns assumiu a missão de devolver o gosto da subversão ao rock. Não foram poucos os que, inspirados pelas atitudes da banda, tiraram a jaqueta de couro do armário e compraram um Jack Daniels no primeiro boteco. Era de novo a hora e a vez de o cabelo crescer.

O grupo surgiu quando Axl Rose (nome artístico de William Bailey), um adolescente de passado problemático, fã de Queen e Electric Light Orchestra, cruzou o caminho do guitarrista Izzy Stradlin. Corria o ano de 1985. O local do encontro foi a cidade de Los Angeles, uma espécie de templo do rock norte-americano dos anos 1980. O nome Guns N’ Roses foi tirado de duas antigas bandas da dupla: L.A. Guns e Hollywood Roses.

Os outros agregados da gangue foram mais que suficientes para alimentar a imagem punk do grupo. O guitarrista Slash (nome verdadeiro: Saul Hudson) era filho de figurões da indústria fonográfica. O baixista Duff McKagan se orgulhava de ter roubado 133 carros num passado não muito remoto. E o baterista Steven Adler vivia chapado de álcool e heroína.


Essa turma preencheu uma lacuna de celebridades e entusiasmo no rock. Os requisitos? Shows viscerais, declarações politicamente incorretas e uma postura pra lá de arrogante. Chegaram rapidamente ao status de banda grande e viraram capa de revista. O então carismático vocalista Axl Rose povoou sonhos adolescentes por todo o planeta. Depois de Appetite for Destruction, esse mesmo Axl virou um chato, esquecendo o rock com baladas épicas entediantes.

Porém, antes de seu ego sair do controle, o Guns lançou um clássico indiscutível. O sucesso resultou em comparações inevitáveis com o Aerosmith. Appetite for Destruction acerta na mosca a massa roqueira, com suas músicas pegajosas com boas doses de pop. Hits instantâneos - como "Welcome to the Jungle", "Sweet Child O’Mine" e "Paradise City" - pegaram muito bem na época, agradando igualmente à menininha inocente e ao cervejeiro encrenqueiro.

O que marca o disco é a despretensão nas letras e na atitude. Axl demonstra personalidade nas melodias, abusando de sua voz rasgada. A sessão rítmica é eficaz. Mas cabe a Slash, porém, o mérito de desequilibrar a receita. Em Appetite for Destruction ele se consagra com riffs certeiros e solos muito inspirados - como o de "Sweet Child O’Mine". Méritos também a Izzy Stradlin, um verdadeiro hitmaker, primeira grande baixa da banda.

O Guns N’ Roses ainda tem a chance de mostrar novamente suas armas no eventual novo álbum que Axl está preparando. Mas, com a confirmada notícia da demissão de Slash, a tendência é desandar a maionese de vez.

Texto escrito por Gastão Moreira e publicado na Bizz #146, de setembro de 1997

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