Discoteca Básica Bizz #148: New Order - Low-Life (1985)


Qual a sua melhor lembrança dos anos 1980? Existe aquela grudada no inconsciente de todo adolescente da época: a tardia chegada da new wave ao Brasil, a temporada de camisetas verde-limão e a onipresença de bandas como Duran Duran e Culture Club, que temperavam suas (boas) canções pop com roupas que pareciam saídas da Beija-Flor.

Mas não são poucos os que associam a década de oitenta com o lançamento do single "Blue Monday", do New Order, em março de 1983. Ali foi o princípio de tudo: das bases da dance music tal qual ela é conhecida hoje até a exploração pop dos teclados que transformou o Pet Shop Boys numa das bandas mais populares do planeta - num documentário sobre o New Order, Neil Tennant confessa ter sonhado com a batida do hit dias antes de ele ser lançado na Inglaterra.

"Blue Monday" foi um passo importante na carreira do New Order. A banda lúgubre que saiu das cinzas do Joy Division mostrou seu poder nas pistas e transformou a dance em algo acessível. "Eu ouvia bastante o álbum Street Hassle, de Lou Reed, quando me interessei por Giorgio Moroder, Donna Summer. Achei que aquela seria a direção certa", confessou Bernard Sumner à revista inglesa Mojo.


O sucesso de "Blue Monday" abriu as portas para Low-Life, o disco definitivo do New Order. Ainda que o anterior, Power, Corruption & Lies (1983), também tenha sido importante na ruptura de alguns dogmas da era Joy Division - adotando a bateria eletrônica combinada a ritmos humanos.

Algumas canções foram aprovadas em turnê. "The Perfect Kiss" - batizada inicialmente como "I’ve Got a Cock Like the M1" - foi o primeiro single. E ficou tão boa que acabou entrando em Low-Life. Contrariou um hábito da banda de não incluir seus singles em álbuns de carreira. Trata-se de uma gema, com o baixo de Peter Hook ditando o ritmo para Gillian Gilbert e Stephen Morris programarem nos espaços da banda. As múltiplas passagens e mudanças de ritmo não entediam.

Mas seria injusto resumir Low-Life ao sucesso de "The Perfect Kiss". O álbum abriga uma excelente coleção de singles, melhor até do que muita compilação desse quarteto de Manchester. Tem "Love Vigilantes", em que o baixão galopante de Hook dialoga com a escaleta de Sumner. A letra é de uma simplicidade só, o lamento de um soldado que, ao voltar à sua terra natal, descobre que foi dado como morto.

Low-Life ainda tem "This Time of Night", com sua letra sobre solidão; "Sunrise", prova cabal de que o New Order ainda sabia lidar com instrumentos "humanos"; a instrumental "Elegia", cuja melodia é composta apenas de guitarra, baixo e teclados; e "Sub-Culture", com sua influência de Kraftwerk.

Depois de Low-Life o New Order ainda soltou álbuns legais (Brotherhood, Technique), mas o estrago já estava feito. Que o digam Prodigy, Chemical Brothers, ...

Texto escrito por Sérgio Martins e publicado Bizz #148, de novembro de 1997

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