Filme: The Dirt – Confissões do Mötley Crüe (Netflix, 2019)



Estamos definitivamente na era dos filmes sobre bandas de rock, das cinebiografias que contam a história de grandes nomes da música. Após o sucesso arrebatador de Bohemian Rhapsody, filme sobre o Queen que arrecadou quatro Oscars, a tendência é de que mais e mais obras do gênero cheguem ao público.

E elas realmente estão começando a chegar. Após assistir Lords of Chaos, que conta a controversa história do Mayhem – leia o review aqui -, chegou a vez de conferir The Dirt, que traz para o grande público as loucuras inacreditáveis vividas pelo Mötley Crüe. O filme é baseado no livro The Dirt: Confessions of the World’s Most Notorious Rock Band, escrito pelos quatro músicos da banda norte-americana e publicado em 2001. Produzida pela Netflix, a adaptação foi dirigida por Jeff Tremaine e teve o roteiro escrito por Rich Wilkes. No papel dos músicos temos Douglas Booth como Nikki Sixx, Iwan Rheon (o Ramsay Bolton de Game of Thrones) como Mick Mars, Colson Baker (que possui uma carreira como rapper onde atende pelo nome de Machine Gun Kelly) como Tommy Lee e Daniel Webber como Vince Neil.


Antes de mais nada, é preciso contextualizar o Mötley Crüe para quem nunca acompanhou ou se interessou pela banda. O quarteto surgiu em Los Angeles em 1981 e é, muito provavelmente, o mais importante nome do glam metal. Influenciados por grupos como New York Dolls, Aerosmith e a cena punk rock, e contemporâneos dos finlandeses do Hanoi Rocks, que estavam fazendo um som similar no Velho Mundo, o Mötley Crüe definiu as bases sonoras e estéticas de toda cena hard rock que teve o seu epicentro na cidade californiana e tomou de assalto as paradas de discos e a programação da MTV até o início da década de 1990. Ainda que o Guns N’ Roses seja a maior e mais bem sucedida banda do estilo, foi o Mötley Crüe que definiu como tudo deveria ser feito e influenciou todo mundo que veio depois. O rock básico, os grandes riffs, o visual espalhafatoso e exagerado, músicas com refrãos pegajosos, o som que atiçava o apetite sexual: tudo isso veio do quarteto.

E um dos pontos mais comentados durante toda a história do Mötley Crüe foram justamente as histórias inacreditáveis vividas pela banda durante as suas turnês. Quartos de hotel depredados, sexo aos montes, orgias antológicas, quilos de cocaína, piscinas de whisky e todos os exageros possíveis fizeram da banda um dos nomes mais lendários dos anos 1980. E tudo regado a ótimas músicas, como não poderia deixar de ser.


The Dirt, o filme, não se priva de mostrar toda a loucura que fazia parte do cotidiano dos músicos. Mas deixa claro que eles eram, também, muito mais do que isso. A direção de Tremaine é dinâmica e impõe um ritmo quase frenético ao filme. As atuações do quarteto que interpreta os integrantes é competente, com destaque para Douglas Booth e Daniel Webber, que carregam as doses mais dramáticas nos papéis de Nikki Sixx e Vince Neil. A história é contada de uma forma divertida, mas sem varrer para baixo do tapete os pontos sombrios da trajetória da banda como o pesado vício em heroína de Sixx, o acidente de carro em que Vince Neil causou a morte de Nicholas ‘Razzle’ Dingley (baterista do Hanoi Rocks) e a violência contra a mulher que se tornou algo frequente na vida de Tommy Lee. Merecem destaque as aparições de Ozzy Osbourne (em uma cena antológica e hilária, interpretado pelo ator Tony Cavalero, da série Escola do Rock da Nickelodeon), David Lee Roth (vivido por Christian Gehring) e Slash (não consegui encontrar quem faz o papel do guitarrista do Guns N’ Roses).

O saldo final é muito positivo. The Dirt é um excelente filme, que contribui para tornar a lenda do Mötley Crüe ainda maior. A banda, que encerrou as atividades no final de 2015, gravou quatro faixas inéditas para a trilha sonora, que está disponível nos serviços de streaming e será lançada nos formatos físicos.

The Dirt é o rock and roll transformado em filme. Você assiste e fica com uma vontade imensa de ouvir a banda e mergulhar em sua discografia. E, convenhamos, não existe elogio maior para essa categoria de filme do que esse.

Comentários

  1. O MOTLEY CRUE é uma das minhas bandas favoritas, mas este filme é uma merda! Se era para se abusar da caricatura e tornar a banda uma paródia ou um SPINAL TAP piorado, algo que o MOTLEY CRUE definitivamente não é, seria muito mais interessante que o filme fosse uma animação ou stop-motion...

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