Primeira HQ do cartunista norte-americano Adrian Tomine a ser publicada no Brasil, Intrusos justifica toda a adulação que o quadrinista recebe mundo afora. O título saiu nos Estados Unidos em 2015 como Killing and Dying, título original de um dos contos presentes em suas páginas, e aqui foi rebatizado como Intrusos, seguindo o padrão de outros países – o tradutor ÉricoAssis falou sobre o assunto neste texto.
Intrusos é um lançamento da editora Nemo e chega ao Brasil
no formato 16,6 x 23,6 cm, capa brochura, lombada quadrada e acabamento muito
bem feito, com direito a orelhas com informações sobre a obra e o autor. O
álbum é composto por seis contos gráficos: Breve Histórico da Arte Conhecida
como Hortescultura, Amber Sweet, Vamos Owls, Tradução do Japonês, Triunfo e
Tragédia e Intrusos. Todos possuem como tema recorrente a presença de
personagens masculinos que atravancam, atrapalham e puxam para baixo a vida de
personagens femininas. É a masculinidade tóxica retratada em toda a sua transparência
e força destrutiva, em histórias escritas com inteligência, acidez e grandes
doses de sensibilidade.
O encadernado está sustentado na força de três contos absolutamente incríveis. Em Breve Histórico da Arte Conhecida como Hortescultura, conhecemos um jardineiro com aspirações artísticas que desenvolve uma nova forma de arte. No lindo Amber Sweet, somos apresentados à história de uma garota que é extremamente parecida com uma famosa atriz de filmes adultos e sofre na pele as conseqüências disso. E em Triunfo e Tragédia vemos uma garota tímida e gaga que decide se tornar comediante stand up enquanto tenta tornar o relacionamento com o seu pai algo mais saudável. No meio disso tudo temos violência contra a mulher, abuso psicológico, machismo inserido profundamente na sociedade, relacionamentos abusivos e vários outros tópicos retratados de forma precisa por Tomine. Sua arte é simples e bela, abrindo mão de cenários grandiosos e meticulosamente desenhados e focando no que realmente importa, que é a construção de personagens complexos, cativantes, perturbadores e extremamente humanos. De modo geral, Intrusos funciona como uma espécie de estudo psicológico de patologias não necessariamente médicas, mas tão nocivas quanto. A força da obra de Tomine está em retratar e contar histórias que soam como reais e não apresentam, necessariamente, conclusões definitivas. Como a vida que vivemos, diga-se de passagem.
E no meio disso tudo ainda há espaço para a experimentação
de Tradução do Japonês, onde toda a história é contada apenas com paisagens
urbanas, e para a arte mais suja e underground do conto que batiza o livro, que
destoa das demais no aspecto estético mas apresenta uma história igualmente
incrível.
Intrusos é excelente. Um ótimo cartão de visitas de um dos mais celebrados nomes do atual quadrinho norte-americano para o público brasileiro. É daqueles livros que você lê e fica pensando durante dias, matutando sobre as situações que foram apresentadas e como aquilo mexe com a sua vida. Como diz Chris Ware, autor de Jimmy Corrigan, conta na orelha da obra: “Todo quadrinista que se preze nutre o desejo secreto de criar ‘O Livro’, aquele tipo de obra que pode ser dado para um amante de literatura que geralmente não lê quadrinhos sem um pedido de desculpas antecipado. Intrusos talvez seja finalmente esse livro”.
Não há definição melhor.
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Ótimo texto. Há uns anos, li alguns histórias avulsas do autor, de outra coletânea. Adoro isso de pegar cortes do cotidiano e transformar em algo que importa para o leitor.
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