Se há algo
que resume a situação perigosa vivida no circuito da nostalgia musical, os
Rolling Stones saíram fora do New Orleans Jazz Festival devido à doença e seu substituto, o Fleetwood Mac, teve que cancelar a sua apresentação pelo mesmo
motivo.
O rock está
ficando velho e ninguém se aposenta.
A atual
turnê de Ozzy, No More Tours II, tem sido afetada por doenças e lesões, fazendo
shows serem cancelados e a turnê ser esticada até 2020.
Quando Bob
Seger lançou sua turnê Runaway Train em 2017, ela durou apenas 13 dos 32 shows
anunciados, até que suas vértebras pediram socorro e as apresentações restantes
precisaram ser canceladas. Após meses de fisioterapia, ele está de volta à
estrada ainda cumprindo essas datas.
Brian May
tem uma longa lista de datas para cumprir com o Queen e Adam Lambert, mas há
apenas dois anos cancelou uma tour pelo Reino Unido para lidar com uma doença
persistente que ele descreveu como “algo que estava destruindo minha energia e
minha vontade”.
Nós
poderíamos continuar. E nós vamos. Dê uma olhada na terrível lista de músicos
que perdemos nos últimos anos, e o denominador comum em quase todos os casos é
o mesmo: eles ainda estavam ativos. Eles poderiam não estar gravando, mas
estavam na estrada, ao contrário de todos nós. Enquanto esperamos ansiosamente
por aposentadorias sedentárias, eles estão acumulando milhagem, indo de hotel
em hotel e transbordando milhas aéreas. Não é um estilo de vida saudável e não
é de admirar que muitos sejam suscetíveis a doenças.
Ninguém está
negando o direito de um músico fazer turnê. Uma vez que você tenha
experimentado o amor não diluído que uma multidão pode oferecer, deve ser algo
difícil de esquecer. E quanto ao argumento “eles não precisam de mais dinheiro
para a aposentadoria”, bem, quando isso se aplica a qualquer um? Nunca?
A culpa é
nossa. Toda vez que uma banda faz tours, nós temos uma versão reduzida da
experiência anterior, e ainda assim pagamos pra ver. Os Rolling Stones de 2018 podem
ter sido uma explosão, mas as datas da No Filter realmente foram tão boas
quanto as da Bigger Bang, uma década atrás? Ou de Voodoo Lounge, dez anos
antes? Em algum ponto, retornos decrescentes devem ser afetados, e tocar com
uma banda é uma tarefa bastante atlética. Usain Bolt se aposentou aos 31 anos,
então por que esperamos que nossos astros do rock sigam na estrada aos 70 anos?
Por que nós
ainda vamos assisti-los? Só para estar no mesmo local que essas lendas uma
última vez, e até a próxima? É para prestar homenagem a quem eles costumavam
ser? Olhe para Brian Wilson: não há como duvidar de sua genialidade, mas se você
filtrar a sua carreira até as partes que realmente importam, estará olhando para
um período de dezoito meses a mais de meio século atrás. No entanto, como uma
lenda vida, ele está maior do que nunca.
Porque não
podemos deixar os rock stars se aposentarem?
A verdade é
que sabemos o motivo. Nós construímos barganhas com nossos músicos favoritos.
Nós demos a eles uma carreira, e eles nos deram uma vida cheia de memórias. E
essa é a palavra chave: vida. Eles têm sido uma parte íntima de nossos
relacionamentos, estando sempre ao nosso lado quando outras pessoas não
estiveram. Eles estavam perto no nascimento de nossos filhos. Eles encheram
nossas casas e fizeram a trilha de nossos verões. E eles ainda estão fazendo
isso.
Não há um
estatuto que estipule limitações nesse ramo. Ele continua até o final, e só é
rasgado quando uma ou outra parte desce do palco uma última vez e vai para a
escuridão.
Rock stars
não queimam. Elas não desaparecem. Elas apenas param. Geralmente sem aviso.
Normalmente, quando menos esperamos. E nunca quando estamos prontos.
Por James
Cleveland, da Classic Rock Magazine
Tradução de
Ricardo Seelig
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