Gordon Gano
(voz/guitarra/violão), Brian Ritchie (baixo elétrico, acústico e vocais) e
Victor DeLorenzo (bateria/ vocais) se inscrevem na tradição dos grandes power
trios do rock. Começaram a tocar juntos em botecos de sua cidade natal,
Milwaukee, nos cafundós de Wisconsin.
Testemunha de um
destes shows - todos acústicos -, James Honeyman-Scott, guitarrista dos
Pretenders (morto em 1982) se surpreendeu com o som de Gano e companhia,
convidando-os para abrir os concertos da turnê americana da banda de Chrissie
Hynde. Foi o bastante para que os Violent Femmes se projetassem: assinaram com
o selo independente Slash em 1982 e, um ano depois, lançavam este álbum de
estreia, produzido por Mark Van Hecke.
Rústico, cru, mas
sempre com frases inspiradas de guitarra/violão, o som da banda se escorava
numa cozinha pesada, em que interagiam o baixo frontal de Ritchie e as batidas
eficientes de DeLorenzo. A mistura de folk tradicional (especialmente pelo uso
ostensivo de instrumentos acústicos) com a pauleira das levadas frenéticas
criou alguma coisa que poderia ser definido como country punk. E, além dos
instrumentos originais de cada um dos integrantes, Gordon e Brian também se
arriscavam com sucesso por incursões pelo violino ("Good Feeling") e
pelo xilofone ("Gone Daddy Gone"), respectivamente.
Já as músicas
escritas por Gano formavam um capítulo à parte. Com uma revolta latente
expressa nas letras, elas ressaltavam este conteúdo por meio de arranjos
predominantemente acústicos, em pérolas como a abertura com "Blister in
the Sun", "To the Kill" (um perfeito espelho da violência do
cotidiano) e “Add It Up”(esta última, por sinal, um hino à inquietação
juvenil). Tudo isso sapecado por vocais que lembravam o Lou Reed da fase Transformer (1972).
Os discos posteriores
comprovaram a criatividade do grupo, apesar de não contar com a mesma energia
bruta. Com projetos mais sofisticados, os Violent Femmes trabalharam com o
ex-Talking Heads Jerry Harrison (em The Blind Leading the Naked, de 1986),
com o produtor/tecladista Michael Beihom - no disco Why Do the Birds Sing? (1991),
em que regravaram "Do You Really Want to Hurt Me?", hit do Culture
Club - e desde New Times (1994) substituíram DeLorenzo pelo baterista
Guv Hoffman (ex-BoDeans).
As
"fêmeas" nunca mais chegaram a ser tão violentas quanto em sua estreia.
Texto escrito por
Celso Pucci e publicado na Bizz #170, setembro de 1999
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