Review: Iron Butterfly - In-a-Gadda-da-Vida (1968)


Há pouco mais de meio século, o single com "In-a-Gadda-da-Vida", a mais famosa composição do grupo americano Iron Butterfly, alcançava a posição #117 nos charts dos Estados Unidos, fato que com o tempo acabou se tornando histórico, pois é considerado como a primeira vez em que uma canção de heavy metal figurou nas paradas de sucesso.

Antes de tudo, há uma controvérsia histórica acerca deste clássico disco. Muitos o apontam como sendo o primeiro LP de metal da história, o que, particularmente, não concordo. 1968 também foi o ano de Vincebus Eruptum, debut do igualmente ianque Blue Cheer, que costuma figurar nas discussões sobre o marco zero do metal. Para mim, na verdade, essa honraria está bem definida e é indiscutível: o primeiro álbum de heavy metal da história foi a estreia do Black Sabbath, que veio ao mundo na sexta-feira, 13 de fevereiro de 1970.

Na verdade, o que o Iron Butterfly fez em In-a-Gadda-da-Vida (segundo álbum da banda, sucessor de Heavy, também de 1968) foi transformar o som das inúmeras bandas da era flower power da costa oeste dos Estados Unidos, cujo epicentro era a cidade de San Francisco, em uma música mais elaborada e com uma dose extra de peso, dando um dos pontapés iniciais para o hard rock e também para o rock progressivo que dominaria a década de 1970.

Para vocês sentirem o drama, o Iron Butterfly chegou a ter a sua aparelhagem para shows cobiçada por bandas Yes e Moody Blues, tamanha a potência que emanava de suas apresentações. Graças à boa qualidade dos instrumentos e as torres de Marshalls que os acompanhavam, o Iron Butterfly conseguiu idealizar e elaborar um som único e original naqueles últimos anos da década de 1960, ganhando a admiração de ícones como Jimi Hendrix e Janis Joplin.

Uma história folclórica e curiosa a respeito da banda conta que o Iron Butterfly teria escrito o seu maior sucesso depois de uma viagem ao Brasil, onde participaram de festas e orgias dignas da Roma antiga, às quais tentaram retratar no título da canção, já que "in-a-gadda-da-vida" seria, na verdade, uma tentativa - naturalmente mal sucedida - de traduzir a expressão "na gandaia da vida" para a língua do Tio Sam. Uma historinha interessante, mas que na verdade não passa de um mito.

"In-a-Gadda-da-Vida", a música, começou a nascer quando a partir de um groove criado pelo vocalista e organista Doug Ingle, pelo baixista Lee Dorman e pelo baterista Ron Bushy, que, empolgados, improvisaram em cima dessa base. Ao ser apresentado à então nova composição, o guitarrista Erik Brann se empolgou e contruiu uma série de solos, que, somados ao clima jazzístico e meio jam session da faixa, fizeram nascer um dos maiores clássicos do rock.

Doug Ingle, após ouvir a base instrumental finalizada, começou a escrever uma letra simples sobre estar em uma espécie de Jardim do Éden ("in the Garden of Eden"), onde contava uma relação cheio de altos e baixos que havia mantido com uma ex-namorada. O título final acabou surgindo quando Ingle, chapadíssimo de LSD, ouviu um grupo de latinos no Gazzarri's, casa onde o grupo habitualmente tocava, pronunciar a frase com seu sotaque característico, o qual ele traduziu com a expressão que batizou a canção.

Apesar de ter sido a canção que marcou definitivamente a carreira do Iron Butterfly, o LP que a contém na verdade é bem mais que isso. A incrivelmente pop "Most Anything That You Want", que abre a bolacha, é uma ensolarada declaração de amor influenciada pelo lisérgico som californiano de grupos como The Doors e Strawberry Alarm Clock. "Flowers and Beads" é uma das mais belas baladas hippies, enquanto a pauleira de "Are You Happy" se transformou na música que abriu, por muito tempo, os shows do grupo.

Finalizando, indico para os fãs de um som mais pesado a excepcional versão que o Slayer cometeu de "In-a-Gadda-da-Vida", presente na trilha do filme Less Than Zero de 1987, que, na minha opinião, supera a gravação original, agregando muito mais peso e conseguindo a proeza de fazer a faixa soar como se fosse uma típica composição do grupo de Kerry King e Tom Araya.

Comentários

  1. putz, finalmente alguem que concorda comigo, tambem adoro a versão do slayer e sempre achei melhor que a original (apesar de gostar muito desse disco e da canção título em sua forma primitiva)

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