Quando o assunto é o jornalismo musical, Bento
Araújo é uma das maiores referências. Por mais de dez anos o Bento esteve à
frente da Poeira Zine,
uma das melhores revistas sobre música já produzidas aqui no Brasil. Esse
trabalho influenciou toda uma geração de leitores que sonhavam em escrever
sobre rock, blues, jazz e afins. É claro que eu também fui muito impactado pela
forma e o estilo de escrita do Bento, e tive a alegria de colaborar com a
Poeira por um longo período.
Dando um passo além em sua carreira, Bento mergulhou no
projeto de escrever um livro sobre a psicodelia brasileira, objetivo esse que
acabou gerando duas obras obrigatórias: Lindo Sonho Delirante 1 e 2.
É por esses e por inúmeros outros motivos que uma série
que fala sobre o jornalismo musical feito aqui no Brasil não estaria
completa sem um bate-papo com o Bento. Conversa essa que você lerá a seguir.
Pra começar, fale um pouco sobre a sua trajetória
profissional. Onde começou, em quais lugares já trabalhou e onde podemos
encontrar os seus textos hoje em dia.
Eu comecei escrevendo basicamente no meu fanzine, a Poeira
Zine. Aí comecei a receber convites para escrever em revistas como Bizz,
Rolling Stone, Rock Brigade, Roadie Crew e em jornais como Estadão e Folha de
São Paulo. Meus textos mais recentes estão nos dois volumes do meu livro, o
Lindo Sonho Delirante.
Quando você começou a escrever sobre música?
Na adolescência, por volta de 1990, no fundo da classe,
no meio da aula de química. Eu achava um saco ir para a escola, então eu ficava
bolando resenhas imaginárias para os discos que eu gostava. Profissionalmente
eu comecei em 2003.
O que o motivou a escrever sobre música?
O fato de poder viver de música, além do ofício de
músico. Quando percebi que a minha banda não iria dar certo, eu parti para o
jornalismo. Queria estar perto dos ídolos, viajar pelo mundo cobrindo shows e
festivais, ganhar discos para resenhar, fazer entrevistas com as bandas que
curtia, etc. Eu queria que a música me levasse a lugares inusitados, me levasse
a vivenciar situações que não seriam possíveis de outra forma.
Sobre quais
gêneros musicais você escreve?
Sobre qualquer um que estiver envolvido no momento.
Quais foram as suas principais influências no jornalismo
musical?
No Brasil: Luiz Carlos Maciel, Torquato Neto, Julio
Barroso, Ezequiel Neves, Joel Macedo, Kid Vinil, Leopoldo Rey, Gastão Moreira,
Fabio Massari e Berrah de Alencar. No exterior: Barry Miles, Greg Shaw, Nick Kent, Julian Cope, Patrick
Lundborg, Lester Bangs, Geoff Barton, Paul Williams, Max Stefani, David
Cavanagh e Daniel Ripoll.
O que você mais gosta de produzir dentro do jornalismo musical?
Biografias, entrevistas e coberturas de shows/eventos.
Curto também uma arqueologia musical, investigando o que não parece possível
investigar. Gosto também de salpicar algo de filosofia, sociologia e
antropologia nos textos.
Na hora de analisar um disco, quais aspectos da obra você
costuma avaliar e dar mais peso para chegar a uma conclusão sobre o álbum?
A qualidade das composições e a relevância no momento do
lançamento.
Como é o seu método de escrita? Como é a sua rotina na
hora de analisar um disco ou produzir uma matéria? Sai tudo de uma vez ou esse
processo leva alguns dias?
Depende. Como na época da pZ as matérias eram bem extensas,
geralmente demorava bastante tempo. Mesmo quando preciso entregar algo com
alguma rapidez, tento me preparar para o texto pesquisando no mundo real,
fugindo do virtual e da internet. Entrevistando alguém, conversando com os
amigos, lendo um livro ou assistindo um filme ou show.
Quais veículos sobre música você indica não apenas pra
quem quer se informar sobre o assunto, mas também para quem deseja encontrar
matérias de qualidade e que podem ser úteis para iniciar no jornalismo rocker?
Sugiro as revistas britânicas: Uncut, Mojo, Record Collector,
Electronic Sound, Shindig!, etc.
Em uma época onde as opiniões são instantâneas, a crítica
musical ainda importa e segue sendo relevante?
Creio que sim, mas desde que seja isenta e realizada com
propriedade. No Brasil, infelizmente, o “jabá” e os interesses comerciais ainda
vem norteando boa parte da crítica musical. Eu deixei de escrever para uma
grande publicação de música porque alteraram a minha cotação na maior cara de
pau, sem sequer me avisar. Só tomei conhecimento depois, com o artigo
publicado. Fiquei furioso e cortei relações imediatamente com essa publicação.
O quanto o hábito da leitura é importante na construção
de um estilo própria, de uma voz, dentro da crítica musical?
Acho que, nesse caso, o hábito da leitura é tão
importante quanto o hábito da audição. Não adianta querer realizar uma resenha
convincente escutando um álbum, ou uma música, apenas de “raspão”, na correria
do mundo atual. É necessário vivenciar um pouco daquilo que está se escrevendo.
É também necessário ir derrubando os preconceitos.
O quanto consumir não apenas outros estilos musicais, mas
também outras formas de arte, é importante para o trabalho de um jornalista de
música?
É fundamental, essa “arejada” influencia, e muito, o
resultado final.
O que é ser um crítico de música hoje em dia?
Difícil dizer, pois nunca me considerei um crítico de
música. Me considero um apaixonado, um fã de música acima de qualquer outra
coisa. Meu lance é divulgar e compartilhar música, não criticá-la.
Belo Bigode Pintado heheheheheheh
ResponderExcluir¨Eu deixei de escrever para uma grande publicação de música porque alteraram a minha cotação na maior cara de pau, sem sequer me avisar...¨ Humm, qual seria, fiquei curioso
ResponderExcluirTambém fiquei com uma pulga atrás da orelha, primeiro pensei nessas publicações voltadas a heavymetal/classic rock mas pode ser qualquer uma
ExcluirA Poeira Zine faz uma falta absurda.
ResponderExcluirMelhor publicação de rock que já saiu no Brasil.