
A obesidade mata. E mata muito. Segundo a Organização Mundial da Saúde, a epidemia de sobrepeso é a segunda maior causa de mortes do planeta e já atinge 39% da população adulta e 18% das crianças e adolescentes. É muita gente. Suas causas variam, mas a maioria está ligada a transtornos causados pela pressão do cotidiano, pela ansiedade exagerada e por questões psicológicas, com o consumo de grandes quantidades de comida agindo como compensador para fatores externos.
Duplo Eu, escrito por Navie e ilustrado Audrey Lainé, é
um quadrinho sobre obesidade. Nele, a autora fala sobre a sua luta contra o
peso, um embate de anos com algumas vitórias e recaídas pelo caminho. A forma com que Navie expõe a sua história é comovente e impacta o
leitor, pois ela não faz questão de colocar muitos filtros em sua história. O
sobrepeso começou a afetar Navie a partir dos 20 anos, e desde então virou uma
constante em sua vida, afetando a sua personalidade e a sua relação com o
mundo. É uma história sobre autoaceitação e a busca por entender a si próprio.
O que mais chama a atenção em Duplo Eu é a transparência
com que a autora trata o tema. Não há pudores em admitir seus problemas
pessoais, suas questões com o próprio corpo e como tudo isso mudou a sua
relação com o mundo. Diagnosticada com hiperfagia, que é o hábito de ingerir
grandes quantidades de alimentos em um curto espaço de tempo, Navie vai
sentindo os efeitos em seu corpo até chegar ao ponto em que as manifestações
físicas de seu elevado peso começam a afetar ações simples do dia a dia. A HQ
possui uma forte abordagem emocional, com momentos de explosão e catarse onde a
autora se vê frente à frente com o problema que domina a sua vida, mas não
consegue encontrar caminhos para superá-lo.



O título faz alusão à definição dada por uma nutricionista, que afirmou que a autora carregava o peso de outra pessoa como ela devido ao seu sobrepeso. Isso é explorado com criatividade durante todo o quadrinho, com o traço de Lainé mostrando a convivência nem sempre harmoniosa entre os dois “corpos” de Navie, e a própria roteirista admitindo o papel que essa sua duplicata imaginária assumiu em sua vida. Falando em relação à arte de Audrey Lainé, ela é simples e minimalista, sem a presença de fundos e cenários, e faz uso apenas de duas cores – preto e vermelho – na maioria das páginas, variando entre trechos de pura sensibilidade com outros onde faz as páginas explodirem em camadas e camadas de ilustrações que expõe a confusão e o caos emocional sentido pela autora.
Duplo Eu conta uma história muito forte, e a forma
sincera com que Navie relata a sua luta constante contra a obesidade é tocante.
O resultado é um quadrinho obrigatório e que ganha outra dimensão para quem
também passa ou já passou por situações similares, como é o meu caso. E, além
disso, mostra que histórias em quadrinhos não apenas podem, mas devem, ir muito
além do ciclo infinito e previsível das tramas de super-heróis.
A HQ saiu em setembro de 2018 na França e acaba de ser
publicada no Brasil pela Editora Nemo no formato 17x24 cm, capa cartão com
orelhas e 144 páginas, com tradução de Renata Silveira.
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