Com este disco, uma das bandas de pior relacionamento com
a imprensa ganhou fôlego nas críticas. Não era para menos, devido ao alto nível
do álbum, lançado ainda antes do grupo assumir um tecladista fixo. O Grand Funk
Railroad já tinha em seu currículo um grande trabalho (Grand Funk, de 1969),
mas faltava a continuidade para confirmar a boa fase do trio.
O início dos anos 1970, com a Guerra do Vietnã em alta e
o espírito hippie se esfarelando, era o
cenário perfeito para quem chegasse com um som mais cru trazendo para o
universo da música a realidade fria que o planeta estava vivendo. E qual banda
melhor para preencher esta lacuna senão este trio de Flint, cidade natal da
General Motors e símbolo da indústria automotiva nos Estados Unidos? Na região central da pequena cidade o
caos começou a reinar quando restaurantes, bares e tudo mais começaram a ficar
largados à própria sorte com o êxodo da população com as constantes crises e
demissões que iniciaram nos anos 1960, quando as fábricas implementaram a
automação em suas instalações
Foi no meio deste caos decadente que Mark Farner (vocalista, guitarrista e capitão da banda), Don Brewer (o excêntrico baterista, que em breve também se arriscaria também como vocalista) o Mel Schacher (o mestre das quatro cordas, responsável pelo som gordo do GFR) começaram a tocar. Se o rock precisava de um grupo que falasse diretamente sobre a fria realidade, ele tinha que ser de Flint!
O curioso nome foi sugerido pelo empresário dos caras, Terry Knight, inspirado na empresa ferroviária de Michigan, a Grand Trunk Western Railroad.
Closer to Home apresenta um Grand Funk repleto de personalidade, principalmente nas linhas estrondosas do baixo, profundas e com ritmos marcantes. Quando “Sin’s a Good Man’s Brother” toma conta do ambiente com a sua introdução acústica, a ansiedade para escutar o som encorpado do baixo de Mel Schacher (marca da banda até então) é sanada imediatamente. Ao final da canção o Grand Funk manda uma pequena parte funkeada típica deles.
Aliás, esta é uma banda que todos os que gostam de
contrabaixo elétrico deveriam idolatrar. “Aimless Lady” é uma prova de como o
baixo pode ser discreto e ainda assim ter mais destaque que os demais
instrumentos, e isso ocorre também em “Nothing is the Same”. “Mean
Mistreater” tem a fórmula que a banda seguiria em Phoenix (1972), alguns anos
depois: teclados experimentais e uma sonoridade mais tranquila. A receita deu
certo neste trabalho apesar de não ser o estilo deles, e o resultado
influenciou futuramente a banda como podemos perceber claramente no futuro, mas
isso é outra história.
A instrumental “Get It Together” quase seguiu o mesmo
caminho, mas esbarrou na trave. Uma mudança e tanto que pegou de surpresa
muitos fãs na época, apreciadores do som pesado, do groove do baixo, da bateria
quebradíssima de Don Brewer e dos longos solos de Mark Farner. Ou seja, um
som direto, sem frescuras. “Get It Together”, ainda assim, conseguiu manter um
pouco de tudo com direito ao coral na parte final (sim, tem coro em uma música
instrumental, e daí?)
As coisas voltam ao seu estado natural em “I Don’t Have
to Sing the Blues”, que não é um blues, mas uma dançante canção que Mel
Schacher dava de presente para quem quisesse ouvir. “Hooked on Love” (este sim
um blues) lembra muito a melodia de “Get It Together” , porém a utilização dos
instrumentos foi de maneira fiel ao que eles estavam acostumados. Mais uma vez,
um corinho se faz presente abrilhantando o dueto interessante entre Farner e
Brewer.
Ok, pessoal, agora chegamos ao que interessa. “I’m Your
Captain (Closer to Home)” é um marco do rock pois aqui o Grand Funk Railroad
atinge quase que a perfeição. Dez minutos redondos com duas canções em uma.
Começa com “I’m Your Captain”, com violões ditando o ritmo, para que Schacher
possa despejar toda a sua habilidade. A canção título vem colada, mas a mudança
passa quase despercebida. O clima é de tranquilidade de um porto com a
utilização de sons marítimos. Tudo isso embalado com orquestrações de flauta,
violinos e violoncelos.
Daí para a frente é só relaxar e curtir o que considero o
ponto mais alto da carreira da banda. Eles ainda trariam outros grandes álbuns
ao rock, mas tudo pode ser encontrado nesta bolachinha aqui.
Closer to Home foi direto ao sexto lugar da parada norte-americana, e para consolidar ainda mais a banda temos a cereja do bolo com a apresentação do GFR no ano seguinte no velho Shea Stadium, em Nova York, com o Humble Pie como banda de abertura. O show aconteceu em 1971, quebrando o recorde de público e vendas (os ingressos se esgotaram em menos de 71 horas) e desbancando os Beatles . Como o estádio foi demolido em 2008, este recorde será eterno assim como a magia da banda.
Grande disco, grande banda: Grand Funk Railroad.
Por Aroldo Antonio Glomb Junior
Aroldo Antonio Glomb Junior tem 41 anos, é jornalista, Athleticano e fanático por boa música desde que completou seus 10 anos de idade. É o autor do projeto SOBRE O SOM DOS SETENTA, que reúne resenhas de diversos discos lançados durante os anos 1970, escrevendo desde clássicos da década até discos mais obscuros, independente do estilo.
Aroldo Antonio Glomb Junior tem 41 anos, é jornalista, Athleticano e fanático por boa música desde que completou seus 10 anos de idade. É o autor do projeto SOBRE O SOM DOS SETENTA, que reúne resenhas de diversos discos lançados durante os anos 1970, escrevendo desde clássicos da década até discos mais obscuros, independente do estilo.
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