O Scalene é uma
banda de rock alternativo formada em Brasília, capitaneada por Gustavo e Tomas
Bertoni, e que fez alguma fama por ter se destacado no programa Superstar (Rede
Globo). Em plenos anos 2010, essa migalha de visibilidade foi o bastante
para o quarteto se tornar um dos poucos exemplares mainstream do nosso
maltratado gênero. E após três álbuns focados numa mistura elegante de rocks,
baladas, peso e melancolia, o grupo entrega um disco que, para o bem e para o
mal, é o mais ousado e introspectivo da sua carreira: Respiro.
Aqui, o Scalene
investe em uma sonoridade de tons meditativos, seja em voz, timbres, entrelaces
acústicos e eletrônicos, e numa produção “moderninha” que joga as guitarras e
baterias para escanteio. As letras consistem de devaneios existencialistas,
descobertas de novas perspectivas de vida e algumas pontuais críticas sociais
– provando mais uma vez que o rock, em maior parte, continua avesso a
ideologias retrógradas. Porém, essa mistura resulta em uma quantidade
considerável de canções pouco inspiradas, além de certo sentimento letárgico.
“Vai Ver” e “Ilha
no Céu” são sambas-rock soníferos, com violões meio picaretas de bossa nova e que caem no lugar comum daquilo em que se transformou o rock nacional após o
auge do Los Hermanos. “Tabuleiro” se perde na sua poesia labiríntica, e também
distrai o ouvinte que poderia se deixar levar pelo suingue e cadência
peculiares da canção. E a quase sinistra “Esse Berro” consegue trazer
resultados cômicos, em especial por causa da participação de um Ney Matogrosso, que parece recém chegado de uma abdução alienígena.
Já “Ciclo Senil”
é um petardo hipnotizante de tensão crescente e que se beneficia também de uma
espertíssima letra ácida. E “Furta-Cor” é um pop/rock com temperos R&B –
intensificados pela boa participação vocal de Xênia França -, e que nos faz
flutuar com o seu refrão etéreo e comovente. As lindas e singelas “Casa Aberta”
e “Assombra” parecem algo que o Coldplay faria após passar um tempo no
Brasil. E num extremo mais soturno, a dissonante e esquizofrênica “Percevejo”
soa como um Radiohead rústico que resolveu compor dentro de um calabouço.
Beneficiado pela
coragem de usar influências que vão da MPB ao trip hop, o álbum Respiro faz
valer o seu próprio título: é um relaxamento em um novo ambiente sônico. Pena
que, à parte de algumas boas faixas, o Scalene teve aqui seus primeiros
momentos de afogamento em suas próprias pretensões. O talento do quarteto
havia sido constante até então - desde os tempos em que suas influências iam de
Muse a Queens Of The Stone Age -, e isso ainda pode nos render grandes discos
no futuro, sejam estes de stoner rock, brega erudito, ou arrocha
progressivo ...
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