O começo já foi complicado: no fim dos anos 1970, quando o quente na Inglaterra era ser punk, um maluco resolveu formar uma banda de rock pesado com canções melódicas e um pé firme na vertente progressiva adotada por UFO e Jethro Tull.
Por incrível que possa parecer, o grupo, chamado Iron
Maiden, foi crescendo, meio aos trancos e barrancos, com mudanças na formação a
cada dez minutos. O tal chefão, o baixista Steve Harris, não tolerava drogas,
doenças, casamentos ou qualquer outra coisa que pudesse prejudicar a
coletividade, daí a dispensa do ex-skinhead e atual assíduo frequentador da
noite paulistana Paul Di'Anno (que alguns saudosistas insistem em apontar como
o melhor cantor que a banda já teve - isso, claro, porque ninguém ouviu Dennis
Wilcock, mesmo porque ele não chegou a gravar), do guitarrista Dennis Stratton
e do baterista Clive Burr.
Depois de conquistar o mundo britânico, o Iron Maiden
confirmou a liderança na nova onda do heavy metal de lá (que de onda não teve
muita coisa: rendeu o Def Leppard, o Saxon e quem mais? O Diamond Head? O
Anvil?), mas tio Steve queria mais. Mandou Di'Anno para o espaço e colocou em
seu lugar o homem a quem deve ser creditada grande parte da conquista do
planeta pelo Maiden: Paul Bruce Dickinson.
Vindo Samson, ele adicionou melodias assobiáveis e gritos operísticos ao som da banda, tornando-a, aí sim, uma máquina de heavy metal. O primeiro disco do Maiden com Bruce, The Number of the Beast, de 1982, foi o passaporte para o sucesso, com clássicos como a faixa título e "Run to the Hills".
Então tudo bem, não há mais como crescer. Ou há? Em
matéria de sucesso, sim - ainda que em uma época complicada, em que o mundo não
estava assim tão ao alcance de todos (o Iron, aliás, foi um dos primeiros a se
apresentar nos países então comunistas da Europa Oriental, na célebre
turnê Behind the Iron Curtain) -, mas principalmente em qualidade.
Em Piece of Mind, Steve Harris pela primeira vez
permitiu que outros integrantes participassem ativamente das composições. Aí,
Bruce tirou da manga "Flight of Icarus", que, ao mesmo tempo, era a
cara do grupo com sua temática mitológica (Harris é fã do negócio e Bruce, por
uma feliz coincidência, é formado em História), e tornou o som do Maiden
radiofônico, sem farofar.
Sozinho, o vocalista enfiou-se novamente em seus livros e
fez a bela "Revelations" - atualmente as duas estão fora dos shows,
mas chefe é chefe, né? Não que o patrão não estivesse inspirado: Steve
compareceu com, possivelmente, a canção que melhor define o Iron Maiden:
"The Trooper", até hoje uma das favoritas dos fãs, um avassalador
ataque da cavalaria, e também rocks mais diretos como "Die With Your Boots
On", em parceria com Bruce e com o guitarrista Adrian Smith, e “Where
Eagles Dare".
A tentativa de se fazer heavy metal a partir de
literatura da vez, "To Tame a Land", baseada em Duna, não
emplacou, mas ajudou a dar um charme extra ao disco.
Sob uma tutela menos pesada de Steve, o Iron Maiden pôde
descobrir que berros no meio das canções não são imprescindíveis para se fazer
música pesada. Além de Bruce, que põe as manguinhas de fora ao compor e
interpretar, os guitarristas Dave Murray e Adrian Smith soltam os dedos nas
harmonias dobradas que são a marca registrada da banda. E, apesar de não
aparecer tanto para a arquibancada, faz diferença a técnica do veterano Nicko
McBrain, que o Maiden foi buscar na bateria da banda francesa Trust (do sucesso
''Anti-Social'', regravado pelo Anthrax). Sem demonstrar o virtuosismo que
exibiria mais tarde, ele segura a onda com personalidade, completando a
formação clássica da banda.
É bem verdade que o Iron Maiden que entrou para a
história revelou sua cara em The Number of the Beast e conquistou o mundo
em Powerslave, mas a banda só é o que é porque gravou Piece of Mind entre
os dois.
Texto escrito por Bernardo Araújo e publicado na Bizz #190,
de maio de 2001
melhor disco de uma das maiores bandas da história
ResponderExcluirFoi com este disco que minha mãe finalmente passou a gostar do Maiden, e até hoje uso o Piece of Mind para falar dela... Te amo, mãe!
ResponderExcluirMeu predileto da "Donzela". Um discaço, que começa com a porrada de "Where eagles dare" e fecha com a soturna, sombria e sinistra "To Tame a Land"....que disco !!!
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