Não sei se em algum momento de sua longa carreira a banda
norte-americana Tool pôde ser definida como heavy metal. Ou melhor: se o heavy
metal é suficiente para abarcar todos os caminhos que a música do quarteto
formado por Maynard James Keenan (vocal), Adam Jones (guitarra), Justin
Chancellor (baixo) e Danny Carey (bateria) transita. A resposta é, sem medo de errar, um
grande NÃO.
Fear Inoculum, primeiro álbum do grupo em treze anos e
sucessor de 10,000 Days (2006), ratifica essa conclusão. O Tool, na verdade,
não só não se enquadra dentro dos limites do metal como é difícil de encaixar
em diversos outros gêneros. O mais adequado seria classificá-los como rock
progressivo, mas também não há uma exatidão nessa definição. E por mais que
você possa estar pensando algo como “tá, mas e daí, o que importa é o som e não
esses adjetivos”, eles são essenciais para localizar o leitor sobre o que ele
ouvirá ao colocar um disco da banda para tocar.
As sete músicas de Fear Inoculum – que no formato digital
vem com três canções a mais: “Litanie contre le peur”, “Legion Inoculant” e “Mockingbeat”,
na prática três interlúdios climáticos e instrumentais – apresentam um trabalho
pretensioso, original e hipnótico. Seis das sete faixas ultrapassam os dez
minutos (a exceção é “Chocolate Chip Trip”, outro interlúdio instrumental) e trazem
acordes, progressões harmônicas, escalas rítmicas e melodias predominantemente
ascendentes, o que faz com que o disco possua um magnetismo sonoro
fortíssimo. Na prática, isso se traduz em uma audição que provoca uma espécie
de hipnose à medida que as músicas vão se sucedendo. A escolha por construir as
canções utilizando acordes e notas irmãs, aliada às melodias vocais de Keenan,
etéreas em sua maioria, intensifica essa sensação de atordoamento da mente ao
mesmo tempo em que parece abrir novos cantos ainda não explorados no cérebro do
ouvinte.
A parte rítmica segue sendo um dos destaques, com andamentos
fora do convencional e uma abordagem que conversa com o fusion, sempre amparada
pela união univitelina entre baixo e guitarra. O instrumento de Chancellor, sempre um
destaque, continua tendo um papel quase percussivo e preenche os espaços de forma
onipresente. Quem ama bateria seguirá amando o trabalho de Carey, enquanto
Jones mantém uma forma de tocar guitarra que, principalmente em
Fear Inoculum, está muito mais interessada em criar atmosferas sonoras do que
riffs.
Porém, o peso vem. E, quando ele vem, chega bonito. Os
ápices das canções, com explosões instrumentais repletas de viradas rítmicas, são de
arrepiar até o mais careca dos fãs. É uma música original, única e bela, que poderia
tanto ser definida como um prog metal hipnótico ou um fusion meditativo.
O fato é que em Fear Inoculum o Tool exige uma parceria
do ouvinte para que o que a banda está propondo seja assimilado com eficiência. Isso
quer dizer que, em um mundo onde a urgência predomina e a ansiedade deixou
de ser uma exceção e se transformou em companhia de grande parte dos
indivíduos, um disco com mais de 70 minutos de duração e faixas que passam de
dez minutos necessita um esforço de grande parte dos ouvintes. Fear Inoculum
não é daqueles álbuns feitos para uma audição eventual e ocasional. Ele demanda
uma imersão, exige um tempo de quem está do outro lado do fone de ouvido. Mas,
ao fazer isso, recompensa com uma entrega criativa, uma música que foge
totalmente dos padrões vigentes e que proporciona sensações incríveis.
Entre as faixas, destaque para a sensacional canção que
batiza o disco, “Invincible”, “Descending” e para a incrível “7empest”, a mais
longa e pesada do álbum e onde o protagonismo total vai para a guitarra de Adam
Jones.
Fear Inoculum compensa a longa espera de treze anos por
um novo álbum do Tool com um trabalho complexo, extremamente imersivo,
musicalmente rico e que carrega tanto o selo de qualidade quanto a aura
original que a banda sempre possuiu. Um dos grandes discos de 2019 e um dos
melhores álbuns da carreira do quarteto.
O disco conta com uma edição especial e limitada no
mercado norte-americano, com foco na experiência visual que complemente a
música e traz uma tela de vídeo, book com 36 páginas e arte exclusiva. No Brasil, não há previsão de
lançamento. Vale lembrar que apenas os dois primeiros discos do grupo, Undertow
(1993) e Ænima (1996), saíram por
aqui.
Ouvi e achei ótimo...um dos melhores lançamentos do ano ! Rock Pesado bem sensorial é minha praia !!!
ResponderExcluirExcelente crítica!
ResponderExcluirNão conheço a banda, mas após esse review, vou ter que conferir! Valeu!
ResponderExcluirAmigo se vc não conhece a banda recomendo ouvir toda a discografia pois são discos acima da média que transformaram o Tool em uma banda única. Tb sugiro ouvir outra banda do Maynard James Keenan (vocalista da banda), o A Perfect Circle, tb tem uma discografia excelente de alto nível.
ExcluirTenho todos os cds anteriores da banda, mas, este, não comprarei, pois o importado não sai por menos de 500,00....entonce, nunca vou saber como é o som desse disco, já que odeio musica digital tipo "platamerdas" de streaming...e não baixo nada, minha coleção do Tool encerrou em 2013 !
ResponderExcluirEsse álbum é de longe um dos melhores que já vi, incrível o talento dessa banda de nos surpreender cada vez mais com cada lançamento, e como cada música nos entrega algo surpreendente de um deles. Eu ouço esse álbum como se eu estivesse ouvindo um álbum dos anos 90 com muito mais qualidade, obrigado TOOL por me proporcionar essa experiência.
ResponderExcluirImpressionante como um som desse faz tanto sucesso nos dias de hoje, foi o disco de rock mais vendido em 2019, as canções ainda possuem uma quantidade assombrosa de visualização no YouTube
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