Review: KoRn – The Nothing (2019)



Se existe um gênero musical norte-americano que, ao longo dos anos 1990 e 2000, gerou simpatia e repulsa em igual quantidade, este é o nu metal. Uma das bandas pioneiras nesse movimento é o KoRn, a qual levou suas baixas afinações, melodias quase percussivas e letras atormentadas a um espaço definitivo no rock clássico. Quase 25 anos após o lançamento do seu influente álbum de estreia, o quinteto entrega seu décimo terceiro trabalho, intitulado The Nothing.

O KoRn nunca se afastou tanto da sua essência (salvo raras exceções), mas aqui eles elevam o clima de pesadelo à enésima potência. O cantor Jonathan Davis passou por problemas pessoais intensos, incluindo a morte de sua ex-esposa, o que resultou em letras fortes sobre traumas (antigos e novos), aflição, sentimento de culpa e conflitos cada vez piores com seus demônios internos. Toda essa catarse resultou na melhor e mais variada performance vocal de sua carreira, algo intensificado por uma produção que acerta ao ser limpa e cheia de camadas.

A banda entende a fragilidade emocional do cantor e faz o melhor possível para entregar uma experiência sônica completa, seja na excepcional variação de grooves por parte do baterista Ray Luzier ou nas boas curvas harmônicas por parte dos guitarristas James “Munky” Shaffer e Brian “Head” Welch, além do pulsante baixo de Reginald “Fieldy” Arvizu. “Cold”, por exemplo, é uma ótima música que exprime peso, angústia e versatilidade rítmica na medida certa. Já o bom e melódico single “You'll Never Find Me” é mais simples e direto, e possui um refrão grudento.

A excelente “The Darkness Is Revealing” é soturna e certeira no feeling do grupo todo. Já “Idiosyncrasy” e “H@rd3r” são intrincadas, intrigantes e arrepiantes. “The Ringmaster” une sua adorável esquisitice a letras que nos colocam como vítimas de um monstro à la It - A Coisa, enquanto que “This Loss” é de uma melancolia que fala sobre nossas partes emocionais que não tem mais conserto. Já entre as baladas, os resultados são irregulares: a tocante “Surrender to Failure” lembra boas faixas suaves do Nine Inch Nails, enquanto que “Can You Hear Me” soa genérica.

No final das contas, podemos notar em The Nothing um Korn que evoca um pouco de álbuns como Issues (1999) e The Serenity of Suffering (2016), porém numa versão em que peso e groove são usados a serviço de um clima mais sombrio e pessimista. O senso de perda fez com que Davis e companhia entregassem algumas de suas melhores músicas, ainda que tenhamos duas ou três faixas fracas no conjunto. Em suma, esse álbum é como um pedido de socorro, e que pode ser resumido pela preocupante linha de uma de suas letras: "eu não estou bem".


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