Se existe um
gênero musical norte-americano que, ao longo dos anos 1990 e 2000, gerou
simpatia e repulsa em igual quantidade, este é o nu metal. Uma das bandas
pioneiras nesse movimento é o KoRn, a qual levou suas baixas afinações,
melodias quase percussivas e letras atormentadas a um espaço definitivo no rock
clássico. Quase 25 anos após o lançamento do seu influente álbum de estreia, o
quinteto entrega seu décimo terceiro trabalho, intitulado The Nothing.
O KoRn nunca se
afastou tanto da sua essência (salvo raras exceções), mas aqui eles elevam o
clima de pesadelo à enésima potência. O cantor Jonathan Davis passou por
problemas pessoais intensos, incluindo a morte de sua ex-esposa, o que resultou
em letras fortes sobre traumas (antigos e novos), aflição, sentimento de culpa
e conflitos cada vez piores com seus demônios internos. Toda essa catarse
resultou na melhor e mais variada performance vocal de sua carreira, algo
intensificado por uma produção que acerta ao ser limpa e cheia de camadas.
A banda entende a
fragilidade emocional do cantor e faz o melhor possível para entregar uma
experiência sônica completa, seja na excepcional variação de grooves por parte
do baterista Ray Luzier ou nas boas curvas harmônicas por parte dos
guitarristas James “Munky” Shaffer e Brian “Head” Welch, além do pulsante baixo
de Reginald “Fieldy” Arvizu. “Cold”, por exemplo, é uma ótima música que
exprime peso, angústia e versatilidade rítmica na medida certa. Já o bom e
melódico single “You'll Never Find Me” é mais simples e direto, e possui um
refrão grudento.
A excelente “The
Darkness Is Revealing” é soturna e certeira no feeling do grupo todo. Já
“Idiosyncrasy” e “H@rd3r” são intrincadas, intrigantes e arrepiantes. “The
Ringmaster” une sua adorável esquisitice a letras que nos colocam como vítimas
de um monstro à la It - A Coisa, enquanto que “This Loss” é de uma melancolia que fala
sobre nossas partes emocionais que não tem mais conserto. Já entre as baladas,
os resultados são irregulares: a tocante “Surrender to Failure” lembra boas
faixas suaves do Nine Inch Nails, enquanto que “Can You Hear Me” soa genérica.
No final das
contas, podemos notar em The Nothing um Korn que evoca um pouco de álbuns como
Issues (1999) e The Serenity of Suffering (2016), porém numa versão em que peso
e groove são usados a serviço de um clima mais sombrio e pessimista. O senso de
perda fez com que Davis e companhia entregassem algumas de suas melhores
músicas, ainda que tenhamos duas ou três faixas fracas no conjunto. Em suma,
esse álbum é como um pedido de socorro, e que pode ser resumido pela
preocupante linha de uma de suas letras: "eu não estou bem".
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