Para começar, obrigado por mostrar a sua coleção para a
Colletors Room. De onde você é, o que faz e como iniciou a sua relação com a
música?
Eu sou morador da cidade de Campinas (SP). Trabalho no
ramo da eletrônica, automação industrial. Minha relação com a música se iniciou
no ano de 1986, quando meu primo adquiriu os LPs do Kreator, o Endless Pain, e
do Destruction, o Sentence of Death, ambos importados. Como eu era garoto, meu
primo me mostrou as músicas na intenção de me assustar, mas o tiro saiu pela
culatra, foi paixão a primeira ouvida. Além do mais, a capa do Kreator me
cativou justamente por se parecer com a arte gráfica dos quadrinhos de A Espada
Selvagem de Conan, do qual sou muito fã.
Quantos
discos você tem em sua coleção?
Em vinis tenho aproximadamente 1.700 itens, mais uns 250
EPs de 7 polegadas e uns 300 CDs.
Por
que você coleciona discos?
Quando garoto, além de discos, adorava colecionar marcas
de cigarro. Sempre fui adepto ao colecionismo. A
música sempre esteve presente na minha vida, juntar quantidades disso ou
daquilo passou a ser meta para mim. Venho do tempo que não existia outra
maneira de consumir música senão por LPs fitas K7. O formato vinil sempre
me cativou. Pela arte gráfica da capa, por toda a mecânica que ele exige: tirar
do plástico, fazer sua limpeza, colocar no toca-discos, regular a altura da
agulha, colocar para tocar e ouvir suas faixas, tranquilo e acompanhado de uma
cerveja. E eu acredito que está na alma do homem juntar e acumular coisas. Com
a facilidade de hoje você tem YouTube, Spotify e vários serviços de streaming,
tudo na palma da mão, a coisa perde um pouco da magia, do sentimento. Eu ainda
prefiro o “trabalho” manual. O trabalho de pesquisar e ir atrás me fascina.
Quando
você começou a colecionar discos?
Minha primeira coleção se inicia no ano de 1989. Furtava
fitinhas K7 de sertanejo do acervo do meu pai e entregava ao meu primo para
gravá-las. Ali tive meu contato com Iron Maiden, Metallica, Nazareth, Queen.
Tive uma coleção de uns 200 vinis e no ano de 1999 fiz uma doação a um amigo.
Não tinha onde tocá-los e isso me deprimia. Nesse meio tempo fui comprando
apenas CDs. Arrumei um trabalho e comprei meu primeiro aparelho de som, um Sony
LBT46. Retomei o contato com vinil no ano de 2009 e de lá em diante não parei
mais. Tornei-me um comprador compulsivo. Mesmo vendo essa situação de preços
altos e vendedores abusivos, ainda tenho fôlego para continuar a busca.
Qual foi o seu primeiro disco?
O primeiro disco que comprei com minhas economias foi o
LP do Sodom – In the Sign of Evil nacional, que saiu pela Woodstock Discos.
Passei boa parte da noite admirando o LP, encarte e aquela sensacional capa.
Quase não dormi de alegria, mesmo não tendo aparelho para tocá-lo.
Como
você organiza a sua coleção?
Da maneira tradicional, em ordem alfabética, bandas com
mais de um item por ordem de lançamento.
Onde
você guarda a sua coleção? Em um móvel exclusivo ou conseguiu resolver com
estantes?
O fato de eu morar em apartamento limita meu espaço,
então a opção foi mandar confeccionar um móvel exclusivo, embutido na parede
onde guardo, além dos discos, também CDs, livros e afins.
Que dica de conservação você dá para quem coleciona
discos?
Os meus LPs sempre que posso troco o plástico interno e
externo. Antes da audição dou uma boa limpada no item e utilizo uma agulha de
excelente qualidade. É necessário também regular o peso do braço do toca-discos
no sulco do vinil. E a maneira de armazená-los corretamente é sempre na
vertical.
Como
você se relaciona com a sua coleção? Deixa tudo na estante ou ouve regularmente
os discos?
Tenho uma relação muito estreita com meus discos.
Enquanto ouço gosto de admirar a capa, procurar por detalhes que ainda não
havia percebido. E meus discos estão guardados em uma estante própria para este
fim. Não ouço com a frequência que gostaria, mas sempre que posso, tem um CD ou
vinil rolando em casa.
Qual a sua banda e o seu gênero musical favorito?
Meu gênero musical predileto sempre foi o metal, em
especial o thrash metal. Bandas como Sodom, Kreator, Slayer, Destruction,
Sepultura, Metallica e Dark Angel sempre foram minhas preferidas. Depois
conheci o punk e o grindcore, que acabaram de acrescentar. A primeira vez que
ouvi o Scum, do Napalm Death, foi visceral. Ultimamente tenho ouvido muito jazz
e blues, além de muita música brasileira. Mas a banda que mais ouvi e a que
mais ouço ainda é o bom e velho Iron Maiden.
De
quais bandas você possui mais itens em sua coleção?
Além de Iron Maiden, que tenho cerca de mais de 250 itens
dentre CDs, LPs, DVDs e outros colecionáveis, tenho a coleção completa dos
Beatles (álbuns de estúdio), quase todos do Jethro Tull, Darkthrone, Slayer,
Deicide, Pink Floyd, Motörhead, Cólera, Ratos de Porão, Burzum, Scorpions,
Black Sabbath e Led Zeppelin.
Quais
são os itens que você mais curte em seu acervo?
Dentre os que mais gosto está o LP duplo Sobrevivendo no
Inferno, dos Racionais MC’s. Tenho uma relação muito estreita com esse álbum.
Acho que esse e o Metallica – Master of Puppets foram os álbuns que mais ouvi
na vida. Outro que gosto muito é o Miles Davis – Kind of Blue.
Além
dos discos, coleciona algum outro item?
Livros. Sou aficionado por leitura. Escritores como
Stephen King, Nietzsche, Henry Miller e Charles Bukowski consomem boa parte do
meu tempo. Voltei a colecionar quadrinhos, principalmente Conan. Gostaria de
voltar a colecionar muita coisa, mas infelizmente no momento não disponho de
espaço e minha mulher não aprova muito a ideia de encher o local de bugigangas.
Onde
você compra seus discos e quais lojas indica?
Usava muito o Mercado Livre, mas com a alta dos preços
voltei a frequentar sebos. Mas tem uma loja em especial que indico, a Riva Rock
Discos, em Campinas. Tem um enorme acervo de jazz, blues, soul e rock. Sebo
& Lojão em Campinas também, têm muita coisa boa a ótimos preços e
atendimento muito amigável.
Qual o
valor cultural e pessoal de ter uma coleção de discos?
A boa música agrega valores, te ajuda a construir um
intelecto mais apurado. Música para mim não é só diversão, não é apenas um
hobby. Música me fez pesquisar livros que eu desconhecia, tanto no ramo da
filosofia como o de história. E quando observo minha coleção me vem à cabeça o
tempo utilizado na busca e nas pesquisas, me fez aprender sobre diversos
assuntos.
O que
significa não apenas ser um colecionador de discos, mas seguir comprando itens
físicos quando a maioria das pessoas ouve música hoje em dia através de
streaming?
Eu vejo a compra de itens como exemplo do livro. O
tesão é você ter o livro em mãos, na internet você encontra ele grátis, mas eu
por exemplo, se não tiver o item físico em mãos, não têm graça alguma. E eu
sinto enorme prazer em estar garimpando, procurando itens que muitas vezes não
conhecia, mas que me surpreendem. Ouvir música para mim é mais que apenas
ouvir, é um ritual.
Qual o
papel da música na sua vida?
Como disse Nietzsche: “a vida sem a música seria um
erro”. Tudo o que eu faço ou penso têm música envolvida, seja no trabalho, nos
meus treinos, tudo. Eu adormeço pensando em música, eu me alimento pensando em
música, qualquer tipo de ação tem música envolvida. Ela me faz pensar,
raciocinar, buscar soluções, desvendar mistérios. Resumindo, me faz querer
viver intensamente, mesmo nessa realidade distópica a qual nos encontramos. Em meu conceito, música é a arte mais poderosa que o homem
criou. Às vezes penso por que não escolhi a música como profissão. Nem
precisaria ser músico, poderia ser engenheiro de som, produtor, bastaria estar
apenas envolvido.
Valeu. Para fechar, indique um disco da sua coleção para
os nossos leitores.
Olha, ao invés de indicar medalhões manjados como Led
Zeppelin, Black Sabbath ou Beatles, indico em especial que ouçam com atenção o
segundo álbum do Cartola, de 1976, intitulado simplesmente de ll. “Preciso me Encontrar” é a canção mais introspectiva que ouvi
na vida. Outro que indico é Vinicius de Moraes e Baden Powell – Os
Afrosambas, esse trabalho dispensa comentários, apenas ouçam. Obrigado pelo espaço e tempo, forte abraço a todos.
Baita coleção e bom gosto! Parabéns, tanto LPs quanto livros!
ResponderExcluirOpa, que beleza de coleção, Eder. Show de bola! Também sou de Campinas. Além do Riva e sebo que você indicou, indico também o sebo Iluminações, no finalzinho da José Paulino. Gosto muito de lá pelo cuidado que eles tem em comercializar só itens em excelente estado, com cara praticamente de novos. Abraço!
ResponderExcluirQue coleção linda, ótimas perguntas e respostas!
ResponderExcluirBela coleção !!!! Parabéns !!
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