
Qualquer um que preste um pouco de atenção ao que
acontece no meio musical já terá notado que a Suécia é um verdadeiro celeiro,
há décadas apresentando ao mundo artistas e bandas dos mais variados estilos
musicais, que não apenas alcançaram sucesso mundial como também tornaram-se
referência dentro de seus estilos.
Hoje, quando pensamos em disco music logo pensamos em
ABBA, e provavelmente está na música pop a maior contribuição deste país,
direta ou indiretamente. Britney Spears, Backstreet Boys, Taylor Swift, Katy
Perry e muitos outros artistas não-suecos devem parte de seu sucesso ao
produtor Martin Karl Sandberg, mais conhecido como Max Martin. Nascido na
capital sueca, Martin é um premiado autor e co-autor de muitos e muitos
singles, tais como “I Kissed a Girl” e “Oops!...I did It Again”.
Falando agora do estilo musical que realmente me
interessa, a Suécia é também uma grande potência dentro do rock, possuindo
representantes em todos os estilos imagináveis. Europe, Bathory, Evergrey, The
(International) Noise Conspiracy, Candlemass, Roxette, Opeth, Sabaton, The Hellacopters, Ebba Grön, ArchEnemy e muitas outras bandas integram uma lista
enorme, falando apenas das que surgiram até a década de 1990, boa parte delas
ainda ativas e relevantes. Dos anos 2000 pra cá uma nova onda sueca surgiu apresentando
mais uma enxurrada de bandas, provavelmente o Ghost sendo a principal, mas
também com uma cena stoner riquíssima.

Com essa abundância toda, é normal que os fãs questionem
sobre o “segredo” da Suécia. Afinal, trata-se de um país com uma população
menor que a cidade de São Paulo, pouco povoado e no extremo norte do globo. Por
isso, muitos conjecturam qual seria a explicação e, dentre os palpites
realizados, por incrível que pareça, a conclusão mais comum é: a água. Claro, é
apenas uma brincadeira, mas que revela algo muito importante: grande parte do
público realmente não sabe a resposta. E a realidade é mais simples do que
parece.
A Suécia é um país com uma grande tradição cultural e os
artistas suecos receberam ao longo da história incentivos dos mais variados
para que criassem suas obras em todas as formas de artes. Contudo, é somente a
partir da década de 1960 que uma política estatal consistente foi apresentada.
Contextualizando, não apenas a Suécia mas os demais países escandinavos são
conhecidos por possuírem um modelo político conhecido como Estado de Bem-Estar Social.
Sem entrar em muitos detalhes, isso significa que nesses países o Estado é um
ente muito presente, garantindo aos cidadãos uma série de direitos, como saúde
universal, assistência social e, claro, educação de qualidade. A grande
diferença do modelo educacional sueco está na sua expansão para o campo das
artes. Sob a tutela do Ministério da Cultura, o Comitê de Subsídios para Artes
(Konstnärsnämnden, em sueco) é o órgão responsável nos investimentos
estruturais para os setores de audiovisual, museus, bibliotecas, escolas
culturais e de música, teatros e outros. Já o Conselho Nacional de Assuntos
Culturais (Statenskulturråd) é responsável por investimentos diretos aos
artistas.
Em uma entrevista de junho de 2015 concedida à Noisey
Canadá por uma das minhas bandas favoritas dessa nova geração sueca, o Graveyard,
o ex-baterista Axel Sjöberg afirma ser impossível que bandas de rock suecas não
tenham sido beneficiadas de alguma forma pelo sistema público por via federal
ou municipal, seja através de espaços para ensaiar, com ajudas para aluguel ou
mesmo com coisas simples mas que todo músico precisa, como cordas, palhetas,
baquetas e outros equipamentos. Já segundo o guitarrista Martin Larsson (do At
the Gates): “O que realmente fez diferença lá atrás foi a ajuda municipal com
estúdios para ensaiar e aulas de música. Eu penso que isso é frequentemente
esquecido quando se fala sobre a cena do metal sueco, seja lá como chamam. T ivemos
muita ajuda do Estado.” (Babblemouth, 2018).
Escolas de música gratuitas, acesso a espaços de ensaio,
custeio de equipamento, subsídios diretos. Resumindo, a “água da Suécia” é na
verdade o financiamento público.
Caso você tenha interesse em conhecer mais sobre esse
assunto, recomendo o excelente artigo da finlandesa Merja Heikkinen chamado The
Nordic Model for Supporting Artists – Public Support for Artists in Denmark,
Finland, Norway and Sweden, disponível neste link.
Por Leonardo Pacheco Zancanaro da Costa
Só uma correção boba ao texto que não altera em nada seu conteúdo: Carcass é da Inglaterra, e não de qualquer ponto, mas de Liverpool. O único sueco da banda foi o Michael Amott e ele não era membro fundador.
ResponderExcluirOpa. Valeu, corrigido! Obrigado.
ExcluirEu li uma entrevista a muito tempo atrás (não lembro se foi Quorthon ou algum outro), comentou que esse insentivo do governo, seja na música ou no esporte, seria para inserir o jovem da Suécia em atividades, para que diminuíssem as taxas de suicídio. Por ser um país muito frio na maior parte do tempo, acaba levando as pessoas a se isolarem.
ResponderExcluirDeixa os metaleiros conserva ou liberais baterem o olho nesse artigo!
ResponderExcluirVão aventar todas as outras possibilidades para explicar a desproporcional quantidade/qualidade do rock/heavy metal escandinavo/sueco. Vão apelar até para interferência divina (mesmo para as bandas satânicas).
Qualquer coisa, menos o estado ("O horror, o horror").