Discoteca Básica Bizz #205: The Cure - The Head on the Door (1985)



O ano de 1985 foi horrendo para a música. Na rádio, imperavam nomes como Bruce Springsteen, Dire Straits e Phil Collins. O hip hop era uma novidade passada e ainda não tinha sido sacudido por Run D.M.C. e Beastie Boys. A revolução da música eletrônica não passava de iniciantes produtores em Detroit e Chicago que ninguém conhecia fora de suas cidades.

Em meio à pasmaceira exasperante, praticamente os únicos sinais de esperança e inteligência vinham do universo indie inglês. OK, lá na Inglaterra podia ser que esse caldeirão já borbulhasse visivelmente desde a virada dos 1980, desde o início do pós-punk. Mas, na paleozóica era pré-internet e MTV, as tendências demoravam anos para atravessar os continentes. Então, tirando poucos antenados com boas conexões ou grana no bolso (muitos dos quais formaram bandas de rock), no Brasil praticamente ninguém, mas ninguém mesmo, sabia o que era o novo rock inglês de gente como Smiths, Echo & the Bunnymen, Siouxsie & the Banshees, Joy Division/New Order e Bauhaus.

Se teve um disco que ajudou a clarear o matagal da ignorância foi o sexto álbum do Cure, The Head on the Door. É o disco mais redondo, diverso, criativo e acessível que a banda já lançou. Nem antes nem depois conseguiram algo tão perto do perfeito. Se antes os discos do grupo pendiam mais decididamente para um estilo (punk pop, pós-punk, gótico, eletropop, psicodelia), The Head on the Door se esbalda em múltiplas influências. E sempre se sai bem. Tem Robert Smith (guitarrista, principal compositor e líder) cantando sobre o sangue de Cristo por cima de violões flamencos em "The Blood"; tem o saltitante megahit "In Between Days", com sua historinha de traição e levada que lembra New Order; tem "Kyoto Song", balada trágica com sonoridades de música japonesa (claro!). E isso são só as três primeiras faixas!


Avançando disco adentro, os deleites continuam: a descompromissada "Six Different Ways", com cordas indianas e melodia quase infantil; o baixão sujo, suado e funkeado de "Screw", com sua letra que descreve uma overdose; a sinuosa levada eletrônica da paranóica "Close to Me"; o vôo épico de "Push"; o clima de despedida melancólica em "A Night Like This", com seu saxofone que é marca registrada do meio dos anos 1980; "Sinking", no final, traz céu nublado à la Joy Division.

É uma síntese impecável do espírito ambivalente da banda. O chavão sobre o Cure é óbvio: góticos, depressivos, melancólicos, darks. O que é verdade, especialmente nas letras. Mas existe o outro lado da moeda sobre o qual não se fala muito, mas que também está evidente: o Cure tem um tremendo senso de humor e leveza. Ao dar um acabamento mais pop nesse disco, o grupo estava enviando o seguinte recado: não nos levem tão a sério, também queremos fazer você dançar e cantar nossas músicas.

Os clips são bons exemplos: "In Between Days" traz a banda bobamente empurrando a câmera pra todo lado, com Robert Smith num sorrisão sarcástico. Em "Close to Me", a turma aparece enfiada num guarda-roupa que rola ribanceira abaixo. Depois, tem todas aquelas fotos com Smith com o famoso look de ursinho panda batido no liquidificador com um estojo de maquiagem. Sem falar que o vocalista sempre adorou cervejinha no pub e pelada de futebol.

Com sua variedade de sons e climas e seus hits radiofônicos, foi um álbum vencedor. Abriu o mercado americano para o grupo enquanto consolidava sua posição de titular do novo rock da década de 1980 da Inglaterra, chegando a Disco de Ouro nos dois países. Foi o primeiro passo para a banda se tornar a milionária instituição do rock que é hoje.

Entre os muitos países onde se tornou popular graças ao disco estava o Brasil. Em 1987, ela viria para uma arrebatadora turnê, que incluiu oito shows.

Texto escrito por Camilo Rocha e publicado na Bizz #205, de setembro de 2006

Comentários

  1. aha, camilo rocha, o pior "analista" musical da história desse país, um pseudo intelectualoide metido a contemporâneo, amante de musica eletronica que adorava pagar de sabido em outras searas e, invariavelmente, produzia as maiores tolices da imprensa musical brasileira das ultimas decadas. aqui, como vemos, em seu gosto e conhecimentos apurados, ficamos sabendo por seu intermedio que Bruce Springsteen, Dire Straits e Phil Collins eram nomes horrendos que imperavam nas radios da epoca, hahahahahahaha, faz me rir...

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    1. Sim, esse primeiro parágrafo é constrangedor, ainda mais ao lembrarmos que em 1985 Bruce lançou o fenomenal Born in the U.S.A. e o Dire Straits estava com o clássico Brothers in Arms estourado em todo o mundo.

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  2. Olha já ouvi muita besteira sobre os anos 80, mas essa foi demais. O ano de 85 estava nulo?
    O cabeçudo acho que nunca ouviu falar de New Model Army, Jesus and Mary Chain etc etc, Manchester.
    Como pode alguém deixar um babaca escrever tanta bobagem num texto sobre o The Cure.
    Só poder ser mais babaca ainda.

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    1. Concordo plenamente. E só lembrando que o texto não é meu, mas sim do autor mencionado.

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