Vez ou outra nos deparamos com algumas bandas novas que
apresentam propostas inusitadas, e os franceses do Rise of the Northstar são um
exemplo disso. Fundado em 2008 na cidade de Paris, o grupo traz uma interessante
fusão de hardcore, groove metal na linha dos anos 1990 (por vezes puxando
alguns elementos de thrash e do nu metal) e hip-hop, mas com uma temática explicitamente
influenciada pela cultura pop japonesa (o nome artístico do guitarrista Eva-B e
até o mesmo o próprio nome da banda são só alguns dos muitos exemplos).
Esse curioso encontro de ideias já vem dando as caras há
um bom tempo, desde os excelentes EPs Tokyo Assault (2009) e Demonstrating My Saiya
Style (2012), além do álbum Welcame (2014), todos produzidos e lançados de
maneira independente. The Legacy of Shi é o primeiro trabalho da banda a contar
com lançamento e distribuição por um grande selo a nível global – no caso, pela
Nuclear Blast – e que obviamente também representa o primeiro contato que
muitos terão com sua proposta musical, que dessa vez contou com o auxílio na
produção de ninguém menos que Joe Duplantier, dos compatriotas do Gojira – uma
escolha que parece ter sido muito bem acertada, levando em consideração algo em
comum no som de ambas as bandas: o aspecto “explosivo”.
Uma curiosidade adicional sobre The Legacy of Shi é que
se trata, vagamente, de uma espécie de álbum conceitual que narra o contato e a
luta da própria banda contra uma espécie de antigo demônio. Por mais que isso soe
como algo que não dê pra levar muito a sério, o som em si não tem ares tão
necessariamente juvenis: faixas como “Here Comes the Boom”, “Nekketsu” e “This
is Crossover” ficam no mesmo nível de algumas das melhores pedradas que bandas
da velha guarda como Biohazard, Sickof it All e Hatebreed já fizeram (se eles também
incluíssem várias referências à animes e mangás nas letras, é claro), com
direito a “gang shouts” empolgados durante os refrãos e toda a fúria característica
do hardcore com um toque bem encaixado de thrash.
“Step by Step” é um dos raros momentos onde a pancadaria
sai do foco para dar espaço a um clima um pouco mais melódico e até mesmo melancólico,
com uma letra que traz um dos paralelos mais interessantes na proposta musical
do grupo: as histórias de superação frequentes em muitos trabalhos da cultura
pop japonesa têm na verdade bastante em comum com o conteúdo lírico muitas
vezes inspirador do hardcore. Porém, chegando perto do refrão a banda retoma o
tom furioso do estilo, novamente com “gang shouts” bem encaixados e vocais
inflamados berrados à plenos pulmões.
“Kozo” tem uma veia um pouco mais experimental e uma
levada que lembra bastante o som do Korn – mais especificamente em “All in the
Family”, de Follow the Leader (1998) – mas com muito mais peso e um uso
interessante de samples e vocais que reforçam o lado conceitual do álbum. “Cold
Truth”, “Furyo’s Day”e “Teenage Rage” também trazem à tona o lado mais hip-hop
do som do grupo – inclusive com ocasionais versos cantados em francês – sem
nunca deixar de lado todo o peso das guitarras afinadas em tom baixíssimo, com
vários momentos que não ficariam fora de lugar em algum trabalho do Machine
Head nos anos 1990, por exemplo. Já a intensa “All for One” traz vocais
distorcidos que conferem uma atmosfera meio death metal, e no geral chega até a
remeter um pouco ao estilo do que o Slipknot fez na virada do século. Encerrando
o álbum de forma magistral temos a faixa-título que traz mais uma vez a
explosiva combinação de hardcore, groove e thrash e uma semelhança
inconfundível com o som dos veteranos do Hatebreed.
Ainda que o som do Rise of the Northstar não seja
exatamente tão repleto de novidades, o grupo prova que, muitas vezes, tão
importante quanto o conteúdo é também a embalagem. Eles têm tudo para se tornarem
uma referência moderna do crossover/hardcore, e se The Legacy of Shi é algum
indicativo, este álbum é uma prova disso e eles estão no caminho mais do que
certo.
Por Rodrigo Façanha
essa banda é top msm
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