
A idade avançada
também traz suas crises, inseguranças e reflexões constantes sobre vida e
morte. A prova disso está no novo e bom álbum dos roqueiros britânicos do The
Who, intitulado apenas Who. Roger Daltrey e Pete Townshend pausaram as
turnês que apenas revisitam o catálogo sessentista e setentista de sua clássica
banda e decidiram que estava na hora de registrar algo que unificasse o
passado e o presente num mesmo pacote.
Nenhum fã do
velho rock clássico precisa se preocupar, pois a sonoridade do The Who continua
calcada em rocks e baladas, vocais maravilhosamente joviais e teatrais de
Daltrey, guitarras elegantíssimas de Townshend, teclados climáticos e uma
cozinha que agora fica em segundo plano – quase uma homenagem aos saudosos John
Entwistle e Keith Moon, membros da formação clássica do grupo. O diferencial
está mesmo é nas letras, bastante realistas e atuais.
A ótima “All This
Music Must Fade” inicia o trabalho com ecos do hino “Won't Get Fooled Again”,
juntamente com ritmos intrincados, vocais energéticos e uma temática bacana
sobre plágios musicais. Outro grande destaque é “Ball and Chain”, um envolvente
blues rock cadenciado e sombrio que discursa sobre os perrengues numa prisão.
Fechando a trinca inicial, “I Don't Wanna Get Wise” é um bom rock retrô com
melodias grudentas e que traz letras quase autobiográficas sobre as vantagens
e desvantagens do amadurecimento.
A excelente
“Detour” é um rock and roll divertido e percussivo que mistura o estilo de Bo
Diddley com a própria “Magic Bus” do The Who. A boa e melódica “Street Song”
parece ter sido feita para ecoar em grandes estádios e nos apresenta a
performance vocal mais arrepiante de Daltrey. Já a morna “Hero Ground Zero”
falha um pouco em relembrar a vibe sinfônica de opera rock à la Quadrophenia (1973). Outra faixa apenas ok é “Rockin' in Rage”, que vai da calma soturna à
explosão nervosa, com Townshend e Daltrey buscando alguma revolta na velhice.
Entre os pontos
mais fracos temos “I'll Be Back”, uma balada de soul pasteurizado que seria no
máximo um lado B do Simply Red. E a última faixa, o flamenco esquisito “She
Rocked My World”, é uma tentativa falha de trazer experimentalismo logo aos 45
minutos do segundo tempo.
Sim, esse décimo
segundo álbum do The Who é uma mistura de simplicidade com senso de variação,
como uma forma de juntar as meditações da terceira idade com impulsos jovens e
questionadores que não podem morrer. Com ecos em especial dos álbuns Who’s
Next (1971) e Who Are You (1978), esse Who é o melhor dos quatro
álbuns lançados após a morte de Keith Moon e um belo suspiro final de uma
das melhores bandas que o rock nos ofereceu.
Comentários
Postar um comentário
Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.