10 bandas para fugir do inglês



Uma discussão muito comum há muito tempo entre os fãs de rock diz respeito ao idioma cantado nas músicas desse gênero. Devido sua origem nos EUA e sua solidificação no Reino Unido, é natural que o inglês seja a língua mais utilizada pelos compositores e músicos na hora de escrever e cantar as letras, nesses e em diversos outros países de todo o mundo, mesmo aqueles que não possuem o inglês entre seus idiomas oficiais. Aqui mesmo no Brasil quando pensamos nas bandas de rock mais influentes logo o nome do Sepultura vem à mente e suas letras em sua imensa maioria foram escritas em inglês. Claro que há inúmeros outros fatores além da simples origem musical para que este cenário exista, mas não é o objetivo desse texto discuti-los agora (quem sabe num outro momento).

A verdade é que muitas vezes muitas bandas incríveis são deixadas de lado simplesmente por não cantarem em inglês, uma vez que é muito comum ouvir fãs dizerem que músicas que não sejam cantadas em inglês não possuem a mesma qualidade, rítmica ou qualquer outra coisa do tipo, principalmente quando as músicas são cantadas em suas línguas nativas. Óbvio que isso é apenas uma generalização, muitas pessoas não apenas estão dispostas a ouvir como vão atrás de músicas em outros idiomas. Muitas outras inclusive preferem não ouvir músicas em inglês ou ao menos preferem quando bandas de seu país cantam na sua própria língua. De qualquer forma, mais uma vez, não quero entrar nesses méritos. O que quero mesmo é trazer ótimas bandas que fogem à regra e que buscam cantar em outros idiomas.

Para isso estabeleci algumas regras: 1) como já estamos familiarizados com bandas nacionais, decidi por não incluir nenhuma delas; 2) sem obviedades: bandas muito conhecidas (como Rammstein) ficaram de fora; 3) bandas que gravaram apenas um disco ou pequena parte da discografia em outro idioma não entram; 4) não basta cantar em outro idioma, a banda deve ser BOA.

Com as regras definidas e o assunto esclarecido, vamos lá:


Kvelertak

Banda norueguesa surgida nos anos 2000 que mescla influências de heavy metal, black metal, punk e até pop, o Kvelertak é um belíssimo exemplar de banda orgulhosa de sua língua natal. Certamente teriam um reconhecimento maior se cantassem em inglês, mas estou convicto que não demorará muito para alcançarem um status maior.



Skalariak

A Espanha é um território que passou por diversas divisões e transformações ao longo da história e é justamente por isso que ainda hoje existem muitas tensões políticas no país, especialmente nas regiões da Catalunha e do País Basco, locais de culturas e até idiomas diferentes, que estão em busca de independência. É desse segundo território que essa banda de ska punk vem, trazendo letras em espanhol e também no idioma basco (Euskara). Com um som envolvente que mistura ritmos locais e hardcore, Skalariak é uma banda que merece ser mais conhecida e reconhecida. Infelizmente o grupo encerrou atividades em 2008, mas teve uma longa carreira de 14 anos de estrada.



Sólstafir

Direto da Islândia, país mais conhecido musicalmente através da cantora Björk, essa banda vem sendo chamada de post metal devido sua pegada mais contemplativa, artística e pouco convencional. A despeito da rotulação, a banda começou com um som mais pesado e hoje entrega um rock de qualidade, inovador e autoral. As letras falam de questões locais, temas políticos e sociais e são muito interessantes (é possível achar traduções em inglês e português na internet).

  

Eths

Banda marselhesa, o Eths é um grupo de metalcore com certa influência de new metal e groove surgido em meados dos anos 1990, crescendo nos anos 2000 e após períodos conturbados teve uma reunião recente, lançando material novo. Obviamente, cantam em francês, o que não é muito comum entre as bandas de metal desse país - inclusive a principal banda atualmente canta em inglês, Gojira. A banda é liderada pela vocalista Candice Clot, que possui uma grande variedade vocal, do limpo ao rasgado.



Bijelo Dugme

Esse é um dos casos que ajuda a derrubar certos mitos sobre a cena de rock nos países do antigo bloco comunista, nesse caso na antiga Iugoslávia. Originária de Sarajevo, hoje Bósnia e Herzegovina, a banda cantava principalmente em servo-croata, mas gravou músicas em outras línguas regionais, como albanês. O som passou por muitas transformações durantes os 15 anos de carreira, do folk rock (algo bem cigano), passando pelo progressivo e até new wave. A banda encerrou suas atividades em 1989, não desejando prosseguir após a dissolução do antigo país socialista, apesar de terem feito uma reunião em 2005. Mais do que uma curiosidade, a banda foi um enorme sucesso local e de fato merece destaque.



Arraigo

Nossos hermanos argentinos possuem uma imensidade de boas bandas, do chamado rock argentino ao metal extremo. Escolhi, no entanto, uma banda de heavy metal que mistura diversos ritmos locais, como música indígena e tango, criando uma sonoridade muitíssimo interessante. Com o clássico sotaque portenho, a banda demonstra muita qualidade, usando instrumentos como charango e cajon. O vocalista Pablo Trangone entrega uma qualidade incrível, oras cantando um Tango soturno, oras um metal com muita inspiração em Angra. Arraigo significa enraizamento e essa identidade latino-americana é um tema muito presente nas letras.



Alien Weaponry

A cultura Maori é difundida em diversos países, mas tem a Nova Zelândia como ponto de origem. Possivelmente mais conhecida pelo rito inicial praticado pelos jogadores de rugby do páis, o Haka, ou por ter sido a locação principal da trilogia O Senhor dos Anéis, o país também abriga essa banda que é formada por um trio bem jovem que, apesar de ter clara ascendência europeia, busca trazer nas suas músicas a cultura e o orgulho Maori, tanto no ritmo como nas letras. Com muita influência de bandas como Soulfly e Sepultura, Alien Weaponry destaca-se principalmente pela força que o idioma possui, dando uma característica bem singular para a banda.



Tinariwen

O deserto do Saara pode ser muito inspirador, especialmente para os tuaregues da região desértica no norte do Mali, país de origem da banda que por motivos políticos formou-se na Argélia, retornando a seu país quando a rebelião tuaregue teve seu cessar-fogo nos anos 1990. Com mais de quarenta anos de atividade, foi apenas nos últimos vinte que a banda começou a ter mais destaque internacional, viajando para diversos países, Brasil incluso. Cantam usando dialetos tuaregues, especialmente o Tamashek, dialeto comum no Mali. Uma mistura de música tuaregue, ritmos árabes, blues e rock muito bem feita, os mulçumanos do Tiraniwen são músicos excelentes e que a cada dia conquistam mais e mais o seu espaço.



Bizarra Locomotiva

Eu disse que não recomendaria bandas nacionais, mas não mencionei portuguesas. Os Bizarra Locomotiva (em Portugal é no plural mesmo) já estão na estrada há quase trinta anos, desde 1993, ou seja, antes de Rammstein, banda com a qual são geralmente comparados, já que possuem uma estética, visual e sonora, bem semelhante. Como o nome entrega, é uma música bem bizarra que fala de temas sexuais, morte, religião e outras coisas que deixam puritanos com o cabelo em pé. Bem pesada e bem interessante, banda tuga mais do que recomendada.



Thy Catafalque

Projeto húngaro de Tamás Kátai, Thy Catafalque é uma banda de um homem só de estilo metal “avant-garde” que alia o peso do black metal com a técnica do rock progressivo, trazendo um som épico, diversificado, atmosférico, com muitos elementos eletrônicos e diversos usos de diferentes instrumentos, incluindo até flertes com jazz. As linhas vocais trazem texturas suaves e ríspidas nas variações suaves das vocalistas de apoio e da voz gutural de Tamás, reforçando a veia espiritualizada das letras. São discos excelentes e complexos que vão exigir bastante dos ouvidos de seus ouvintes.


Espero que essa lista possa ter lhes dado oportunidade conhecer coisas novas e expandir horizontes. Listas são sempre parciais e tem por objetivo serem rápidas, por isso recomendo que caso tenham gostado bastante de uma ou mais bandas, que pesquisem mais sobre elas e suas letras. Aqui também incluí apenas dez grupos diferentes e existem muitos e muitos outros que ficaram de fora. Não se trata porém de uma ordem de qualidade, gosto etc, apenas foram as bandas que pensei primeiro. Posteriormente, se for interessante, uma nova lista como essa pode surgir.

Por Leonardo Pacheco Zancanaro da Costa

Comentários

  1. Deixando uma humilde sugestão: Bersærk, banda norueguesa de Stoner muito boa e pesadíssima!

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    1. A banda é muito boa mesmo, mas é da Dinamarca, não da Noruega.

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    2. Exato, já ia corrigir! Os caras são demais, né?

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  2. Se curtem ska, dêem uma conferida na banda Ska-P, espanhola que canta na sua língua materna.

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    1. Por falar em Ska, recomendo Dubioza Kolektiv, da Bosnia.

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  3. Que tal a banda punk italiana Carlos Dunga? Tem esse nome em homenagem ao capitão brasileiro da Copa de 94, que jogou na Fiorentina de 88 a 92.

    https://open.spotify.com/album/46gMFZUCBtvduXgiO1FEWR?si=W7F7K1D-SZ6MDHtVf8wH4A

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  4. LEONARDO PACHECO ZANCANARO DA COSTA22 de fevereiro de 2020 às 09:23

    Legal, tem banda indicada aqui que não conhecia! Fico feliz que o assunto rendeu.

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  5. Alcest é maravilhoso, moonsorrow tbm

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