Maratona Collectors Room: box do Black Sabbath, Tribuzy ao vivo e David Gilmour em DVD



Nessa edição da Maratona Collectors Room, resgatamos três textos publicados bem no início do site, em outubro de 2008. O estilo de escrever era diferente, mas o conteúdo segue sendo interessante. Pra você que está lendo hoje, doze anos depois, obrigado por estar conosco!

Um dos modos que tenho de classificar as cidades que conheço é através das lojas de discos. Assim, sempre que chego em um novo lugar, a primeira coisa que procuro é uma loja de CDs, LPs e afins. Esse final de semana fui para o Rio Grande do Sul visitar meus pais, e, como sempre faço, passei por Passo Fundo, que é no meio do caminho, pra dar uma conferida em duas lojas específicas: as duas filiais da Multisom naquela cidade.

Pra quem não sabe, a Multisom é uma rede atacadista gaúcha com lojas no RS e em SC, e que mantém uma peculiaridade que atiça os colecionadores como nós: no centro das lojas há uma bancada com muitos títulos por preços promocionais, e, se você levar cinco deles paga um valor ainda menor. Ao contrário do que possa parecer em um primeiro momento, já que essas bancas de promoções nos fazem pensar que vamos encontrar apenas tranqueiras, ali você dá de cara com, por exemplo, a discografia inteira do Led Zeppelin, itens do Pantera, Miles Davis, Robert Cray, enfim, uma infinidade de itens. Como bem disso um amigo uma vez, a impressão que dá é que todos os CDs da loja, mais cedo ou mais tarde, vão figurar nessa promoção.


Pois bem, estava lá eu fuçando, e já com dois itens embaixo do braço (Miles Davis in Europe, do Miles, e Live at Felt Forum, do Eumir Deodato) quando dou de cara com algo que quase me fez cair de costas. Lá, no meio dos itens em promoção, havia um box do Black Sabbath, inglês, da gravadora Castle, chamado The Originals, e que trazia três discos do grupo (Headless Cross, Tyr e Dehumanizer) em formato mini LP. Como estava na bancada de promoção, o disco custava 42 reais. Como eu já tinha dois discos comigo, ele sairia 36 reais. 

Eu confesso que tive que me beliscar repetidas vezes, piscar os olhos, ver se eu realmente estava acordado e que o preço era realmente aquele. Chamei a vendedora, que, pra variar, não sabia de nada, e ela confirmou o preço. É claro que levei o box pra casa com um enorme sorriso no rosto. 

Eu tinha esses três discos do Sabbath em vinil, mas, desde que me desfiz dos meus LPs não os havia escutado novamente. Ouvi-los me fez reavaliar esses álbuns. Headless Cross é o mais fraquinho deles, mas mesmo assim traz algumas características de hard rock que me agradaram bastante. Tyr, que assim como Headless Cross também conta com o vocalista Tony Martin, é mais consistente, em grande parte pela presença do monstro Cozy Powell na bateria, além de trazer uma das mais belas capas que eu conheço. E Dehumanizer marca o retorno de Ronnie James Dio ao grupo, em 1992.

Estou até agora sem acreditar direito que encontrei esse box a um preço tão pequeno quanto esse. Olhar os discos no formato mini LP é gratificante, e ouvir a música que eles contém mais ainda. 

Se você também tem histórias como essa, escreva e conte pra gente. 


O show realizado por Renato Tribuzy e sua banda em novembro de 2005 em São Paulo foi um marco para o heavy metal brasileiro. Além de contar com o excelente repertório presente em seu álbum de estreia, o belo Execution, Tribuzy teve a participação mais do que especial de gigantes da música pesada mundial como Kiko Loureiro, Mat Sinner, Ralph Scheepers, Roland Grapow, Chris Dale, Roy Z e Bruce Dickinson. O resultado só poderia gerar um DVD excelente, e foi isso mesmo o que aconteceu.

Muito bem produzido, o vídeo capturou com grande competência toda a energia presente naquela noite histórica. O som, em 5.1, realça ainda mais a ótima performance da banda de Tribuzy, onde os principais destaques são o próprio vocalista (com seu timbre muito próximo ao de Andre Matos, porém um pouco mais agressivo) e os guitarristas Frank Schieber e Gustavo Silveira. O grupo detona em pedradas como "Aggressive" e "The Atempt".

O desfile de convidados impressiona, tanto pelos nomes quanto pela empolgação com que participam do show. Kiko Loureiro dá a aula habitual, com extrema classe, mostrando seu talento impressionante em "Forgotten Time". Mat Sinner sobe ao palco para cantar a ótima "Nature of Evil", onde mais uma vez Kiko se destaca nas seis cordas.

Substituindo Michael Kiske, que não se dispôs a encarar a viagem e tocar em nosso país, Ralph Scheepers coloca toda a sua personalidade na espetacular "Absolution", uma das melhores músicas do disco do Tribuzy. Na sequência, com Sinner assumindo o baixo, Renato sai de cena enquanto a sua banda toca uma versão muito boa de "Final Embrace" do Primal Fear, com Ralph quebrando tudo nos vocais, como de costume.

A festa continua com a ótima "Web of Life", com Roland Grapow ao lado de Tribuzy e sua gangue. Essa faixa é um metal melódico empolgante, daqueles que contagiam até quem adora falar que não curte o estilo. Em seguida a banda toca "Execution", que levanta o público com seu baita refrão, cantado junto pelo Credicard Hall.

E chega a hora mais esperada da noite. Bruce Dickinson, acompanhado de seus chapas Chris Dale e Roy Z, surge no palco tocando "Tears of the Dragon", para delírio dos fãs. Visivelmente relaxado e com algumas doses a mais na cabeça, Bruce se diverte muito e canta com todo o talento com o qual foi abençoado, principalmente em "Beast of the Light", canção que Tribuzy compôs tendo o vocalista do Iron Maiden em mente. Aliás, é impressionante perceber o quanto o alcance vocal de Bruce parece não ter limites, porque esse senhor acompanha Renato Tribuzy em pé de igualdade em uma canção com tons vocais pra lá de agudos. Um privilégio poder assistir isso ao vivo!

Nos extras há um interessantíssimo documentário onde Tribuzy conta todos os detalhes de sua carreira e de como surgiram as primeiras ideias que iriam culminar em Execution, dando inclusive detalhes de como rolaram os convites para cada um dos participantes.

Sem dúvida, Execution Live Reunion é um DVD recomendadíssimo para toda e qualquer pessoa que curta um heavy metal feito com grande paixão e talento. E mais: é um exemplo de que, quando acreditamos nos nossos sonhos, mais cedo ou mais tarde, inevitavelmente, eles se tornam realidade.


A carreira solo de David Gilmour tem apresentado uma qualidade que beira o sublime. Apesar de não tão conhecidos como seus trabalhos ao lado do Pink Floyd, seus discos estão encharcados de ótimas composições, que, em muitos aspectos, anteciparam e deram continuidade à sonoridade que Gilmour vem explorando no Pink Floyd desde que tomou as rédeas do grupo, a partir de A Momentary Lapse of Reason, de 1987.

Dono de um estilo único, que faz com que a audição de uma mera nota já identifique um solo seu, David Gilmour comprova essa constância criativa no DVD Remember That Night - Live at the Royal Albert Hall, lançado em 2007 e gravado na lendária casa londrina. Acompanhado por uma banda repleta de feras, onde destacam-se o guitarrista Phil Manzanera (Roxy Music), o recentemente falecido tecladista Richard Wright (outro ex-Pink Floyd), o saxofonista Dick Parry (chapa das antigas, com participações em álbuns clássicos como The Dark Side of the Moon e Wish You Were Here) e o baixista Guy Pratt (The Transit Kings, Bryan Ferry), Gilmour repassa sua carreira, tanto solo como ao lado do Pink Floyd, em um lançamento absolutamente impecável.

Extremamente bem produzido, entregando imagens belíssimas que valorizam ainda mais o mítico Royal Albert Hall, o DVD traz um repertório que une velhos cavalos de batalha a algumas faixas raramente executadas ao vivo. No primeiro bloco temos versões irretocáveis de clássicos como "Speak to Me", "Breathe", "Time" e "Wish You Were Here", enquanto o segundo segmento traz músicas como "Smile", "Fat Old Sun", "High Hopes" e "Echoes".

A classe de David Crosby e Graham Nash nos backing vocals de "On an Island", "The Blue", "Shine On You Crazy Diamond" e "Find the Cost of Freedom" (bela homenagem a capella de Gilmour à dupla, nessa faixa gravada originalmente pelo Crosby, Stills, Nash & Young) confere doses maiores de sensibilidade a canções que já eram originalmente belas. A participação do lendário Robert Wyatt (Soft Machine) tocando trompete em "Then I Close My Eyes" é tocante, com o veterano músico, hoje paraplégico, levando parte do público às lágrimas.

Um dos principais momentos do DVD ficou reservado para o seu final, com David Bowie subindo ao palco para cantar dois dos maiores clássicos do Pink Floyd, "Arnold Laine" e "Comfortably Numb". Bowie dá a sua interpretação característica a essas duas músicas, principalmente para "Comfortably Numb", fazendo-a soar renovada e mostrando o quanto essa canção, lançado originalmente no álbum The Wall, ainda soa forte e atual.

O disco dois de Remember That Night - Live at the Royal Albert Hall traz inúmeros e interessantíssimos extras, com destaque para a execução de faixas raras ao vivo, como "Wot´s ... Uh The Deal" (do álbum Obscured by Clouds, de 1972) e "Dominoes", canção de Syd Barrett presente no disco Barrett, lançado pelo crazy diamond em 1970. Há também o longo documentário Breaking Bread, Drinking Wine, mostrando os preparativos para o tour, onde um dos melhores momentos é o encontro entre David Gilmour e Roger Waters nos corredores do estúdio onde as bandas de ambos ensaiavam lado a lado, em uma coincidência divina e que mostra a evidente tensão entre os dois. O disco é completado por um making of de On an Island, entao último trabalho de Gimour, e que, aliás, marca presença com várias faixas no set list, mostrando o quão consistentes são suas composições.

Merece menção também o impecável tratamento gráfico do material, com embalagem digipack e luva protetora, além de encarte e legendas em português em todo o disco, desde o show até os extras.
Remember That Night - Live at the Royal Albert Hall é um DVD excepcional, daqueles itens que toda pessoa que gosta de música tem que ter em casa, em destaque na sua estante. Vale o investimento, e com sobras.


Comentários

  1. Até hoje eu me pergunto como foi que o Tribuzy conseguiu essa façanha em convidados e onde ele foi parar?
    Hora de usar o google kkkkk

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  2. o headless cross e o Tyr possuem o GRANDE cozy powell na bateria .. O headless cross e um disco excelente de hard rock , o TYr tem uma conexão maior com heavy metal e power metal ate mesmo pela temática

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