Review: Lamb of God – Lamb of God (2020)


Após um período de cinco anos sem material novo desde seu último álbum (VII: Sturm and Drang, de 2015), e com uma mudança na formação - que se mantinha a mesma desde o lançamento de seu debut, em 1999 - com a saída do baterista Chris Adler, substituído por Art Cruz (ex-Prong e Winds of Plague), o Lamb of God lança seu oitavo álbum  de inéditas, produzido por Josh Wilbur (que assinou o ótimo CD solo do guitarrista Mark Morton, de 2019).


Primeiramente marcado para ser lançado no dia 8 de maio, porém adiado para 19 de junho devido a contratempos em razão da COVID-19, o trabalho torna qualquer período de espera e insegurança compensados pela excelente qualidade que é entregue.


Logo de início, com a música “Memento Mori”, somos induzidos aos vocais melódicos alternando com explosões guturais, trabalho que o vocalista Randy Blythe realiza com excelência. Seguindo o tracklist de dez faixas arrebatadoras vem em seguida “Checkmate”, trazendo críticas contra um sistema capitalista sempre dividido em dois pólos, que pregam um contra ao outro porém possuem a mesma ganância e falsidade, o que nos obriga a escolher entre o suposto menos pior dos males. “Gears” continua o estudo sobre a atual sociedade em que vivemos, dessa vez com foco no consumismo desenfreado impulsionado por propagandas incentivando o desejo de querer ser relevante em mídias sociais.


“Reality Bath”, que começa com Blythe contando lentamente sobre o contexto das escolas nos Estados Unidos acompanhado de um instrumental brevemente mais acelerado, dedura as frequentes ocorrências de tiroteios em instituições de ensino e o medo ao redor dessa realidade. Uma das mais pesadas lírica e instrumentalmente do álbum.


“New Colossal Hate” chega em seguida firmando mais ainda a visão de mundo da banda, sobre o ódio constante presente na realidade em que vivemos. Diferente de outras músicas, não possui um foco específico e sim narra um contexto amplo de violência desenfreada.


Se afastando brevemente do resto das letras do álbum, “Resurrection Man” trata de temas também abordados anteriormente, em casos mais fantasiosos, sobre ocultismo e bruxaria, remetendo em alguns momentos a filmes clássicos de mortos-vivos de diversas épocas. Uma breve porém bem-vinda fuga do contexto maior do disco.


Outro grande destaque do trabaho são as participações especiais em “Poison Dream” e “Routes”. A primeira conta com o vocalista Jamey Jasta, da banda de metalcore Hatebreed, e a segunda traz o lendário vocalista Chuck Billy, do Testament. Em ambas as músicas o grupo todo contribui e se conecta de forma orgânica com a banda original dos dois convidados. Traduzindo: o Lamb of God caminha através de pontos elevados do metalcore com Jasta e do thrash metal com Billy sem parecer uma banda cover ou se distanciar demais a ponto de não soar como Lamb of God.


Na reta final vem a dupla “Bloodshot Eyes” e “On the Hook”. A primeira segue uma composição mais introspectiva do vocalista a respeito de uma relação cortada e a necessidade de deixar esse passado morrer. Apesar de soar clichê, a maneira que Randy Blythe escreveu consegue nos fazer perceber o quão profundo é o sentimento, além de ter um primoroso acompanhamento instrumental. Uma música com um enorme potencial de se tornar um clássico da banda.


Já a faixa final retorna ao tema da maior parte das letras do álbum, sobre a incessante violência e ódio presente em diversas formas no mundo em que vivemos. Uma música muito boa, mas que soa um pouco ofuscada em questão a anterior. Talvez se tivesse o lugar trocado com “Bloodshot Eyes” poderia soar mais conectada ao álbum, ou até mesmo se estivesse entre as primeiras seria uma das composições que mais traria energia ao disco e emergiria com ainda mais força o ouvinte dentro da experiência deste trabalho.


Com mais de vinte anos de carreira, o Lamb of God continua a mostrar porque é uma das bandas mais potentes e relevantes do metal extremo nas últimas décadas.


Por Leonardo Kammer

 


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