High Voltage: A Vida de Angus Young é a primeira biografia sobre o guitarrista do AC/DC a ser lançada no Brasil. Outras obras contando a história da banda australiana já foram publicadas por aqui, mas uma com o foco apenas no músico símbolo do grupo era algo inédito. Pois bem, a espera valeu a pena.
Escrita pelo jornalista australiano Jeff Apter, que
trabalhou durante anos na Rolling Stone daquele país e está habituado com o
universo do AC/DC, pois também atuou como ghost writer de três livros sobre o
quinteto – Dirty Deeds: My Life Inside and Outside of AC/DC, do baixista Cliff
Evans; Dog Eat Dog, de Michael Browning (manager da banda até Highway to Hell)
e It’s a Long Way, do fotógrafo Philip Morris, que clicou a banda milhares de
vezes -, High Voltage foi lançado na Europa e nos Estados Unidos em agosto de
2017 e ganhou uma edição brasileira no final de fevereiro de 2020. A versão
nacional foi publicada pela Best Seller, que faz parte do Grupo Editorial Record, tem tradução de Daniel Croce e vem com 280 páginas, capa brochura, orelhas com
informações adicionais e miolo com galeria de fotos.
Apter possui um texto fácil e fluído, e essa
característica, aliada à jornada épica de Angus e do AC/DC, torna a leitura
muito prazerosa. O livro inicia com a migração da família Young para a
Austrália no final dos anos 1960, fugindo da crise e do desemprego escocês, e
cobre toda a carreira do AC/DC até os primeiros meses de 2017, após a
conturbada turnê do último disco do grupo, Rock or Bust (2014). O título
original – High Voltage: The Life of Angus Young, AC/DC’s Last Man Standing –
retrata o momento que a banda vivia na época da publicação da obra. Vamos
relembrar: Malcolm Young foi diagnosticado com demência em 2014 e faleceu em
2017, sendo substituído por Stevie, sobrinho dos Young. Phil Rudd se envolveu
em diversos problemas, foi acusado de tráfico de drogas e tentativa de
assassinato, foi condenado e afastado da banda, com Chris Slade assumindo o seu
posto. Brian Johnson precisou abandonar a tour devido a problemas sérios de
audição, e o restante dos shows contou com Axl Rose como vocalista. E
Cliff Williams, na formação desde 1977, comunicou durante a turnê a sua aposentaria. Ou
seja, Angus foi o único que sobrou e se transformou literalmente no que o título da
obra afirma: o último homem em pé do AC/DC.
Além do relato do que ocorreu com o AC/DC disco a disco, o livro possui trechos especialmente marcantes. A morte repentina de Bon Scott no início de 1980 é o primeiro deles, justamente após a banda dar um passo decisivo para a conquista do mundo com o ótimo Highway to Hell, de 1979. O impacto da perda do vocalista na vida de Angus e na forma como o guitarrista assumiu de vez o protagonismo nos shows a partir desse momento (até então Scott dividia os holofotes nas apresentações) é relatado de maneira clara. O outro é a descoberta da doença de Malcolm Young, e esse ponto vem com revelações importantes. Malcolm já apresentava sintomas de demência durante a gravação e turnê de Black Ice (2008), algo que nunca tinha sido revelado. O alicerce do AC/DC, o cara que criou todos aqueles riffs imortais ao lado do irmão e cuja memória muscular fazia com que ele tocasse todos os clássicos da banda sem nem pensar, subitamente se viu forçado a repassar todo o setlist antes de cada apresentação para relembrar o que antes fazia parte do seu ser. Os relatos de Angus sobre o declínio do irmão são especialmente emocionantes.
A relação entre Angus e Axl também ganha destaque, com o
vocalista assumindo o seu lado fã e se prestando a auxiliar o AC/DC após a saída
forçada de Brian Johnson. Notório por seus atrasos em shows, Axl teve um
comportamento exemplar durante a sua passagem pelo AC/DC, sempre com uma postura extremamente profissional e conseguindo inclusive alterar o setlist da banda, trazendo de
volta clássicos que não eram tocados há anos. Outro ponto de destaque aqui: o
livro informa que todos os shows com Axl Rose nos vocais foram gravados para o
lançamento de um futuro material ao vivo, disco esse que até hoje não veio ao
mundo.
High Voltage: A Vida de Angus Young é um excelente livro
sobre um dos músicos e guitarristas mais celebrados de todos os tempos. A
construção da persona artística de Angus, vestido em um uniforme escolar com
um cigarro no canto da boca e chifrinhos sobre a cabeça, deu à luz a uma das
figuras mais icônicas da história do rock. E tudo isso está nas 280 páginas
deste livro, junto com recortes da sua sempre reservada vida fora dos palcos e
revelações sobre a sua personalidade.
Leitura obrigatória!
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Parabéns, Ricardo ! Vida longa !
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