Review: Judas Priest – Turbo (1986)


Lançado em 14 de abril de 1986, Turbo é um dos discos mais polêmicos do Judas Priest. Na época em que chegou às lojas, a chocante mudança de sonoridade motivou reações extremas como a queima dos álbuns anteriores da banda e a venda de coleções completas do grupo por fãs mais radicas. Enfim, o típico comportamento eternamente infantil de uma parcela de fãs de metal, que mesmo passando dos 40 anos seguem agindo como meninos mimados de 4 anos que não suportam serem contrariados.

Décimo álbum do Judas Priest, Turbo foi produzido por Tom Allom – que havia assinado a produção do trio de clássicos British Steel (1980), Screaming For Vengeance (1982) e Defenders of the Faith (1984) – e traz a banda apostando pesado nas guitarras sintetizadas, uma mania em meados da década de 1980. Fazendo uma comparação com outro disco lançado naquele mesmo ano, Somewhere in Time do Iron Maiden, a reação do público foi muito mais negativa em relação ao Judas do que ao Maiden. O disco da turma de Steve Harris também dividiu os fãs, porém a questão estava muito mais nos timbres e muito menos na qualidade das canções. Já em relação ao grupo de Rob Halford fica claro também uma diferença na abordagem das músicas, que soavam claramente mais acessíveis do que o metal tipicamente britânico dos discos anteriores.

A crítica caiu matando em cima de Turbo. Os reviews foram predominantemente negativos, e até hoje uma grande parte de fãs e jornalistas não engoliu o disco. Traçando um paralelo mais uma vez com o Iron Maiden, onde o estranhamento a Somewhere in Time se transformou ao longo dos anos em admiração – tanto que muitos fãs apontam o álbum como seu favorito da Donzela -, Turbo não viveu esse processo. O distanciamento do tempo aplacou as reações mais radicais ao trabalho e possibilitou uma perspectiva histórica que facilita a sua análise e assimilação, porém esses elementos não foram suficientes para alterar a opinião geral sobre o disco.

A ideia inicial da banda era lançar um álbum duplo que se chamaria Twin Turbos. No entanto, o grupo acabou descartando esse caminho e decidiu dividir as canções em dois discos. E como isso foi feito? As faixas consideradas mais acessíveis foram incluídas em Turbo, enquanto as canções mais agressivas e pesadas entraram no álbum seguinte, Ram it Down (1988). “Ram it Down”, “Hard as Iron”, “Love You to Death” e “Monsters of Rock”, todas presentes em Ram it Down, vieram das sessões de gravação de Turbo. As letras também apresentaram uma mudança profunda, com a banda deixando de abordar os temas recorrentes como ficção científica e contos de fantasia e investindo em assuntos mais cotidianos como histórias de amor e romance e temas urbanos e do dia a dia. Musicalmente, o disco bebe muito no pop orientado para os sintetizadores que era produzido em meados da década de 1980, com uma profusão de teclados e uma bateria que soa como se fosse eletrônica, além das guitarras sintetizadas, o que acabou formando um pacote totalmente diferente de tudo que o Judas Priest havia gravado até então.

Turbo recebeu Disco de Platina nos Estados Unidos em 1987, alcançando 1 milhão de cópias vendidas pouco após o seu lançamento. O álbum chegou à posição 33 na Inglaterra e ao número 17 na Billboard 200, a melhor performance da banda na parada norte-americana até 2005, quando Angel of Retribution, disco que marcou o retorno de Rob Halford após alguns anos fora do Judas, alcançou a 13ª posição. Foram lançados três singles – “Turbo Lover”, “Locked In” e “Parental Guidance” -, e a turnê gerou o segundo álbum ao vivo da banda, Priest ... Live!, que chegou às lojas em 28 de maio de 1987 e traz seis canções de Turbo no tracklist.


As músicas de Turbo montam um coleção de faixas irregular, e essa percepção é intensificada pela produção extremamente datada e com timbres artificiais – a bateria de Dave Holland, como já comentado, parece ser eletrônica durante todo o disco. Entre os destaques temos “Turbo Lover”, que apesar de tudo se transformou em um hit e é tocada até hoje pelo Judas. Outros destaques são a grudenta “Locked In”, “Private Property” (parente não tão distante da clássica “Legs”, do ZZ Top), a simpática e chiclete “Parental Guidance” e “Out in the Cold”, na minha opinião a melhor do álbum. No outro extremo, “Rock You All Around the World” é constrangedoramente fraca em se tratando de uma banda com o catálogo do Judas Priest, assim como “Hot Love”. A dupla “Wild Nights, Hot & Crazy Days” e “Reckless” fica no meio do caminho,  com bons riffs e linhas vocais fortes de Halford.

Entre os músicos o principal destaque está na performance de Rob Halford, que canta com a potência de sempre e molda a sua voz para o novo direcionamento musical da banda. Glenn Tipton e KK Downing exploram as possibilidades das guitarras sintetizadas de maneira competente, assim como Ian Hill e seu baixo. Já a bateria de Holland acaba um tanto soterrada na mixagem e em um timbre pra lá de antiquado.

O disco foi relançado em uma edição tripla em 2017, celebrando seus trinta anos. Essa versão vem vinte faixas extras, todas gravadas ao vivo durante um show realizado em Kansas City em 22 de maio de 1986.

Turbo é um trabalho desigual e que acaba muito prejudicado pela sua produção, que ao escolher seguir as tendências mais populares de meados dos anos 1980 condenou o álbum a uma sonoridade que soa deslocada no tempo. Mesmo assim algumas faixas sobreviveram ao tempo, principalmente “Turbo Lover” e “Out in the Cold”.


Comentários

  1. Ruim na época e péssimo a cada ano que passa. Um tremendo equívoco da banda. Deveria ser até excluído da discografia oficial. É simplesmente ridículo. Diferentemente do Somewhere in Time, do Iron Maiden, um dos melhores discos de todos os tempos, Turbo é uma porcaria, merecidamente criticado e esquecido.

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  2. Disco divertido, descontraído, ousado, ótimas letras, ótima interpretação, e uma banda entrosada. Podem reparar que todos os que criticam este disco, o fazem sem embasamento lógico. Disco que faz parte do contexto da época em que viviam, sem deixar de olhar pra frente. Semelhante ao que ocorrera na década anterior (70s), com o próprio Black Sabbath - explicado pelo próprio Tony Iommi, que sob o contexto daquela década, eles precisaram tentar ser ''modernos'', e gostavam disso. Toda banda de qualquer lugar da face deste planeta terra, gosta de compor coisas novas e diferentes. Seria extremamente entediante, e chato compor coisas iguais a vida toda. O mesmo com Judas na década 80s. (Já na década 90s, por exemplo, muitos como o Kiss, apostaram no formato Unplugged, da MTV.) O disco foi um sucesso, ganhou até um Disco de Ouro, da RIAA em 1986. a turnê ''Fuel for life tour'' com mais de 100 shows foi um sucesso, citados até no documentário ''Heavy Metal Parking Lot''. O Judas ficou ainda mais gigante. E tudo isso serviu de porta de entrada para mais fãs na banda e, ao próprio metal. Além disso, como sempre olharam pra frente desde o distante inicio de carreira, não há nada do que reclamar dessa fase 'turbinada' do Turbo.

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