Review: Legião Urbana – Dois (1986)


Segundo disco da Legião Urbana, Dois chegou às lojas em julho de 1986 e trouxe uma imensa evolução em relação ao álbum de estreia, lançado no início de janeiro de 1985, poucos dias antes da primeira edição do Rock in Rio. Considerado com justiça um dos melhores discos já gravados por uma banda brasileira, Dois foi o responsável por mostrar que a Legião poderia entregar muito mais do que havia mostrado em seu debut e antecipou caminhos que o grupo seguiria nos anos seguintes.

A banda chegou a cogitar o lançamento de um álbum duplo que se chamaria Mitologia e Intuição, mas a gravadora EMI vetou a ideia. Dois foi produzido por Mayrton Bahia, que assinaria todos os discos do quarteto até O Descobrimento do Brasil (1993). Fica evidente nesse segundo álbum a enorme influência não apenas do The Smiths na sonoridade da Legião Urbana mas também de nomes como The Cure e U2, e o distanciamento do tempo nos permite perceber que essa ascendência aconteceu com mais intensidade justamente aqui, sendo deixada de lado ou minimizada nos trabalhos posteriores.

Puxado por hits como “Eduardo e Mônica”, “Tempo Perdido” e “Índios”, o álbum vendeu mais de 900 mil cópias e se tornou um dos mais populares da discografia da Legião. “Daniel na Cova dos Leões” começa a audição com uma letra messiânica e abre mão do refrão, enquanto “Quase Sem Querer” vai por caminhos mais simples em uma canção predominantemente acústica e que se tornou um dos grandes hits da carreira da banda.

A habilidade narrativa de Renato Russo é demonstrada de maneira total em “Eduardo e Mônica”, a história de um casal que se apaixona apesar da diferença de idade. Um dos maiores clássicos da história do rock brasileiro, sem dúvida alguma. “Tempo Perdido” também fez história, e fechava o lado A do LP com uma claríssima influência de The Cure.

A segunda parte do álbum abre com “Metrópole”, que soa fora de lugar dentro da atmosfera extremamente lírica do disco. Ela ficaria melhor no LP seguinte, Que País é Este (1987). “Música Urbana 2” recoloca o álbum nos trilhos e é um blues acústico onde a voz profunda de Renato é o principal ingrediente, com o vocalista entregando uma das mais impressionantes interpretações de sua carreira. “Andre Doria” é uma das jóias perdidas do repertório da banda, enquanto “Fábrica” retoma o clima messiânico de “Daniel na Cova dos Leões”.

O álbum fecha com uma das mais famosas canções da Legião Urbana, a belíssima “Índios”, onde Renato canta sobre experiências de vida em uma letra com ar autobiográfico e que se transformou em um dos hinos eternos do grupo.

Dois possui algumas canções um tanto desnecessários como o interlúdio “Central do Brasil” e “Plantas Embaixo do Aquário”, porém a força de suas músicas é tão forte que soterra qualquer falha que o álbum possa ter. Um disco que ainda preserva grande parte de sua magia e apelo no ano em que completará 35 anos, atestando a perenidade que todo grande clássico possui.

Comentários

  1. Análise coerente e precisa. Tempo Perdido creio ser a canção biográfica de muitos que viveram a adolescência nos anos 80 e 90, é uma de minhas favoritas de todo o repertório do grupo. Fábrica, creio, ser uma perfeita canção de protesto, um clamor, onde os teclados dão uma cama legal à canção. É um álbum sensacional. Abraço.

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  2. Concordo com tudo, você só esqueceu da maravilhosa Acrilic on Canvas pra mim uma das melhores da Legião junto com Andrea Doria

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  3. Concordo. Um álbum belíssimo, daquelas obras-primas que surgem da genialidade e do espírito do tempo e marcam uma geração mesmo. Este, juntamente com o "V" são meus favoritos.

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