Review: Steven Wilson – The Future Bites (2021)


Steven Wilson afasta-se de vez do prog clássico em seu novo álbum. O líder, vocalista e guitarrista do Porcupine Tree explora um caminho totalmente novo em The Future Bites, sexto disco de sua carreira solo.

The Future Bites segue a tendência de seu antecessor, To the Bone (2017), no sentido de explorar canções mais diretas e com um onipresente apelo pop. Wilson eleva essa característica ao extremo no novo álbum, com a maioria das novas faixas variando entre dois e quatro minutos de duração. O resultado é o trabalho mais curto de sua carreira.

O que chamará a atenção dos fãs mais ortodoxos e provavelmente gerará críticas é o uso de uma instrumentação pouco convencional para um artista como Steven, profundamente identificado com o universo do rock progressivo. O disco traz poucas guitarras, suas batidas são predominantemente eletrônicas, camas de teclados estão em todo o lugar. Os vocais criam harmonias e arranjos, muitas vezes com o uso de vozes dobradas tanto de Wilson quanto da turma dos backing vocals.

Pessoalmente, a sonoridade de The Future Bites me remeteu às experimentações feitas pelo U2 na década de 1990, principalmente em Zooropa (1993), porém sem o clima denso e sombrio explorado pelos irlandeses, aqui trocado pela claridade de uma musicalidade predominantemente pop. Há também alguns elementos sutis de pós-punk e de rock alternativo, como se pode ouvir em “Follower” por exemplo, devidamente atualizados para os tempos em que vivemos.

Os destaques vão para a ótima “Self”, para o pop pegajoso de “12 Things I Forgot” e “Eminent Sleaze”, para o excelente prog eletrônico de “Personal Shopper” (a mais longa do CD, com quase dez minutos) e para a já mencionada “Follower”. Canções etéreas e atmosféricas como “King Ghost”, “Man of the People” e “Count of Unease” conduzem a audição por áreas mais contemplativas, intensificando o impacto do trabalho para quem se aventurar por ele.

É preciso mencionar o quão bem Steven Wilson está cantando em The Future Bites. Sua voz explora diversas possibilidades, do falsete à vocalizações emocionais e acessíveis, mostrando uma amplitude que até agora não havíamos escutado em nenhum de seus discos.

The Future Bites é um disco corajoso e diferente de um artista que está sempre olhando para a frente e procura nunca se repetir. Ainda que alguns fãs mais conservadores possam criticar o álbum, particularmente achei um trabalho que, mesmo que surpreenda pelos caminhos seguidos, mantém a qualidade única da música de Wilson.


Comentários

Postar um comentário

Você pode, e deve, manifestar a sua opinião nos comentários. O debate com os leitores, a troca de ideias entre quem escreve e lê, é que torna o nosso trabalho gratificante e recompensador. Porém, assim como respeitamos opiniões diferentes, é vital que você respeite os pensamentos diferentes dos seus.