Review: Vhäldemar – Straight to Hell (2020)


Nesse século tivemos a ascensão de uma avalanche de bandas trazendo novas sonoridades e elementos para o metal, o que revigorou o agora já quinquagenário e globalmente amado gênero musical, trazendo renovação para a cena e novos ouvintes. Em contrapartida, poucas bandas novas do que ao longo dos anos veio a ser chamado de "metal tradicional" tiveram destaque semelhante, deixando as referências desse estilo restritas a medalhões como Judas Priest, Accept, Saxon e, claro, Iron Maiden. Ainda assim, no início do século XXI veio da Espanha uma chama pela resistência do metal tradicional, mesclado com o lado mais rústico e pelo menos pra mim cativante do power metal, atendendo pela curiosa (e certamente imponente) alcunha de Vhäldemar.

Após cinco lançamentos espaçados num período de 15 anos, os guerreiros bascos voltaram com o lançamento de Straight to Hell. Utilizaram a estratégia de lançar singles para divulgar o álbum, causando ansiedade nos fãs com o lançamento das excelentes "Hell is on Fire" e "Alfterlife" alguns meses antes. Eis que em outubro de 2020 finalmente o álbum foi lançado e apenas 3 minutos e 26 segundos foram suficientes para iniciar o play com a excelente "Death to the Wizard!", que ganhou videoclipe gravado na cidade espanhola de Burgos. Cadenciada na medida certa, com um trabalho de guitarras alternado por melodias típicas do power metal dos anos 1990 e riffs que remetem ao clássico British Steel (1980) do Judas Priest, ambas gravadas por Pedro. J. Monge, que também foi responsável pela produção do disco. A faixa deságua em um refrão que tende a ser cantado a plenos pulmões nos shows ao vivo, aqui executado pelo vocalista Carlos Escudeiro, com uma voz que remete aos melhores anos de Andi Deris no Helloween.

O disco continua com "My Spirit", dessa vez com andamento um pouco mais rápido, a mesma dose de peso e um refrão que também se destaca, acompanhada por um solo marcante mas com duração no tempo certo, mantendo o padrão de canções diretas. A terceira faixa é a já citada "Alfterlife", que dá ainda mais peso e velocidade ao disco, o que causa a boa impressão de que o álbum vai crescendo ao longo da audição. A mais power metal do disco e certamente uma das melhores faixas, conta também com um poderoso refrão como o estilo pede e uma cozinha precisa, feito de um belo trabalho do baixista Raúl Serrano e do baterista Jandro.

Na sequência temos uma queda na velocidade, (mas de modo algum na qualidade), e a música título nos remete às clássicas marchas do heavy metal oitentista, acompanhada de mais um solo de destaque. "Damnation's Here" inicia com um riff que nos lembra os grandes momentos do Accept, porém com uma cozinha mais pesada e rápida, voltando as atenções do álbum mais uma vez para o power metal. Falar que o refrão se destaca aqui se torna repetitivo, mas realmente é um ponto muito positivo em todas as faixas. Dessa vez é acompanhada também por um solo de teclado ao final da música.

Em "Fear" temos um clima mais soturno, em mais uma marcha dessa vez comandada por uma excelente linha de baixo. Destaque para os vocais alternados entre Carlos Escudeiro e Pedro J. Monge, com uma letra que nos manda "encarar nosso maior medo", o que vem a calhar com a situação vivida mundialmente hoje em dia. "Hell is on Fire" foi primeiro single lançado e é a faixa mais hard rock do álbum, lembrando a roupagem mais pesada adotada por bandas como Europe na última década, mas com o teclado de Jonkol Tera sutilmente climatizando a faixa.

Agora vamos para a minha maior surpresa do disco: "Black Mamba". Enquanto era supreendido por um riff de guitarra 100% heavy metal oitentista, eu ficava intrigado pelo título da música … Seria uma homenagem ao inesquecível Kobe Bryant (também conhecido pela alcunha de Black Mamba)? E sim… temos uma banda de metal que não se restringe aos típicos temas medievais e épicos (mas não seria a carreira de Kobe um momento épico da história da humanidade?) e que fez questão de lembrar da vida de uma lenda da NBA. Se o disco já havia me cativado antes, essa certamente foi a cereja do bolo!

Para encerrar temos espaço para uma balada, "When It's All Over", com um clima dramático na medida certa e sendo a faixa com maior destaque do teclado. Fechando o disco a música mais power metal do trabalho, "Old King's Visions (Pt. VI)", a sexta parte da faixa presente desde o primeiro álbum dos caras, Fight to the End (2002), com riffs certeiros, uma avalanche de solos e um forte clima épico, encerrando com a verdadeira e autêntica assinatura do Vhäldemar.

Confesso que nos últimos anos andei me afastando das vertentes mais tradicionais do metal aqui citadas. Muito do que ouvi me soava um clichê de fórmulas insistentemente emuladas por bandas preocupadas em atingir esse mercado a todo custo, o que saturou o estilo, mas o que encontrei ao longo de Straight to Hell foi honestidade, vigor e amor a música. Nesse caso, o HEAVY METAL, que seguirá escrito em letras garrafais enquanto bandas como o Vhäldemar existirem.

Por Lucas Velame


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